Recebi alta do hospital uma semana depois. Damião estava lá, esperando para me levar para casa. Ignorei-o completamente e entrei no carro com Xavier, que também tinha vindo.
Xavier, o estrategista. Aquele que me "salvou" de uma escultura caindo. Aquele que acabara de repreender Damião por quase me matar.
Ele tentou puxar conversa no caminho para casa, contando piadas, tentando me fazer sorrir.
Eu não conseguia. Meu rosto parecia uma máscara congelada.
- Helena, você está bem? - ele perguntou, sua voz gentil. - Você parece... diferente.
- Estou bem - eu disse, minha voz monótona.
- Olha, eu sei que as coisas têm estado tensas - disse ele. - Por que não vamos ao leilão de arte nos Jardins hoje à noite? Compre algo bonito para você. Sempre ajuda. - Ele sorriu. - Por minha conta.
Olhei para ele, para seu rosto bonito e preocupado, e senti uma onda de nojo.
- Com o dinheiro do meu pai?
Ele se encolheu, mas se recuperou rapidamente.
- Eu tenho meu próprio dinheiro, Helena. Fiz alguns investimentos muito bem-sucedidos. - Ele se inclinou um pouco. - Sério. Deixe-me comprar o que você quiser.
Um sorriso lento e frio se espalhou pelo meu rosto pela primeira vez em semanas.
- Tudo bem, Xavier. Combinado.
Se ele queria bancar o tolo generoso, eu o deixaria. Eu pegaria tudo o que pudesse dessas víboras.
A casa de leilões fervilhava com a elite da cidade. A peça central da noite era um colar deslumbrante conhecido como as "Lágrimas do Oceano", uma cascata de diamantes azuis impecáveis.
No momento em que o vi, soube que tinha que tê-lo.
Assim que o leilão estava prestes a começar, as portas se abriram e mais duas pessoas entraram. Damião e Eva.
Meu sorriso congelou. Tive uma sensação ruim no estômago. Eu sabia, com certeza absoluta, que Eva iria querer aquele colar.
O leilão começou.
- Um milhão de reais - veio uma voz suave do outro lado da sala. Era Eva.
Ela encontrou meu olhar e depois baixou os olhos, uma expressão hesitante no rosto.
- Oh, Helena. Você quer? Desculpe, eu vou parar. - Ela fez um show de abaixar sua raquete de lances, olhando para Damião com olhos tristes. - Eu não gostaria de pegar algo que você gosta.
Ela interpretou o papel da irmã magnânima tão bem.
O rosto de Damião endureceu. Ele me fuzilou do outro lado da sala, seus olhos cheios de desprezo, como se eu fosse uma valentona tirando um brinquedo de uma criança pequena.
Ele se virou para Eva, sua voz alta o suficiente para toda a sala ouvir.
- Se você gosta, você deve tê-lo. Não deixe ninguém te impedir.
Então ele levantou sua própria raquete.
- Cinco milhões de reais.
Um silêncio caiu sobre a sala. Todos sabiam quem era Damião. Ele era o herdeiro aparente dos Barreto, meu futuro marido. Para ele, dar um lance público contra mim por outra mulher era um tapa na cara. Sussurros irromperam.
- Ele está tentando humilhá-la?
- Pobre Helena. Ser tratada assim em público.
Senti o calor de cem pares de olhos em mim, alguns com pena, outros zombando. Minha mão, segurando minha própria raquete, tremia de raiva.
Eu não seria humilhada. Eu não recuaria.
Levantei minha raquete, chamando a atenção do leiloeiro, e fiz um gesto nítido e decisivo.
- Dez milhões - anunciou o leiloeiro, sua voz retumbando.
Eu não os deixaria vencer.