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Santino lançou um olhar por sobre o ombro e viu Waylon fumando na varanda. A névoa suavizava seus traços marcantes, como se quisesse esconder a rigidez que havia em seu rosto.
Era raro vê-lo fumar. Na verdade, Santino só se lembrava de uma outra ocasião semelhante, ocorrida dois anos atrás.
Sem dizer uma palavra, ele atravessou a sala e se juntou a Waylon no lado de fora. "Ela está estável agora. Pegou um resfriado forte por ter ficado muito tempo na chuva. Ela estava abalada, mas já apliquei uma injeção e deixei os medicamentos prontos. Ela vai ficar bem."
As palavras pairaram entre os dois, acompanhadas pelo silêncio da noite.
O médico continuou: "Li as manchetes. A família Jenkins não só a afastou de vez, como também fez questão de humilhá-la publicamente, bem no meio da festa da Marilee. Eles sequer fizeram um teste de DNA antes de trazê-la de volta do exterior? Isso me parece uma armação..."
Antes que pudesse continuar, o zumbido insistente do celular de Alexia ecoou no ambiente, cortando-o.
Waylon entrou com a intenção de encerrar a chamada, mas parou ao ver o nome na tela, e seus olhos escureceram por um instante.
No entanto, ele atendeu e colocou no viva-voz.
A voz do outro lado da linha veio carregada de raiva ao exclamar: "Alexia, você ignorou todas as minhas ligações e mensagens. O que está tentando fazer? Sumir do mapa? Isso não vai mudar nada. Amanhã você assina o divórcio e pronto. Já esperei demais. Pare de atrapalhar a minha vida com Marilee. Você já dependeu demais da minha família. Se ainda tem alguma dignidade, vá embora de vez - é o mínimo que pode fazer pela Marilee. Não se preocupe com sua parte - você vai receber o que é seu. Você cuidou da minha mãe, da minha avó, está bem. Mas não ultrapasse os limites. Saiba a hora de parar. Ei, por que não responde? Onde você está?"
O silêncio que se seguiu pareceu corroer a confiança de Roger, que começava a vacilar.
Santino apertava os punhos, tomado por uma tensão crescente que ameaçava explodir como uma tempestade, e mal conseguia se manter de pé, com os joelhos prestes a ceder, desejando desesperadamente que alguém interrompesse isso.
Desde a primeira palavra de Roger, ele percebeu a transformação no semblante de Waylon, cujos olhos se tornaram frios e toda a sugestão de calor desapareceu, deixando apenas uma atmosfera gelada e sufocante.
Com a voz carregada de desprezo, Waylon finalmente falou: "Então é assim que você fala com ela?"
Do outro lado da linha, Roger congelou, e sua postura, antes agressiva, cedeu ao medo. "Quem é você? Onde está Alexia?"
Waylon desviou o olhar para a cama, onde Alexia descansava, sua respiração fraca, mas regular.
Com um murmúrio suave, ele respondeu: "Ela está dormindo."
Depois de uma pausa calculada, acrescentou: "Ela está bem aqui comigo."
O silêncio foi quebrado por um grito furioso - Roger parecia à beira de um colapso.
"O que você disse?! Quem diabos é você?!"
Waylon deixou escapar uma risada baixa, quase divertida. "Calma. Logo, logo você vai descobrir... Claro, se você ainda estiver vivo."
Sem mais uma palavra, ele encerrou a ligação.
Na manhã seguinte, a chuva havia se dissipado, e a luz do sol se filtrava pelas cortinas.
Alexia despertou, esticou a mão até o celular, e foi recebida por uma avalanche de chamadas perdidas e mensagens de texto - todas de Roger.
Deslizando os olhos pelas palavras agressivas, ela não demonstrou qualquer emoção e, em seguida, simplesmente largou o aparelho sobre os lençóis. Nesse momento, um banho quente importava mais.
No banheiro, o vapor do banho quente cobria o espelho enquanto ela se encarava com atenção. Algo havia mudado: seus olhos, que por tanto tempo refletiram cansaço e submissão, agora brilhavam com uma firmeza quase desafiadora.
Pela primeira vez em muito tempo, sorriu de verdade - um sorriso genuíno que brotava do fundo e iluminava seus olhos.
Parecia que uma febre tinha limpado tudo por dentro - a dor, a culpa e as falsas lealdades.
A fase de se deixar ser enganada havia acabado, ela não precisava mais fingir que tudo estava bem.
Com os cabelos ainda úmidos e enrolada em uma toalha, Alexia pegou o celular novamente e rolou a lista de contatos. Seus dedos pararam em um nome que não contatava há anos e, sem hesitar, apertou o botão de chamada.
"Luna! Até que enfim! Vai me dizer que é verdade? Que você finalmente vai se divorciar?"
Do outro lado da linha, risos e vozes se sobrepunham. Era evidente que seus amigos estavam juntos e escutando.
Alexia respondeu calmamente: "Sim, vou assinar o divórcio hoje."
Uma explosão de comemoração atravessou o celular - assobios, gargalhadas, e tilintar de taças.
"Já era hora, mulher! Chega desse drama de dona de casa. Nossa Luna voltou!"
"Sério, esse divórcio é a melhor coisa que te aconteceu. Roger nunca te mereceu. E se ele fizer qualquer coisa, me fala. Eu resolvo."
"E nem vamos começar a falar dos Jenkins. Se não fosse por você, já teriam afundado na crise do ano passado. Luna, estamos do seu lado. O Helix Consortium está com você."
O calor das vozes, assim como o apoio incondicional, era como voltar para casa depois de um exílio, e isso arrancou um sorriso genuíno de Alexia. "Nesse caso, vou precisar de uma carona."
Sem hesitar, uma voz masculina interrompeu, vibrando de entusiasmo: "Carona? Para o seu grande retorno? É só dizer o lugar. Mando o campeão de corrida te buscar pessoalmente!"