Quando o Amor Cega
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Capítulo 3

Eu não sei por quanto tempo fiquei sentada no chão frio do escritório, com o diário aberto ao meu lado.

O sol já tinha se posto e a escuridão preenchia o apartamento, uma escuridão que parecia ter saído de dentro de mim.

O som da chave na porta da frente me fez pular.

Lucas.

Ele tinha chegado.

Meu corpo inteiro enrijeceu.

Um pânico gelado tomou conta de mim.

Eu deveria confrontá-lo? Gritar? Jogar o diário na cara dele?

Mas a força me abandonou.

Eu me sentia exausta, oca por dentro.

Com um esforço sobre-humano, levantei-me, fechei o diário, coloquei-o de volta na caixa, tranquei-a com a combinação do aniversário de Sofia e a escondi exatamente onde a encontrei.

Minhas mãos se moviam mecanicamente, meu cérebro em negação.

"Ana? Querida, cheguei!" a voz dele ecoou pela casa, a mesma voz que horas antes me trazia conforto e que agora soava como um veneno.

Respirei fundo, tentando compor meu rosto em uma máscara de normalidade.

Saí do escritório e o encontrei na sala, afrouxando a gravata.

"Oi, amor. Como foi seu dia?" minha voz saiu rouca, estranha.

Ele se virou para mim e sorriu, mas seus olhos pareciam cansados.

"Cansativo. Reuniões intermináveis."

Ele se aproximou para me beijar, e eu tive que lutar contra o impulso de recuar.

Seus lábios tocaram os meus e eu senti um arrepio de repulsa.

Fechei os olhos com força, fingindo que era um beijo de boas-vindas normal.

"Você parece pálida. Está tudo bem?" ele perguntou, passando a mão pelo meu rosto.

Sua preocupação, que antes me derreteria, agora parecia falsa, calculada.

Ele estava me vigiando. Verificando se a "vilã" estava dando algum sinal de descontrole.

"Só estou um pouco cansada," menti, forçando um sorriso. "Vou esquentar o jantar."

Fui para a cozinha, sentindo seus olhos nas minhas costas.

Cada passo era um esforço.

Eu peguei os pratos, o talher, a comida, tudo no piloto automático.

Minha mente era um turbilhão de imagens e frases do diário.

"Repulsa."

"Sorriso estúpido."

"Mal necessário."

Sentamos à mesa em silêncio por um tempo.

Eu mal conseguia engolir a comida.

O nó na minha garganta era muito apertado.

"Aconteceu alguma coisa no trabalho?" ele perguntou, quebrando o silêncio.

"Não, tudo normal," respondi, sem olhá-lo nos olhos.

Depois do jantar, ele abriu uma garrafa de vinho e se serviu de uma taça.

Depois de outra. E mais outra.

Ele bebia muito, mais do que o usual.

Ele parecia perturbado com alguma coisa, e uma parte doentia de mim se perguntou se tinha a ver com Sofia.

Mais tarde, na cama, ele se virou para mim, o hálito pesado de álcool.

Ele estava bêbado, os olhos vidrados.

Ele começou a falar, as palavras arrastadas, e meu coração gelou.

"Sofia... ela... ela é tão perfeita, Ana," ele murmurou, quase inconsciente. "Tão pura. Preciso protegê-la. De tudo e de todos."

O ar saiu dos meus pulmões.

Ele estava confessando.

Bêbado, sem filtros, a verdade que ele escondia com tanto cuidado estava vindo à tona.

"Eu faria qualquer coisa por ela," ele continuou, seus olhos fixos em um ponto no teto. "Qualquer coisa."

Uma coragem fria e amarga tomou conta de mim.

Eu precisava ouvir mais.

Precisava confirmar o pesadelo.

Com a voz mais suave que consegui, imitando o tom doce de Sofia, eu sussurrei:

"Lucas?"

Ele se virou para mim, os olhos se focando com dificuldade.

Um sorriso patético e apaixonado brotou em seus lábios.

"Sofia... meu amor..." ele sussurrou, estendendo a mão para tocar meu rosto. "Eu te amo tanto. Sempre vou te amar."

Naquele momento, algo dentro de mim se quebrou de forma definitiva.

A última fagulha de esperança, a última dúvida de que talvez eu tivesse entendido tudo errado, se apagou.

Era a verdade. Crua e devastadora.

Ele não me via. Ele via Sofia.

Ele não me amava. Ele amava Sofia.

Eu era apenas uma sombra, uma ferramenta.

Empurrei sua mão para longe com uma força que eu não sabia que tinha e saltei da cama.

Não consegui respirar.

Corri para o banheiro, tranquei a porta e deslizei até o chão, o corpo tremendo incontrolavelmente.

Os soluços vieram, violentos e silenciosos, rasgando minha garganta.

Eu abracei meus joelhos, tentando me manter inteira, mas eu estava em pedaços.

O castelo de cartas que era a minha vida tinha desmoronado, e eu estava soterrada sob os escombros de treze anos de mentiras.

            
            

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