Deixada para Morrer, Encontrada pelo Amor
img img Deixada para Morrer, Encontrada pelo Amor img Capítulo 3
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Capítulo 3

Horas depois, a fechadura clicou novamente. Um dos guardas abriu a porta, o rosto impassível. "O Sr. Menezes disse que você pode sair agora."

Minhas pernas estavam rígidas, meu corpo tremendo com os tremores do terror. Eu me sentia esvaziada, minha garganta arranhada por gritos silenciosos. Tropecei escada acima, meus olhos piscando contra a luz repentina, meu corpo doendo como se eu tivesse sido espancada.

A cobertura estava silenciosa. Entrei na suíte principal, desejando o simples conforto de um banho, de lavar o cheiro de umidade e medo.

E então eu a vi.

Kiara estava em frente ao espelho de corpo inteiro, virando-se de um lado para o outro. Ela estava usando o vestido da minha mãe.

Era um Dior vintage, um vestido de seda atemporal dos anos 50. Era a única coisa que eu tinha da minha mãe biológica, uma mulher que eu nunca conheci. Era inestimável, não por causa do estilista, mas por causa do fantasma da mulher que o usou. Era minha posse mais sagrada.

Minha respiração ficou presa na garganta. Uma onda de raiva pura e quente me invadiu, queimando o medo e o esgotamento.

"O que você está fazendo?", minha voz era um rosnado baixo.

Kiara se virou, um olhar pequeno e assustado em seu rosto. "Ah, Aurora. Você saiu." Ela alisou a seda. "Não é lindo? Encontrei no fundo do armário. Espero que não se importe."

"Importar?", eu avancei em sua direção, meus olhos fixos no vestido. "Tire isso. Agora."

Ela fingiu um olhar magoado. "Mas é só um vestido. O Caio disse que eu podia pegar emprestado o que quisesse. Ele disse que você não se importaria."

"Ele estava errado", eu disse, minha voz tremendo de fúria. Eu podia ver que ela sabia exatamente o que estava fazendo. Havia um brilho de triunfo em seus olhos que ela não conseguia esconder completamente.

"Saia do meu vestido."

Ela fez beicinho, o lábio inferior tremendo. "Você está sendo má. Eu só queria me sentir bonita."

Enquanto falava, ela deu um passo para trás, prendendo deliberadamente o tecido delicado na quina da penteadeira. Ouvi o som repugnante da seda rasgando. Um rasgo longo e irregular agora corria pela lateral da saia.

Meu mundo ficou vermelho.

Antes que eu pudesse pensar, minha mão voou e acertou sua bochecha. O som do tapa ecoou na sala silenciosa.

Kiara ofegou, seus olhos se arregalando em choque teatral. Ela levou a mão ao rosto, lágrimas brotando instantaneamente.

"Você me bateu", ela sussurrou.

"Você fez isso de propósito", eu sibilei, meus olhos no vestido arruinado. O rasgo era uma ferida mortal.

Ela se inclinou para perto, sua voz caindo para um sussurro venenoso, o ato de vítima momentaneamente esquecido. "Claro que fiz. Não passa de um trapo velho. Caio pode te comprar cem novos." Seus lábios se torceram em um sorriso de escárnio. "Ele vai me comprar cem mais."

"O que está acontecendo aqui?"

A voz de Caio soou da porta. Ele tinha entrado bem a tempo de ver as lágrimas de Kiara e a marca vermelha florescendo em sua bochecha.

Ele avaliou a cena em um único olhar: eu, parada ali tremendo de raiva; Kiara, soluçando piedosamente.

"Aurora, que diabos você fez?", ele rugiu, correndo para o lado de Kiara.

"Ela me bateu, Caio", Kiara chorou, enterrando o rosto em seu peito. "Tudo o que eu fiz foi experimentar um vestido, e ela me atacou."

Ele a abraçou, seus olhos ardendo para mim. "Você enlouqueceu? Olhe para ela, ela está apavorada com você."

"Ela rasgou o vestido da minha mãe!", eu gritei, minha voz quebrando. "Olhe para ele! Ela fez de propósito!"

Apontei para o vestido, para o rasgo feio que parecia um rasgo na minha própria pele. "Caio, você sabe o que esse vestido significa para mim. Você prometeu que o manteria seguro."

Kiara, sempre a mestra da manipulação, espiou por trás do ombro de Caio. "Sinto muito", ela choramingou. "Eu não sabia que era especial. Vou tirá-lo agora mesmo."

"Não", disse Caio, a voz firme, o braço apertando-a. "Você não vai fazer nada disso. Você está linda nele."

Ele olhou para mim, o rosto frio e desdenhoso. "É um pedaço de tecido, Aurora. Acalme-se." Ele enfiou a mão no bolso, tirou a carteira e jogou um cartão de crédito preto na cama.

"Aqui. Vá comprar um novo. Compre dez. Eu não me importo. Apenas pare de agir como uma criança."

Eu olhei para o cartão de crédito, depois para o rosto dele. A crueldade casual de seu gesto roubou o ar dos meus pulmões.

Anos atrás, quando lhe mostrei o vestido pela primeira vez, ele traçou as costuras delicadas com um dedo reverente. Ele ouviu enquanto eu lhe dizia que era tudo o que eu tinha da minha mãe. Ele havia prometido construir uma caixa climatizada para ele, para protegê-lo para sempre. Ele entendia que seu valor não estava em dinheiro, mas em memória.

Agora, ele estava jogando dinheiro em mim como se isso pudesse consertar o buraco que ele e Kiara haviam rasgado na minha vida.

Ele me deu as costas completamente, sua atenção focada apenas em Kiara. "Vamos, querida. Vamos tirar você daqui."

Enquanto ele a levava para fora do quarto, eu podia ouvi-lo murmurando para ela, sua voz suave e reconfortante. "Não se preocupe, eu te levo para fazer compras. Vamos comprar um guarda-roupa novo inteiro para você, tudo o que você quiser."

Fiquei sozinha na sala silenciosa, com o vestido arruinado e o cartão de crédito preto na cama. Um monumento às suas promessas quebradas.

Caí no chão, meu corpo sacudido por soluços que não tinham som. Não era mais apenas sobre o vestido. Era sobre cada promessa, cada "eu te amo" sussurrado, cada sonho compartilhado.

Ele havia pegado todos eles e os incendiado.

Lentamente, me levantei. Fui até a cama, peguei o cartão de crédito e, com uma onda de fúria fria e clara, o quebrei ao meio. O estalo agudo foi o som do meu coração se partindo pela última vez.

Ele não era apenas um mentiroso. Ele era um monstro. E eu cansei de ser sua vítima.

            
            

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