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O relógio marcava 02:47 da madrugada quando Owen entrou no apartamento escuro e silencioso que usavam como esconderijo temporário. A adrenalina do roubo já havia se dissipado, mas o gosto da tensão ainda estava ali - amargo na garganta.
Logan estava encostado na bancada da cozinha, roendo um palito de dente, e ergueu o queixo assim que viu Owen.
- E aí? - murmurou. - A polícia ainda tá rondando a área da joalheria. Interrogaram metade dos funcionários até agora.
- A gerente já falou alguma coisa? - Owen perguntou, direto.
Vincent bufou do sofá, onde mexia impaciente nos próprios dedos cobertos de anéis.
- Ela não precisa falar nada. Aquela mulher viu demais. E você ficou tempo demais parado na frente dela, Owen. Sabe que isso foi um erro.
Owen não respondeu de imediato. Apenas lançou um olhar de gelo para Vincent.
- Ela estava em choque. Não gritou, não correu, não fez nada. Não é uma ameaça - disse ele, tirando o casaco e jogando sobre a cadeira. - Por enquanto.
- Por enquanto? - Vincent levantou, já alterando o tom de voz. - Você tá de brincadeira? A polícia tá no nosso rastro! Você devia ter deixado ela desmaiar e passado direto. Mas não... ficou ali feito um idiota, encarando ela!
Logan se colocou entre os dois rapidamente, empurrando Vincent com força no ombro.
- Chega. Isso não vai levar a nada. A gente precisa decidir o que fazer, e rápido.
Vincent se afastou, rindo de forma cínica.
- Eu já decidi. Eliminamos ela. E a amiga também, só por garantia.
Owen se virou de uma vez, os olhos faiscando.
- Se tocar nela, eu mesmo acabo com você, entendeu?
Vincent se aproximou lentamente, os olhos semicerrados e aquele sorriso debochado nos lábios. Ele parecia se alimentar da tensão que pairava no ar, e não perderia a chance de provocar.
- Você tá mesmo pirando, Owen... - começou, o tom quase divertido. - Tá pensando demais com a cabeça de baixo e esquecendo o que realmente tá em jogo aqui.
A provocação cortou o ar como uma lâmina.
Owen se virou devagar, o maxilar travado, os olhos escurecidos por uma raiva contida. Ele caminhou até Vincent com passos lentos, mas certeiros, parando a poucos centímetros dele.
- Repete isso. - A voz saiu baixa, fria, quase assassina.
- Eu disse que você tá deixando um rabo bonito bagunçar a missão. - Vincent nem piscou. - Acha que ninguém percebeu o jeito que você olhou pra ela? Você hesitou, Owen. E isso pode custar caro.
O punho de Owen voou antes mesmo que Logan pudesse intervir. Acertou Vincent no rosto com força, fazendo-o cambalear para trás e cair sobre a poltrona.
Logan soltou um palavrão, indo na direção dos dois, mas Owen ergueu a mão, sinalizando que estava sob controle.
Vincent passou a língua no canto da boca, limpando o sangue com o dorso da mão. Riu, como se estivesse se divertindo.
- Aí está o Owen que eu conheço... frio, violento, irracional quando alguém toca onde dói. Só que agora, irmão, você tá exposto. Tudo por causa de uma loirinha que nem sabe quem você é.
Owen se abaixou, pegando o rosto de Vincent com uma mão firme e o obrigando a encará-lo.
- Eu não hesitei. Eu escolhi. E foi a melhor decisão que você vai ver na sua vida, Vincent. Mas se abrir essa boca de novo pra falar dela desse jeito... vou quebrar muito mais que seu nariz.
Soltou o queixo dele e se ergueu, respirando fundo.
Logan observava os dois em silêncio, os braços cruzados, os olhos atentos.
- Chega de briga de ego. O plano tá ameaçado, e vocês dois sabem disso. - Ele olhou para Owen. - Vai vigiar a garota? Então comece logo. Antes que ela comece a lembrar demais.
Owen apenas assentiu e saiu, pegando o casaco. A porta se fechou atrás dele com um estrondo seco.
Vincent riu baixinho, jogado na poltrona, e murmurou:
- Já era pra esse aí. Tá ferrado... e nem percebeu.
O silêncio do apartamento era incômodo.
Owen estava jogado no sofá, a camiseta preta amarrotada, o casaco jogado sobre a poltrona. Do lado, uma garrafa de uísque meio vazia e o celular aceso sobre a mesa. As palavras de Vincent ainda ecoavam em sua cabeça.
"Você tá pensando demais com a cabeça de baixo... e esquecendo o que tá em jogo aqui."
Owen franziu o cenho e tomou mais um gole do copo. O líquido queimou a garganta, mas não era suficiente pra calar aquela voz. Ele odiava admitir, mas Vincent tinha um ponto. Ele realmente havia hesitado naquela manhã. Não foi só o tempo que perdeu encarando a garota. Foi o que sentiu. Algo que não fazia sentido - nem tinha permissão pra existir na vida que levava.
Ele não era do tipo que olhava duas vezes. Não era do tipo que se prendia. E definitivamente não era do tipo que ficava obcecado com uma mulher que mal conhecia.
Mas ali estava ele. Pensando nela.
Ava Lancaster.
Tinha conseguido o nome mais rápido do que imaginava. Funcionária exemplar, gerente da joalheria havia dois anos. Discreta. Solteira. E aparentemente inofensiva.
Owen pegou o celular de novo e deslizou pelas imagens tiradas à distância. Uma delas mostrava Ava saindo do prédio onde morava, em um bairro residencial de classe média. Usava um casaco bege, os cabelos loiros presos num coque apressado, e carregava uma bolsa simples. Nada de joias, nada de frescuras. Ela passava despercebida com facilidade.
E ainda assim...
Havia algo nela que não deixava Owen em paz. Aqueles olhos.
O olhar dela naquela manhã não era só de medo. Era de reconhecimento. Não do rosto, claro - eles estavam mascarados - mas do instinto. Como se ela sentisse algo nele. Como se tivesse enxergado alguma parte que nem ele sabia que ainda existia.
Por isso Vincent queria eliminá-la.
Porque olhos assim não esquecem.
Mas Owen não ia deixar isso acontecer. Não ainda. Ele precisava saber se Ava sabia algo. Precisava chegar mais perto - e entender o porquê diabos ela estava mexendo tanto com a cabeça dele.
Pegou o celular de novo. Mandou uma mensagem codificada para o grupo privado da gangue:
"Vou ficar de olho nela. Não se aproxima. Não sem meu sinal."
Depois, se levantou, pegou o casaco e jogou sobre os ombros.
Se Vincent achava que ele estava pensando com a cabeça errada... talvez estivesse mesmo.
Mas Owen nunca deixava um fio solto.
E Ava Lancaster agora era o nó mais apertado da sua teia.