/0/16466/coverbig.jpg?v=66b37eb8b1c7502e6e58caeab2c07925)
O café esfriava lentamente na xícara branca enquanto Helena olhava pela janela do quarto. A cidade era pequena, mas parecia feita de detalhes grandes: o som dos sinos às sete, o cheiro de pão que vinha da padaria da esquina, as roupas penduradas nas janelas como bandeiras de uma paz doméstica.
Ela ainda pensava no homem da livraria. No modo como ele não sorria - mas também não parecia triste. Era um silêncio cheio. Como um livro que você ainda não começou, mas já sabe que vai te mudar.
Abriu o livro que ele lhe entregara. A dedicatória na primeira página estava escrita à mão:
"Per chi cerca più silenzio che parole."
(Para quem procura mais silêncio do que palavras.)
Era isso que ela queria. Que alguém entendesse que às vezes o que falta não é conversa, é presença. Que o mundo já grita demais, e o coração só pede um pouco de espaço.
Luca - ela descobriu o nome na contracapa - tinha olhos que não pediam nada, mas entregavam tudo. Helena lembrou do modo como ele a olhou. Não foi invasivo, nem romântico. Foi... humano. Como se dissesse: "Eu também estou tentando."
Ela pegou o caderno de anotações e escreveu uma frase no meio da página, sem título, sem explicação:
"Às vezes, a vida serve café frio para ensinar a gente a aquecer o que importa por dentro."
Dobrou a página. Sorriu.
A cidade continuava do outro lado da janela, mas ela já estava em outro lugar. Um lugar onde o tempo não corria, apenas caminhava com calma, como ela agora.
E lá no fundo da alma, algo pequeno começava a se acender.