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A ligação mal havia terminado quando um clique suave na porta fez Alexia erguer a cabeça rapidamente.
Waylon estava ali, parado no batente, sua silhueta projetando uma sombra discreta no chão enquanto ele a encarava com uma expressão indecifrável.
Nenhum dos dois esperava por esse tipo de encontro: Alexia ainda saía do banho, com o cabelo molhado grudado no rosto e as bochechas ainda coradas pelo vapor quente. O roupão escorregava perigosamente de seus ombros, revelando partes suaves da pele recém-aquecida, enquanto o perfume doce do xampu pairava no ar como uma promessa silenciosa.
O olhar de Waylon percorreu Alexia lentamente, como se quisesse memorizar cada detalhe, a fazendo corar e desviar os olhos antes que ele mesmo rompesse o contato.
"Vista-se. O café da manhã está servido", disse ele.
Minutos depois, Alexia desceu vestida e encontrou uma mesa impecavelmente posta. Dominada pela fome, à qual nenhum orgulho resistiria, sentou-se sem cerimônia e só largou os talheres quando o prato já estava quase vazio.
Waylon, sentado à frente dela, respeitou o silêncio até ali e só então falou, com a mesma tranquilidade de sempre: "Vai precisar de um advogado?"
Alexia pousou a xícara devagar sobre a mesa e ergueu os olhos para os dele. "Então você já ficou sabendo..."
Um meio sorriso curvou os lábios de Waylon, embora seu olhar permanecesse frio, quase cínico. "Existe alguém que ainda não saiba?"
Alexia sentiu o gosto amargo do café invadir sua boca, forçando-a a fazer uma careta involuntária, mas logo se recompôs. "Eu consigo lidar com isso."
Assim que as palavras saíram, Alexia percebeu que poderia estar soando orgulhosa e teimosa demais. Afinal, para muita gente, mulheres abandonadas eram vistas como tristes coitadas.
"Você acredita em mim quando digo isso?"
Waylon deixou um sorriso surgir no canto de sua boca, seus olhos se estreitando. "Por que eu não acreditaria? Alexia, ele é quem deveria estar desmoronando agora."
A firmeza da resposta a atingiu em cheio, mas ela conseguiu retribuir com um pequeno e genuíno sorriso. "Você sempre soube como construir um bom argumento."
Quando o café da manhã chegou ao fim, Alexia se preparou para sair.
Já à porta, hesitou e olhou para trás.
"Obrigada", ela disse baixinho, sem precisar explicar mais.
A gentileza de Waylon não seria esquecida.
...
Dez minutos haviam se passado do horário marcado, e Roger já demonstrava sinais claros de impaciência. Ele e Marilee aguardavam Alexia em um clube reservado, frequentado apenas pelos mais influentes.
Marilee se aproximou com um beicinho ensaiado, como se isso bastasse para amolecê-lo. "Onde ela se meteu? Será que vai se recusar a assinar o divórcio? Você não esqueceu do nosso passeio, né? Prometeu que me levaria para escolher um vestido depois disso."
Roger apenas grunhiu em resposta. O banquete do fim de semana - um evento promovido pela Câmara de Comércio, onde ele pretendia apresentar Marilee ao mundo como seu novo par.
Todos os figurões da cidade estariam presentes, inclusive Waylon, cujo retorno era aguardado com entusiasmo, mas só de pensar nele, Roger sentia seu estômago revirar.
A Câmara de Comércio vinha demonstrando um apoio nada sutil a Waylon, mesmo antes da escolha do novo presidente, e isso colocava a família Gibson em uma posição desconfortável.
Nesse momento, os pensamentos de Roger foram interrompidos por um burburinho vindo da entrada.
Quando ele virou o rosto para ver do que se tratava, sentiu o corpo enrijecer.
Alexia entrou como se dominasse o lugar sem esforço algum, chamando atenção de todos. Ela usava um vestido carmesim que abraçava suas curvas com elegância, e os saltos altos tocavam o piso com a leveza de um sussurro. Cada passo era como um recado de confiança, postura, e força silenciosa. O vermelho do tecido reluzia sob as luzes do salão - intenso como o nascer do sol.
A cada passada, o sorriso de Marilee se contraía um pouco mais, até desaparecer por completo quando Alexia parou diante deles.
Roger, atônito, precisou de alguns segundos para processar a figura maquiada de sua futura ex-esposa.
"Você..." A palavra não passou dos seus lábios.
Ninguém ali podia acreditar que essa mulher era a mesma que haviam visto na noite anterior - de óculos tortos, camisa xadrez larga, e cabelo ensopado. A figura apagada de ontem fora substituída por alguém quase inacreditável.
Mas Alexia não se surpreendia com a surpresa dos outros, pois sabia quem era e sempre soube. No entanto, desde cedo, aprendeu a não chamar atenção, já que a modéstia lhe fora ensinada como virtude.
Durante seu casamento, então, as amarras só apertaram. Alexia passou anos cuidando da avó de Roger e ouvia as críticas veladas da sogra, que a via como a encarnação de uma juventude rebelde que nunca existiu.
Até seu cabelo e suas roupas se resumiam a peças largas, sem cor e esquecíveis - tudo era vigiado.
Agora, esse tempo havia ficado para trás.
Com serenidade, Alexia chamou o garçom, pediu uma dose de tequila e abriu a pasta com o acordo de divórcio, como se estivesse sozinha.
Marilee foi a primeira a se recompor, exibindo um sorriso doce. "Alexia, espero que esteja bem depois de ontem. Os repórteres nos pegaram de surpresa. Alguém me disse que você escorregou na chuva. Deve ter sido horrível."