Deixada para Morrer, Encontrada pelo Amor
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Capítulo 6

Saí do banheiro, pingando e com frio, minha mente estranhamente clara. A festa estava terminando, mas uma comoção perto da varanda chamou minha atenção.

Vi Kiara encurralada contra o parapeito, um investidor bêbado a assediando, a mão em seu braço.

"Vamos, gracinha", ele arrastava as palavras. "Só uma dança."

"Por favor, pare", disse Kiara, a voz tremendo com o que parecia ser medo genuíno.

Antes que alguém pudesse reagir, Caio se moveu como um raio. Ele atravessou a sala em três passadas, agarrou o investidor pelo colarinho e o jogou contra a parede.

"Tire as mãos dela", Caio rosnou, o rosto contorcido por uma fúria que eu nunca tinha visto dirigida a ninguém além de mim.

Ele ergueu o punho e socou o homem bem no queixo. O som de osso batendo em osso ecoou pela sala agora silenciosa. O investidor desabou no chão, gemendo.

A cena mergulhou no caos. As pessoas gritavam. Os amigos do investidor correram para a frente.

Alguém agarrou meu braço. Era Léo, o amigo de Caio, o rosto pálido. "Aurora, faça alguma coisa! Você é a única que ele talvez escute. Isso está saindo do controle."

Ele estava certo. Caio era uma figura pública. Uma briga em sua própria festa seria um pesadelo de relações públicas. Era meu dever como sua noiva - um papel que eu ainda tecnicamente ocupava - conter os danos.

Com um suspiro profundo e cansado, dei um passo à frente. "Caio, já chega."

Coloquei a mão em seu braço. Era como tocar em pedra.

Ele se virou bruscamente, os olhos selvagens e desfocados. Quando me viu, não viu uma aliada. Viu um obstáculo.

"Fique fora disso, Aurora!", ele gritou, e com um encolher de ombros violento, ele tirou minha mão.

A força de seu movimento, combinada com meu equilíbrio ainda instável devido aos meus ferimentos e ao chão de mármore escorregadio, me fez tropeçar para trás. Meu calcanhar prendeu na perna de uma cadeira.

Eu caí.

Minha cabeça, o mesmo lado que bateu no asfalto, bateu na quina afiada de uma mesa de centro de vidro.

Uma dor ofuscante e branca explodiu atrás dos meus olhos. A sala inclinou, as luzes se transformando em borrões. Minha visão nadou com pontos pretos.

Lutei para me ajoelhar, minha mão voando para a cabeça. Voltou molhada e pegajosa de sangue.

Através do zumbido em meus ouvidos, ouvi a voz de Kiara, uma mistura perfeita de medo e preocupação.

"Oh, Caio, meu herói", ela soluçou, jogando os braços ao redor de seu pescoço. "Aquele homem era aterrorizante. Por favor, me tire daqui."

Ele imediatamente esqueceu a briga, esqueceu o sangue, me esqueceu. Seu foco se estreitou para ela.

"Está tudo bem, meu bem. Eu te peguei", ele murmurou, sua voz suavizando instantaneamente. Ele a pegou no colo, embalando-a como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo.

Ele passou por mim, seus olhos nem sequer piscando em minha direção. Ele me deixou ajoelhada em uma poça crescente do meu próprio sangue em seu caro chão de mármore.

Eu os vi partir, um único pensamento frio se solidificando em minha mente. Ele me deixaria morrer para salvá-la de uma unha quebrada.

Consegui me levantar, balançando, usando os móveis como apoio. Léo correu, o rosto uma confusão de pânico e culpa. "Aurora, meu Deus, precisamos te levar a um médico."

"Não", eu disse, minha voz surpreendentemente firme. "Eu vou para casa."

Saí da cobertura, deixando um pequeno rastro de sangue para trás. Ninguém tentou me impedir.

O ar frio da noite bateu no meu rosto. Estava chovendo, uma chuva miserável e constante que combinava com a desolação em minha alma. Chamei um táxi, os olhos do motorista se arregalando ao ver o sangue emaranhado no meu cabelo, mas ele não disse nada.

A viagem de volta para a mansão dos Almeida, o lugar que eu era forçada a chamar de lar por enquanto, foi um borrão de dor e luzes da cidade manchadas de chuva. Minha cabeça latejava no ritmo dos limpadores de para-brisa.

Entrei na casa silenciosa e imponente e fui direto para o meu banheiro. Limpei e enfaixei o corte na minha cabeça sozinha, meus movimentos lentos e deliberados. A dor física não era nada comparada à ferida aberta em minha alma.

Olhei para o meu reflexo pálido e machucado no espelho. Não reconheci a mulher que me encarava.

Entrei no meu quarto e abri o armário. No fundo, guardadas em uma caixa, estavam lembranças dos meus três anos com Caio. Uma flor seca do nosso primeiro encontro. Uma foto boba de uma viagem. Um bilhete escrito à mão me prometendo o mundo.

Peguei a caixa e a levei para a lareira na biblioteca.

Uma por uma, alimentei as memórias às chamas. Observei as fotos se enrolarem e enegrecerem, as cartas se transformarem em cinzas.

Ele me prometeu a eternidade. Ele me prometeu proteção. Ele me prometeu amor.

Que mentira linda e trágica tudo aquilo tinha sido.

Quando o último pedaço de papel se dissolveu em brasas, um barulho súbito e violento do lado de fora me assustou. O som de uma porta de carro batendo, de passos pesados e apressados.

Antes que eu pudesse reagir, a porta do meu quarto se abriu com um estrondo. Não era Caio. Eram dois estranhos grandes e ameaçadores. Um deles pressionou um pano encharcado de produtos químicos sobre minha boca e nariz.

Meu corpo ficou mole. Meu último pensamento consciente foi um flash do sorriso triunfante de Kiara.

Acordei na traseira de uma van em movimento, minhas mãos e pés amarrados com abraçadeiras. O ar estava denso com o cheiro de gasolina. Minha cabeça latejava.

Um homem me encarava, o rosto cruel na luz fraca. "Ora, ora. Veja quem acordou."

Eu me debati, uma onda de puro terror inundando minhas veias.

"Nem se dê ao trabalho", ele zombou. "Seu namoradinho nos pagou uma grana alta para nos divertirmos com você antes de nos livrarmos de você. Parece que ele não gosta de garotas que causam problemas para o brinquedinho novo dele."

Namoradinho? Caio? Não. Não podia ser.

Mas a semente da dúvida foi plantada. Kiara era vingativa, mas esse nível de violência... parecia orquestrado por um poder que ela não tinha. Mas Caio tinha.

A mão do homem alcançou o zíper do meu vestido.

Um grito primal se formou na minha garganta. Eu me debati descontroladamente, chutando com toda a minha força. Meu pé acertou sua virilha. Ele uivou de dor e tropeçou para trás.

Naquela fração de segundo, eu rolei, jogando o peso do meu corpo contra a porta traseira da van. Não estava bem fechada. Ela se abriu, e eu caí no asfalto duro e molhado de uma estrada industrial deserta.

Levantei-me cambaleando e corri, minhas mãos amarradas me deixando desajeitada, meu coração martelando com um terror tão profundo que era paralisante. Eu podia ouvi-los gritando atrás de mim, a van cantando pneus ao parar.

Corri pela minha vida.

                         

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