O Violino Dela, a Vingança Dele
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Capítulo 2

Na manhã seguinte, Anabela fez uma pequena mala. Ela estava indo embora. Não conseguia ficar naquela casa nem mais um minuto. Quando chegou à porta, a voz de Joca a deteve.

"Onde você vai?"

Ele estava no topo da escada, já vestido em um terno elegante. Ao seu lado, Evelyn agarrava seu braço, os olhos vermelhos e inchados.

"Estou indo embora, Joca."

"Não seja ridícula", disse ele, descendo as escadas. "Você está apenas emotiva." Ele parou na frente dela. "Antes de ir, Evelyn precisa de uma coisa."

Anabela o encarou. "O quê?"

"Seu violino", disse Evelyn, sua voz um sussurro frágil. "Aquele que o Joca te deu. É tão lindo. Eu só quero segurá-lo."

O Guarneri. Sua posse mais preciosa. O símbolo do amor dele, agora manchado.

"Não", disse Anabela, sua voz firme.

O rosto de Evelyn se desfez. Lágrimas escorreram por suas bochechas. "Me desculpe", ela chorou, escondendo o rosto no peito de Joca. "Eu só... estou tão triste, e a música ajuda."

Os braços de Joca se apertaram ao redor de sua irmã. Ele fuzilou Anabela por cima da cabeça de Evelyn, seu rosto uma nuvem de fúria.

"Olha o que você fez", ele sibilou. "Ela é frágil."

Ele acalmou Evelyn, acariciando seus cabelos. "Está tudo bem, querida. Eu estou aqui." A ternura em sua voz foi um golpe físico para Anabela. Ele nunca havia falado com ela daquele jeito, nem mesmo no começo.

"Peça desculpas a ela", ordenou Joca, seus olhos como lascas de gelo.

Anabela riu. Foi um som quebrado e sem humor. "Pedir desculpas? Pelo quê? Por querer manter o que é meu?" Ela se lembrou que na semana passada, encontrou Evelyn em sua sala de música, com as mãos em todas as partituras de seu próximo recital. As páginas estavam manchadas com o que parecia ser geleia.

Quando Anabela a confrontou, Evelyn caiu em prantos, alegando que só queria se sentir mais perto da música. Joca minimizou. "É só papel, Anabela. Posso te comprar cem cópias novas."

"Estou indo embora", repetiu Anabela, virando-se para a porta.

"Se você sair por essa porta, o casamento acaba!", ele ameaçou.

"Você acha que eu me importo?", ela retrucou. "Foi você que se recusou a casar comigo por anos! Era eu quem implorava!"

Ele agarrou o braço dela, seus dedos cravando em sua pele. "Você não vai a lugar nenhum."

Ela encontrou o olhar dele e, pela primeira vez, não sentiu nada. Nem amor, nem medo, apenas um vazio vasto e frio. O homem que ela amava se fora, substituído por este monstro.

Seus olhos se arregalaram com a expressão fria dela, e seu aperto se intensificou. A raiva contorceu suas belas feições.

"Tire o vestido", ele rosnou.

"O quê?"

"O vestido. Eu comprei para você. Tudo o que você tem, eu comprei para você. Tire. Você pode ir embora, mas vai sair sem nada."

Ele estava tentando humilhá-la, quebrá-la. Ele gesticulou para as duas empregadas que observavam silenciosamente da porta da cozinha. "Ajudem-na."

As empregadas, com os rostos pálidos, moveram-se em sua direção. Ela não lutou. Ficou parada enquanto elas arrancavam o vestido de grife de seu corpo, deixando-a em sua simples roupa íntima. O ar frio do hall de entrada mordia sua pele.

Evelyn ofegou, uma mão teatral voando para a boca. "Oh, Joca, olhe! A cicatriz dela!"

Anabela instintivamente cruzou os braços sobre o peito, tentando esconder a linha irregular e pálida que ia da clavícula ao ombro. Uma antiga lesão de um acidente de carro anos atrás. Quase acabou com sua carreira. O dano permanente no nervo significava que ela nunca poderia tocar por mais de uma hora sem dor. Era sua vergonha secreta, uma vulnerabilidade que ela só havia mostrado a Joca.

"Cubra isso", disse Joca, sua voz carregada de nojo. Ele não olhou para ela, mas para Evelyn. "Está incomodando ela."

A última esperança de Anabela se estilhaçou. Ele sabia o que aquela cicatriz representava. Os meses de fisioterapia, o medo de que ela nunca mais tocasse. Ele estivera lá, segurando sua mão, dizendo que ela era linda, com cicatriz e tudo.

Agora, ele olhava para aquilo - para ela - como se fosse algo grotesco.

"Sabe, Evelyn", disse Anabela, sua voz perigosamente calma. "Esta cicatriz é de um acidente. É parte da minha história. Diferente das cicatrizes de algumas pessoas, que são autoinfligidas para chamar a atenção." Ela olhou deliberadamente para as linhas finas e nítidas nos pulsos de Evelyn, linhas que estavam sempre em exibição.

Os olhos de Evelyn se arregalaram. Ela soltou um pequeno grito e seus olhos reviraram na cabeça enquanto ela desabava no chão.

"Evelyn!", Joca rugiu. Ele correu para o lado de sua irmã, pegando-a nos braços. Ele olhou para Anabela, seus olhos queimando com um ódio tão puro que a queimou.

"Você fez isso", ele cuspiu. "Você vai pagar por isso."

Ele carregou Evelyn pela grande escadaria, deixando Anabela de pé, sozinha e seminua no hall frio e cavernoso.

            
            

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