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Fiquei sob o jato gelado do chuveiro, deixando a água fria chocar meu sistema. Eu precisava pensar. Precisava ter clareza.
A água escorria por mim, mas não conseguia lavar a imagem deles no hospital, ou o som da voz de Dante a chamando de sua esposa.
Saí, enrolei uma toalha em mim e enviei uma única mensagem de texto.
`Júlio. Preciso que você descubra tudo o que puder sobre Dante Vargas. Agora.`
Meu contato era Júlio Barreto, um acadêmico brilhante com quem fiz parceria durante minha pesquisa de pós-graduação em Stanford. Ele era leal, íntegro e me devia um favor.
Ele não respondeu por texto. Ele ligou.
"Ariela. Está feito."
"O que está feito?", perguntei, meu coração batendo forte.
"Ele se divorciou de você há seis meses", a voz de Júlio era sombria. "A papelada foi arquivada em um pequeno cartório de comarca. Ele usou uma procuração que você assinou antes da sua cirurgia. Parece legal, mas cheira mal. Ele se casou com Clara Gomes uma semana depois."
Afundei no chão, o telefone ainda pressionado na minha orelha. Agarrei meu estômago enquanto uma onda de dor, aguda e visceral, me torcia por dentro.
Comecei a rir. Depois comecei a chorar. Os sons se misturaram em uma sinfonia horrível de luto. Uma piada. Minha vida inteira era uma piada. Eu não tinha sido apenas traída. Eu tinha sido apagada. Substituída.
"Ariela? Você está bem? Fale comigo", a voz de Júlio estava tensa de preocupação.
"Estou bem", menti, minha voz rouca. "Júlio? Aquela oferta que você fez há um tempo. Ainda está de pé?"
"A proposta de casamento?" Ele parecia chocado. "Você está falando sério?"
"Sim", eu disse, uma calma estranha se instalando sobre mim. "Estou falando sério. Vamos nos casar."
Não havia mais nada para mim aqui. Esta cidade, esta vida, não era mais minha. Era hora de partir.
Passei os dias seguintes em um turbilhão de atividades. Contatei meus advogados, meus consultores financeiros. Comecei o processo de mover meus ativos, vender minhas ações, cortar todos os laços que me prendiam a este lugar.
Dante e Caio mantiveram sua farsa, enviando-me mensagens cheias de declarações vazias de amor e preocupação. Eu sabia que eles estavam passando cada momento livre com Clara, cuidando dela, protegendo-a.
Uma noite, caí em um sono exausto, apenas para ser puxada para um estado nebuloso e desorientado. O ar estava denso com o cheiro de lavanda, muito forte, enjoativo. Eu podia ouvir vozes, mas meus membros pareciam de chumbo. Eu não conseguia me mover. Não conseguia nem abrir os olhos.
"Ela vai acordar?" Era a voz de Caio, tingida de ansiedade.
"Não", a voz de Dante era firme, fria. "Este incenso é poderoso. Vai mantê-la desacordada por alguns minutos. É inofensivo."
Senti ele pegar minha mão. Estava mole em seu aperto. Ele habilmente pressionou meu polegar em uma almofada de tinta, depois em um pedaço de papel.
"Isso deve resolver", disse ele, com uma nota de satisfação na voz. "Assim que esta declaração for a público, vai acabar com todos os rumores sobre a Clara."
Caio suspirou. "Não acredito que isso está acontecendo. No momento em que ela volta, essas histórias começam a se espalhar online. Tem que ser ela, Dante. Ela está por trás disso."
Dante soltou uma risada curta e desdenhosa. "Não. Este não é o estilo da Ariela. Se ela quisesse vingança, ela queimaria minha empresa até o chão. Ela não jogaria esses joguinhos mesquinhos. Mas não importa quem começou."
Sua voz baixou, tornando-se dura e ameaçadora.
"A Clara está grávida. Isso é tudo o que importa. E se eu descobrir que a Ariela, ou qualquer outra pessoa, está tentando machucá-la ou ao meu filho... eu não serei gentil."
Eu fiquei ali, paralisada, prisioneira em meu próprio corpo, ouvindo o homem que eu amava me ameaçar para proteger a mulher que havia roubado minha vida. Minha própria figura de irmão estava ao lado, acreditando que eu era a vilã.
O mundo não estava mais apenas rachando. Tinha sido pulverizado em pó, e eu estava enterrada sob ele.