Morávamos em uma cobertura com uma vista de tirar o fôlego, um lugar que Lucas projetou pessoalmente para nós.
Cada detalhe, desde a paleta de cores neutras até os móveis minimalistas, gritava sofisticação e conforto, um reflexo perfeito do homem com quem eu me casei.
Nossa vida era um conto de fadas moderno e eu me sentia a protagonista mais sortuda do mundo.
Claro, eu sabia que a vida real não era um livro. Eu mesma era a prova disso.
Em outra versão da minha história, eu não deveria estar aqui, vivendo essa felicidade.
Eu era para ser a vilã, a mulher amarga e invejosa que, cega pelo ciúme, destruiria a vida da verdadeira heroína, Sofia.
Mas eu mudei meu destino, ou melhor, eu o evitei completamente.
Desde que me entendi por gente, tive fragmentos de sonhos, vislumbres de uma vida que não era a minha, uma vida cheia de raiva e arrependimento, onde eu perdia tudo por causa de uma obsessão doentia.
Eu não entendia bem o que eram, mas o sentimento de pavor era tão real que me guiava.
Então, eu fiz o oposto de tudo que via nesses pesadelos.
Eu me concentrei na minha carreira, tratei todos com gentileza e, o mais importante, quando conheci Sofia, não senti nada além de um carinho imediato por sua doçura e carisma.
Sofia, uma influencer digital com um sorriso que iluminava qualquer ambiente, era a pessoa mais genuína que eu conhecia.
Nós nos tornamos melhores amigas instantaneamente.
Eu a ajudei a navegar pelo mundo da moda, apresentei-a a contatos importantes e, quando ela se apaixonou por seu atual marido, eu fui sua maior incentivadora.
Ver a felicidade dela me trazia uma alegria imensa, uma sensação de dever cumprido, como se eu estivesse consertando um erro cósmico que nem entendia direito.
E então, Lucas entrou na minha vida.
Ele parecia bom demais para ser verdade.
Um homem bem-sucedido, inteligente, atencioso e que me olhava como se eu fosse a única mulher no mundo.
Ele me cortejou com uma paciência e uma dedicação que me derrubaram.
Ele apoiava minha carreira, celebrava minhas conquistas e, nas noites em que a insegurança sobre aqueles "sonhos" me assombrava, ele me abraçava e dizia que nosso presente era a única coisa que importava.
"O passado não define quem você é, Ana. O que importa é quem você escolhe ser todos os dias" , ele me dizia, e eu acreditava nele.
Nosso amor era a base sólida da minha nova realidade, a prova final de que eu havia escapado do destino terrível que me aguardava.
Eu tinha um marido que me amava, uma carreira que decolava e uma melhor amiga que era como uma irmã para mim.
Eu tinha tudo.
E agora, eu tinha mais uma coisa.
Um segredo maravilhoso que crescia dentro de mim.
Olhei para o teste de gravidez positivo sobre a pia do banheiro pela décima vez, e as lágrimas de felicidade escorreram pelo meu rosto.
Um bebê.
Nosso bebê.
A materialização do nosso amor perfeito.
Eu mal podia esperar para contar a Lucas.
Imaginei seu rosto, a surpresa inicial dando lugar a um sorriso radiante, seus olhos brilhando de alegria.
Eu já podia sentir seus braços me envolvendo em um abraço apertado, nos girando pela sala em comemoração.
Guardei o teste em uma pequena caixa de presente e a coloquei na minha bolsa.
Eu contaria a ele esta noite, durante o jantar.
Seria o início do próximo capítulo perfeito da nossa vida perfeita.
A felicidade borbulhava dentro de mim, tão intensa e avassaladora que eu me sentia flutuando.
Nada, absolutamente nada, poderia estragar aquele momento.
Eu tinha certeza disso.