- Não se preocupe, Helena. Eu te disse, é por minha conta. - Ele entregou seu próprio cartão ao atendente.
Também foi recusado.
Xavier parecia atordoado.
- O quê? Minhas contas estão em ordem. Deve haver um engano.
Uma comoção começou a se formar do lado de fora da sala. As pessoas estavam sussurrando, rindo.
- Você ouviu? Os Barreto estão falidos!
- Ela deu um lance de dez milhões e não consegue nem pagar. Que piada.
Meu rosto queimava de vergonha. Eu nunca me senti tão humilhada em toda a minha vida.
Nesse momento, Damião apareceu na porta. Ele assistiu a toda a cena se desenrolar, uma expressão fria e indecifrável em seu rosto. Ele caminhou lentamente em direção ao atendente.
- Permita-me - disse ele, tirando um cartão da carteira.
O pagamento foi aprovado instantaneamente.
O atendente entregou a caixa de veludo contendo o colar para Damião.
E então, na frente de todos, Damião caminhou até Eva, abriu a caixa e prendeu as "Lágrimas do Oceano" em volta do pescoço dela.
Eu não era mais apenas uma piada. Eu era o clímax da piada.
Meus olhos arderam, e lutei contra as lágrimas que ameaçavam cair.
Xavier praguejou baixinho.
- Aquele filho da puta. Ele deve ter hackeado nossas contas. Ele fez isso de propósito.
Uma risada amarga escapou dos meus lábios, e então as lágrimas vieram, quentes e imparáveis. Claro que ele fez. Ele era um gênio da programação. Ele poderia paralisar sistemas financeiros com algumas teclas. Isso não era apenas sobre um colar. Isso foi uma execução pública da minha dignidade.
Ele tinha o poder de me arruinar, e acabara de provar isso.
Damião se virou para Xavier, sua voz baixa e ameaçadora.
- Fique longe dela.
Então ele olhou para mim, seus olhos frios como gelo.
- Vamos para casa, Helena.
- Prefiro morrer - sussurrei, minha voz embargada pela dor.
Virei-me e fui embora, sem olhar para trás.
Na semana seguinte, me tranquei no meu quarto. Xavier tentou me visitar, deixando bandejas das minhas sobremesas favoritas do lado de fora da minha porta. Eu as ignorei. Lembrei-me de sua voz na biblioteca, rindo de como ele me manipulou. Ele não era melhor que o resto deles.
Uma tarde, liguei o sistema de segurança que eu havia instalado secretamente nas áreas comuns da casa. Eu fiz isso depois de ouvir a conversa deles na biblioteca, precisando saber a verdadeira extensão de seu engano.
Os Bolsistas estavam esparramados nos sofás, reclamando.
- Ela vai sair algum dia? - gemeu Kenan. - A Eva quer que a gente a leve para Angra, mas o Damião diz que não podemos ir até a Helena estar 'estável' de novo.
- Por que é nosso trabalho animá-la? - choramingou outro Bolsista, Léo. - Eu preferiria muito mais estar com a Eva.
- Ordens do Damião - disse Xavier com um suspiro. - Ele quer que um de nós suba lá e a convença a sair.
- Eu não vou - resmungou Kenan.
- Eu também não quero - acrescentou Léo. - Xavier, você vai. Você é o melhor em fingir que se importa.
- Por que eu deveria? - retrucou Xavier, sua fachada de bom moço desaparecida. - Foi o Damião que causou essa bagunça no leilão. Deixe que ele limpe.
Nesse momento, o próprio Damião entrou em cena. Ele olhou para os outros, sua expressão sombria.
- Eu cuido da minha noiva - disse ele, sua voz carregada de uma posse fria que me deu arrepios. - Vocês todos fiquem fora disso.
Ele pegou uma pequena caixa de presente da mesa e se dirigiu para as escadas.
Desliguei rapidamente o monitor. *Minha noiva.* Ele ainda tinha a audácia de me chamar assim.
Lá embaixo, eu podia ouvir a voz raivosa de Kenan através da porta.
- A noiva dele? Quem ele pensa que é? Ela pertence a todos nós... ou a nenhum de nós.
A voz de Xavier estava pesada de resignação.
- Não importa, Ken. No final, ela ainda vai escolhê-lo. Ela sempre escolhe. Somos apenas os coadjuvantes em sua peça distorcida.