- Os Bolsistas são leais a você porque você segura o futuro deles em suas mãos - eu disse, minha voz afiada. - A deferência deles a mim é apenas uma atuação. - Escondi o lampejo de dor em meus olhos. Os anos que desperdicei, o amor que derramei... tudo parecia uma piada.
Endireitei os ombros.
- Eu tenho alguns pedidos.
- Qualquer coisa, querida.
- Congele as contas deles. Todas elas. E corte a mesada da Eva Monteiro completamente. Ela não é uma Barreto. Ela não tem direito ao nosso dinheiro.
Meu pai pareceu chocado, mas assentiu lentamente.
- Se é o que você quer, está feito. Vou mandar todos eles saírem da propriedade após o seu casamento.
Um peso saiu do meu peito. Saí do escritório, de cabeça erguida.
Encontrei Eva na grande escadaria. Ela estava vestida com um delicado vestido branco, parecendo a imagem da inocência. Ela correu, entrelaçando seu braço no meu.
- Helena! Eu estava indo te procurar! Tem uma partida de polo beneficente hoje. Você me leva? Por favor?
Olhei para ela, para o sorriso doce que ela usava, e senti um enjoo no estômago. Este era o rosto da garota que roubou meu amor e riu da minha dor.
Puxei meu braço com força, me soltando dela.
Seus olhos se arregalaram de surpresa. Então, em um movimento de puro gênio teatral, ela soltou um pequeno grito e rolou dramaticamente pelos últimos degraus da escada.
- Eva! - Um grito frenético veio do pé da escada. Era Damião.
Olhei para baixo e vi todos eles. Os sete Bolsistas, parados ali, olhando para mim.
Kenan Borges apontou um dedo para mim, seu rosto vermelho de raiva.
- Helena, sua vadia cruel! Como pôde empurrá-la?
Eva, enquanto isso, já estava de pé, correndo em minha defesa com lágrimas nos olhos.
- Não, não, não foi a Helena! Eu só escorreguei. Ela nunca me machucaria. - Suas palavras só me fizeram parecer mais culpada.
Seus olhos estavam vermelhos, seu lábio tremendo. Ela era a vítima perfeita.
Os Bolsistas todos me encararam com puro nojo.
Damião não disse uma palavra. Ele apenas me deu um olhar frio e desdenhoso antes de pegar Eva em seus braços e carregá-la como se ela fosse feita de vidro.
Fui deixada ali, sozinha. Não tive a chance de explicar. Eu nem queria.
Mais tarde naquele dia, fui para minha aula de equitação programada nos estábulos, esperando que o ar fresco limpasse minha cabeça. Claro, ela estava lá.
Eva estava parada perto do picadeiro, parecendo pálida e frágil. Damião estava com ela.
- Helena - disse Eva, sua voz suave e doce. - Desculpe por esta manhã. E, por favor, não se preocupe comigo e com o Damião. Eu sei o meu lugar. Eu nunca atrapalharia sua felicidade.
Damião pairava ao lado dela, seus olhos nunca a deixando, como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo. Ele pessoalmente selou uma égua mansa para ela, levantando-a em suas costas com extremo cuidado.
Ele então passou a próxima hora conduzindo o cavalo pelo picadeiro, suas mãos pacientemente guiando as dela nas rédeas, sua voz um murmúrio baixo e calmante que só ela podia ouvir.
Quando ela disse que estava cansada, ele levou o cavalo para o bloco de montaria. Mas em vez de deixá-la usá-lo, ele se ajoelhou, oferecendo seu ombro para ela pisar.
Eu congelei.
Minha mente voltou ao meu aniversário de treze anos. Eu queria montar o garanhão mais arisco de nossos estábulos, um cavalo selvagem que ninguém conseguia domar. Damião, já um cavaleiro mestre, era o único que podia lidar com ele.
Meu pai o havia ensinado que um homem só deve se ajoelhar para sua esposa.
Mas naquele dia, meu pai olhou para um relutante Damião de dezesseis anos e disse:
- Ajoelhe-se. Deixe-a pisar em seu ombro. Ela é o seu futuro, Damião. Ela é tudo.
Damião se ajoelhou, seu rosto uma máscara de humilhação silenciosa.