O Encontro #100 foi notícia nacional. Caio havia alugado todo o jardim botânico, enchendo-o com milhares de luzes de fada. Um quarteto de cordas tocava ao fundo. Era uma cena arrancada de um romance, transmitida ao vivo em todas as suas plataformas de mídia social.
Assisti na pequena tela do hospital enquanto Caio, vestido com um smoking preto, se ajoelhava. Kiara, em um vestido branco esvoaçante que a fazia parecer etérea, estava diante dele, as mãos sobre a boca em uma imagem perfeita de deleite chocado.
O jardim estava cheio de hortênsias brancas, não de flores silvestres. Um detalhe que revirou meu estômago. Ele se lembrou das alergias dela, mas esqueceu minha flor favorita.
"Kiara", disse ele, a voz embargada de emoção, transmitida para milhões. "Esta jornada com você foi uma jornada de volta a mim mesmo. Eu estava perdido sem você."
Os olhos de Kiara se encheram de lágrimas enquanto ela o olhava, uma imagem de adoração.
Era um sonho que eu já tive. Ele me prometeu um pedido de casamento sob as estrelas, cercado por gardênias, minhas favoritas. Ele me prometeu um futuro que agora estava oferecendo a outra mulher em um palco nacional.
As promessas eram cinzas na minha boca.
Desliguei o celular, o silêncio do quarto do hospital me pressionando. Eu estava sozinha, cuidando de um braço quebrado e um coração estilhaçado, enquanto o homem que me colocou aqui celebrava seu amor por outra pessoa.
No dia em que recebi alta, o motorista de Caio estava lá para me buscar. Não o Caio. Ele estava, o motorista me informou, "se preparando para um evento muito importante esta noite."
Ele me levou de volta para a cobertura. No momento em que entrei, eu soube. O ar estava denso com o cheiro de champanhe e perfume caro. Garçons se apressavam, e um zumbido baixo de conversa vinha da área de estar.
Caio apareceu, me puxando de lado. "Aurora, graças a Deus você está aqui. Preciso que você se troque. Estamos tendo uma pequena reunião."
"Uma festa?", perguntei, minha voz vazia.
"Apenas alguns amigos e parceiros de negócios", disse ele, forçando um sorriso. "Para comemorar."
"Comemorar o quê?"
Ele teve a decência de desviar o olhar. "A recuperação total da Kiara."
Eu queria ir embora. Eu queria correr. Mas a própria Kiara apareceu, bloqueando meu caminho. Ela estava radiante, o braço entrelaçado no de Caio, um gesto possessivo que marcava seu território.
"Aurora! Que bom que você pôde vir", disse ela, a voz escorrendo falsidade. "Não poderíamos ter essa comemoração sem você."
Olhei de seu rosto triunfante para os olhos suplicantes de Caio. Eu estava presa.
"Tudo bem", eu disse, minha voz fria. Passei por eles, de cabeça erguida, e fui para o meu quarto.
Das margens da festa, eu os observava. Eles eram o casal perfeito, misturando-se com os convidados, rindo, se tocando. Ele sussurrava algo em seu ouvido, e ela ria, inclinando a cabeça para trás de uma forma que era ao mesmo tempo inocente e sedutora. Ele ajustava a alça do vestido dela, um gesto casual e íntimo que dizia muito. Ele nunca tinha feito isso por mim em público. Ele sempre manteve uma certa distância, uma propriedade profissional. Com ela, ele estava desprotegido.
A dor era tão intensa que parecia uma doença física. Fui ao bar e servi um copo de uísque, a queimação na garganta uma distração bem-vinda.
Mais tarde, os convidados da festa se reuniram para um brinde. Kiara, segurando uma taça de champanhe, iniciou um jogo de "Verdade ou Desafio". Tudo estava muito leve até que a garrafa girou e parou nela.
"Verdade!", ela cantou.
Um convidado, um dos investidores sorridentes de Caio, fez a pergunta que todos estavam pensando. "Kiara, sua memória voltou. Então, nos diga a verdade. Depois de todos esses anos, você ainda está apaixonada pelo Caio?"
A sala ficou em silêncio. Todos os olhos estavam nela.
Ela olhou para Caio, seus olhos brilhando com lágrimas não derramadas. Ela hesitou por um momento, uma pausa magistral para efeito dramático.
"Sim", ela sussurrou, a voz quebrando lindamente. "Eu nunca parei de amá-lo. Nem por um único dia."
A sala explodiu em aplausos e "awws". As pessoas davam tapinhas nas costas de Caio. Ele sorriu, puxando Kiara para um beijo profundo e apaixonado enquanto a multidão aplaudia.
Era uma cena de filme. E eu era a figurante desfocada no fundo.
Meu copo escorregou dos meus dedos dormentes, quebrando-se no chão de mármore. Ninguém notou. Todos estavam assistindo ao casal feliz.
Virei-me e fugi, escapando para o silêncio frio e estéril do banheiro de hóspedes. Tranquei a porta e deslizei para o chão, minhas costas contra o azulejo frio. O som de suas risadas e aplausos se infiltrava por baixo da porta, uma trilha sonora cruel para o meu colapso.
Chorei até não conseguir respirar, meu corpo tremendo com soluços silenciosos e convulsivos. Eu tinha perdido. Eu o perdi tão completamente, tão publicamente.
Olhei para o meu reflexo nas ferragens cromadas, distorcido e quebrado. Vi uma tola. Uma mulher que ignorou todos os sinais de alerta, que aceitou todas as mentiras, que deixou um homem reduzi-la a isso.
Levantei-me, liguei o chuveiro e entrei debaixo da água escaldante, com roupa e tudo. Esfreguei minha pele até ficar em carne viva, tentando lavar a vergonha, a humilhação, o cheiro persistente de sua traição.
Foi um batismo de fogo e gelo. Quando saí, tremendo e encharcada, algo dentro de mim havia mudado. O luto havia queimado, deixando para trás uma determinação fria e dura.
A humilhação era um veneno, mas também era um antídoto. Tinha matado os últimos vestígios do meu amor por ele.