Quando o Amor Cega
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Capítulo 2

A ansiedade para contar a novidade a Lucas era quase insuportável, uma energia vibrante que me fazia querer pular e gritar.

Decidi que não podia simplesmente entregar a caixinha a ele.

Precisava ser um momento especial, uma surpresa que ele jamais esqueceria.

Pensei em preparar seu prato favorito, abrir uma garrafa de vinho (só para ele, claro) e colocar a caixinha ao lado de seu prato.

Mas parecia muito clichê.

Então, tive uma ideia melhor.

Lucas tinha um escritório em casa, seu santuário particular onde ele guardava seus projetos mais importantes e alguns itens pessoais.

Ele sempre dizia que aquele era o lugar onde seus sonhos tomavam forma.

Qual lugar seria mais perfeito para revelar nosso novo sonho?

Eu esconderia a caixinha em sua gaveta de projetos futuros, para que ele a encontrasse quando fosse guardar alguns papéis mais tarde.

Entrei no escritório na ponta dos pés, como se estivesse cometendo um pequeno crime delicioso.

O cheiro de papel e café pairava no ar, um cheiro que eu associava a ele.

A grande escrivaninha de madeira escura dominava o centro da sala.

Passei os dedos pela superfície lisa, meu sorriso se alargando.

Foi então que meus olhos foram atraídos para um canto da estante de livros.

Atrás de uma fileira de grossos manuais de arquitetura, havia uma caixa de madeira escura, com um fecho de metal que eu nunca tinha visto antes.

Não era grande, mas parecia pesada e antiga.

A curiosidade me picou.

Em todos os anos juntos, eu nunca soube da existência daquela caixa.

O que Lucas guardaria de forma tão escondida?

Peguei a caixa com cuidado.

Estava trancada.

Frustrada, comecei a procurar por uma chave, mas não encontrei nada.

Pensei em desistir, em colocar a caixa de volta e esquecer o assunto.

Mas algo me impedia.

Uma intuição estranha, uma sensação fria na boca do estômago que contrastava com a felicidade que eu sentia minutos antes.

Examinei o fecho.

Era um cadeado de combinação simples, de quatro dígitos.

Tentei nossa data de aniversário. Nada.

A data em que nos conhecemos. Nada.

Meu aniversário. O aniversário dele.

Nada funcionou.

Quando estava prestes a desistir, um pensamento me ocorreu.

A combinação que ele usava para o cofre do escritório: o aniversário de Sofia.

Eu sempre achei uma escolha estranha, mas ele dizia que era uma data fácil de lembrar e que, como ela era minha melhor amiga, era uma forma de homenagem.

Digitei os números sem muita esperança.

Clique.

O cadeado se abriu.

Meu coração deu um salto estranho.

Por um segundo, uma ponta de desconforto me atingiu, mas eu a afastei.

Bobagem. Devia ser uma coincidência.

Com as mãos um pouco trêmulas, abri a tampa da caixa.

Dentro, havia um único objeto: um diário de couro preto, com as páginas amareladas pelo tempo.

Um sorriso aliviado brotou em meus lábios.

Um diário!

Que romântico!

Talvez ele estivesse escrevendo sobre nós, sobre nossa história, para me dar de presente em algum aniversário.

A ideia me aqueceu por dentro, dissipando a estranheza de antes.

Ansiosa para ler suas palavras de amor, abri o diário na primeira página.

A caligrafia era a de Lucas, inconfundível.

Mas as palavras... as palavras não faziam sentido.

"Ano um do meu renascimento. O plano continua em curso. Casei-me com Ana, a vilã. Ela não suspeita de nada, acredita piamente na farsa que criei. É mais ingênua e tola do que eu me lembrava. Mas é um mal necessário. Preciso mantê-la sob controle, garantir que ela não chegue perto de Sofia, que não repita as atrocidades da vida passada."

Eu li a frase uma, duas, três vezes.

Meu cérebro se recusava a processar o que meus olhos viam.

Renascimento? Vilã? Farsa?

O ar pareceu ficar rarefeito.

Minhas mãos começaram a tremer violentamente, e um zumbido agudo preencheu meus ouvidos.

Continuei a folhear as páginas, desesperada, rezando para que fosse uma piada de mau gosto, um roteiro para um livro, qualquer coisa menos a verdade.

Mas cada página era um novo golpe, mais brutal que o anterior.

"Hoje, Sofia me ligou chorando por causa de uma briga com o namorado. Tive que inventar uma desculpa para Ana e sair correndo para encontrá-la. Ver Ana cuidando da casa, preparando meu jantar, me esperando com aquele sorriso estúpido no rosto, me enche de repulsa. Cada segundo ao lado dela é um lembrete do sacrifício que estou fazendo por Sofia. Meu verdadeiro e único amor."

"Ana me apresentou a um cliente importante hoje. Ela estava tão orgulhosa, achando que estava me ajudando. Mal sabe ela que só a mantenho por perto para vigiá-la. Preciso ter certeza de que sua inveja não irá despertar. Na vida passada, foi assim que começou. Com pequenos atos de 'ajuda' que se transformaram em uma teia de destruição. Não vou permitir que isso aconteça novamente."

"Sofia está tão feliz com o novo marido. Fui eu que os apresentei. Tive que engolir meu amor e meu ciúme e empurrá-la para os braços de outro homem, porque na vida passada, minha tentativa de ficar com ela só a levou à morte. Esta é a única maneira de mantê-la segura. E Ana... Ana é a chave. Enquanto ela estiver presa a mim, neste casamento falso, ela não pode machucar ninguém."

O diário caiu das minhas mãos, espalhando-se aberto no chão.

O quarto começou a girar.

Eu me apoiei na escrivaninha para não cair.

Trezentos e sessenta e cinco dias por ano, durante treze anos.

Cada sorriso, cada beijo, cada "eu te amo" .

Mentira.

Tudo uma mentira.

Ele não me amava. Ele me vigiava.

Ele não me via como sua esposa, mas como uma vilã em potencial, uma bomba-relógio que ele precisava manter desarmada.

E Sofia... minha melhor amiga, a pessoa que eu amava como uma irmã, era o pivô de toda essa farsa.

Ela não sabia de nada, eu tinha certeza, mas a dor da traição era dupla.

Ele me usou. Ele me manipulou. Ele construiu nossa vida sobre uma fundação de mentiras para proteger outra pessoa.

A felicidade que eu sentia momentos atrás se transformou em um ácido que corroía meu estômago.

A alegria pela gravidez... agora parecia uma piada cruel.

Levei a mão à barriga, não mais com carinho, mas com um horror gelado.

Este bebê... para ele, o que significaria?

O filho da vilã?

Mais uma corrente para me prender a ele?

Uma náusea violenta subiu pela minha garganta.

Corri para o banheiro do escritório e vomitei, esvaziando todo o meu ser, mas a amargura e a dor continuavam lá, presas na minha alma.

Olhei para o meu reflexo no espelho.

A mulher que me encarava de volta estava pálida, com os olhos arregalados de horror e as lágrimas escorrendo silenciosamente.

A mulher feliz e sortuda havia desaparecido.

Em seu lugar, havia apenas uma tola enganada.

A vilã.

            
            

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