Capítulo 9 Pronta para recomeçar

O mordomo dos Gibson piscou devagar, mal conseguindo esconder o espanto ao ver Alexia descer do Bugatti vermelho-cereja. Seu olhar curioso revelava a tempestade de perguntas que ele silenciava, enquanto, com a elegância de sempre, fazia um leve aceno e a conduzia para dentro da casa.

"Senhora Gibson, Eleanor tem falado muito sobre você nos últimos dias. Você chegou bem a tempo para o jantar. Por que não fica e faz companhia a ela?"

Alexia não esboçou qualquer sinal de simpatia, apenas respondeu: "Pode me chamar de Alexia. Não sou mais a esposa do Roger."

Por um instante, o mordomo congelou, surpreso com a franqueza.

Claro que já ouvira os rumores, mas ouvi-lo da própria boca dela era outra coisa.

O mordomo sabia que Eleanor queria intervir, mas pela maneira como Alexia se comportava, ele concluiu que não havia muita esperança.

A mansão estava como sempre: imensa, fria, com um silêncio que não convidava, apenas observava.

Assim que Alexia entrou, Eleanor, sentada no sofá, a avistou e a convidou com um sorriso acolhedor iluminando seu rosto: "Alexia, meu bem! Venha, sente-se comigo."

Alexia se aproximou com esforço, tentando disfarçar a tensão.

Eleanor estendeu a mão, calorosa e firme, e segurou a da jovem como quem acolhia uma filha. "Você chegou em um momento complicado, querida. Allen acabou de sair, indignado, dizendo que vai atrás do Roger para resolver tudo isso. Já sabemos o que aconteceu... Mas, querida, prometo que não vamos deixar que isso continue assim."

O olhar de Alexia baixou, e uma sombra triste percorreu seu rosto. "Eu já assinei os papéis de divórcio, Eleanor. Não estou mais presa ao passado."

Essas palavras caíram pesadas, fazendo a expressão de Eleanor endurecer. "Então... tudo isso é por causa da Marilee, não é? Eu não dou a mínima para essa confusão sobre ela ser ou não a 'filha verdadeira'. Só vejo você, Alexia. Não aceito outra pessoa como esposa do Roger. Ele ainda é jovem, facilmente iludido por qualquer mulher esperta... Deixe que eu resolvo isso com ele."

Alexia balançou a cabeça devagar, firme em sua decisão. "Não, Eleanor. Já deixei tudo isso para trás. Aprendi a reconhecer quando é hora de seguir em frente. Quando amo alguém, fico. Mas quando esse amor morre, não insisto. Estou cansada de esperar que um homem amadureça e de justificar escolhas que não foram minhas. Roger escolheu Marilee, então que fique com ela. Isso agora é problema dele. Eu estou pronta para recomeçar."

A firmeza em sua voz foi como um muro erguido diante de Eleanor, que respirou fundo, tentando conter a emoção que se acumulava nos olhos. "Eu te vi crescer, Alexia. Você foi como uma neta para mim. Roger... ah, aquele menino teve uma infância difícil. Quando finalmente voltou, estava revoltado, indomável. Ninguém queria saber dele, exceto você."

Por um breve momento, a resolução de Alexia vacilou. No fundo, ela sabia que seus sentimentos por Roger estavam entrelaçados com o carinho profundo que sentia por essa idosa carinhosa.

O calor desta casa, desta mulher, preenchia vazios que os Jenkins jamais se preocuparam em notar. Talvez por isso ela tivesse insistido tanto, por Roger ser o neto de Eleanor.

Eleanor, como se lesse seus pensamentos, suspirou pesadamente. "Roger não tem ideia do que perdeu. Ele achou que podia ignorar seus sentimentos porque tinha certeza que você nunca o deixaria."

Nesse instante, uma voz irritante ecoou do andar de cima. "Vamos parar de fingir que ela é algum tipo de santa? Nem Jenkins de verdade ela é. Passou dois anos bancando a senhora Gibson... Roger é quem foi enganado. Agora que ele encontrou alguém de verdade, que culpa ele tem por seguir em frente?"

Brandon Gibson, primo de Roger, desceu os degraus com a arrogância de quem se julgava intocável, vestindo pijama e exibindo um sorriso debochado enquanto se jogava no sofá diante das duas mulheres, como se a sala fosse seu palco particular.

"Não demorou nada para largar a pose de esposa perfeita, hein?! Você não engana ninguém", comentou o rapaz.

"Já chega, Brandon! É assim que você fala com as pessoas? Olhe bem para você! Nem se deu ao trabalho de vestir algo decente diante de uma visita. Deveria sentir vergonha!", a matriarca o repreendeu, sua voz cortante como uma navalha.

Brandon cruzou as pernas, afundando nas almofadas com o mesmo sorriso presunçoso de antes. "Ah, me poupe, ela não merece respeito."

Eleanor corou de raiva, sua respiração descompassada.

Alexia então se aproximou e pousou uma mão delicada nas costas da senhora, como um lembrete silencioso de que ela não estava sozinha. "Não vale a pena se aborrecer com ele, Eleanor."

Em seguida, ela se virou para Brandon com olhos frios e avaliadores, como se encarasse algo que já havia sido descartado. Se antes ainda havia dúvidas, agora via com clareza: os Gibson não passavam de uma fachada.

Roger, com sorte, era medíocre, e o restante arrastava o nome da família como um peso morto. E Brandon? Ele era a epítome do desperdício - de talento, de tempo, de tudo.

Durante o casamento com Roger, Alexia ainda tentou ajudar Brandon várias vezes, mais por insistência de seu ex-marido do que por vontade própria. Em troca, ela não ganhava nada além de desprezo e ingratidão. Esse rapaz era o tipo de parasita que exigia cada vez mais a cada migalha oferecida.

O incômodo diante do olhar cortante de Alexia fez Bandon reagir. "Que olhar é esse aí? Não se faça de ofendida. Se não fosse pela mesada do Roger, você estaria dormindo na rua hoje!"

A paciência de Eleanor se esgotou. "Chega! Nem mais uma palavra."

Brandon adorava interpretar o papel de rebelde da família - o outsider irreverente.

Mas o silêncio de Alexia, frio e calculado, o incomodava muito mais do que qualquer bronca da avó.

"Por que você não fala nada, hein?", ele perguntou.

A sala mergulhou em um silêncio incômodo.

Alexia permanecia imóvel, a expressão serena e indecifrável, até que finalmente olhou para Eleanor e sussurrou: "Desculpe."

Sem explicações, ela pegou a bolsa com um gesto decidido e se levantou, prestes a sair.

Brandon, provocador até o fim, esticou a perna, impedindo a passagem dela. O sorriso arrogante no rosto foi seu último erro.

Sem hesitar, Alexia ergueu o salto e o cravou com precisão no pé dele. No segundo seguinte, um grito agudo ecoou pela sala.