- Quando eu era criança, eu não tinha nada. Ninguém. Então encontrei a Eva. Ela era apenas um bebê, abandonada como eu. Ela se tornou minha razão de viver. Minha única família.
Ele fez uma pausa, seus olhos escuros fixos em mim.
- E então seu pai nos encontrou. Ele me deu um lar. Um futuro. Eu devo tudo a ele. Eu faria qualquer coisa por ele, por você.
Ele abriu a caixa de presente.
- Mas você tem que entender. Eva é minha irmã. Ela é tudo o que tenho da minha vida antiga. Não posso deixar ninguém machucá-la. Preciso que você a tolere, Helena. É a única coisa que peço.
Por um momento, suas palavras, sua vulnerabilidade, quase me alcançaram. Um lampejo da velha e tola Helena se agitou em meu coração.
Então ele disse a palavra "irmã", e a ilusão se despedaçou.
Irmãos não beijam suas irmãs como ele beijou Eva no jardim. Irmãos não olham para suas irmãs com aquele tipo de fome crua.
Ele era um mentiroso.
- Então, depois que nos casarmos - perguntei, minha voz pingando sarcasmo -, ela ainda virá primeiro? Sua 'irmã' sempre será sua prioridade?
- Sim - ele respondeu sem um pingo de hesitação. - Ela sempre será minha primeira prioridade. Mas serei bom para você, Helena. Eu vou te valorizar. - Ele fez uma pausa. - O máximo que eu puder.
Soltei uma risada amarga que soou mais como um soluço. "O máximo que eu puder." Toda a minha infelicidade, toda a minha dor, vinha dele. Do meu amor unilateral por ele.
Não disse mais nada. Não havia sentido.
Nesse momento, seu telefone tocou. Era Eva. Ele atendeu imediatamente, sua voz suavizando.
- Já estou indo. - Ele desligou e se levantou para sair.
- Isto é para você - disse ele, colocando a caixa de presente na minha mesa de cabeceira. Ele saiu sem outra palavra.
Dentro da caixa havia um colar. Um pingente de diamante simples e elegante. Era lindo, mas não era as "Lágrimas do Oceano". Não era o que eu queria.
Era um prêmio de consolação. Um símbolo do quanto ele estava disposto a me dar: algo, mas não tudo. Não o melhor.
Peguei a caixa, caminhei até a lixeira e a joguei lá dentro sem pensar duas vezes.
Eu mereço um homem que me daria o mundo, não um que me pediria para me contentar com o segundo lugar.
Meu aniversário de 21 anos chegou um mês depois. Seria o maior evento social do ano, uma gala onde meu pai anunciaria oficialmente meu noivado.
Eu estava em frente ao espelho, usando um vestido de alta costura feito sob medida. Eu parecia uma princesa, mas senti uma pontada de arrependimento por não estar usando as "Lágrimas do Oceano".
Nesse momento, um mordomo entrou no meu camarim segurando uma caixa grande e lindamente embrulhada.
- Isto acabou de chegar para a senhorita, Srta. Barreto. Do Sr. Bastos.
Meu coração deu um pulo. Heitor.
- O Sr. Bastos pede desculpas por não ter conseguido encontrar as 'Lágrimas do Oceano' - explicou o mordomo. - O proprietário atual se recusou a vender. Então ele encomendou isto para a senhorita. Ele espera que seja suficiente.
Abri a caixa. Aninhado em uma cama de veludo preto, havia um conjunto de joias de tirar o fôlego. Um colar, brincos e uma pulseira, todos com enormes rubis sangue de pombo, os mais raros e valiosos do mundo. Eles brilhavam com um fogo interior, um vermelho profundo e apaixonado.
- O rubi simboliza um amor que é mais precioso que tudo - disse o mordomo suavemente.
Um sorriso genuíno, o primeiro em muito tempo, floresceu em meu rosto. Coloquei as joias. Elas pareciam quentes contra minha pele.
Finalmente me senti como uma rainha. E eu sabia, com certeza absoluta, que tinha feito a escolha certa.
Quando estava prestes a sair do meu quarto, encontrei Eva. Ela também estava vestida para a festa, mas seus olhos estavam fixos nos rubis em volta do meu pescoço. Seu sorriso vacilou.
- São... magníficos - disse ela, sua voz tensa. - Foi o Damião que te deu?
Passei por ela sem uma palavra.
Seus olhos brilharam com um olhar de puro ódio.
- Ele não te ama, sabia? - ela sibilou para as minhas costas. - Ele só está se casando com você para pagar seu pai.
Ela se colocou na minha frente, bloqueando meu caminho, e levantou o telefone.
- Ele nunca vai te tocar como me toca.
Ela apertou o play. Na tela, um vídeo começou. Eram ela e Damião, entrelaçados na cama, seus corpos se movendo em um ritmo de pura luxúria.
- Ele nunca olhou para você assim, não é? - ela zombou, sua voz cruel. - Você deveria escolher um dos outros Bolsistas. Xavier, talvez? Ou Kenan? Eu já tive todos eles. Kenan é particularmente... atlético. - Ela riu, um som baixo e vulgar. - Posso te dar um relatório completo sobre o desempenho deles, se quiser.