Eu não pensei. Apenas dirigi. Rastreiei o celular de Íris até um bar decadente no centro, um lugar que eu sabia que Heitor possuía através de uma empresa de fachada. Entrei de rompante e os vi em um reservado nos fundos.
Caio tinha Íris presa contra a parede, sua mão cruelmente emaranhada no cabelo dela. Ele sussurrava algo vil em seu ouvido. Íris soluçava, seu rosto pálido com um terror que eu conhecia muito bem.
Uma fúria incandescente, mais pura e primitiva do que qualquer coisa que eu já senti, me consumiu. Peguei uma garrafa de cerveja pesada de uma mesa próxima e a esmaguei na cabeça de Caio com toda a minha força.
Ele cambaleou para trás, sangue escorrendo pelo rosto, um olhar de surpresa chocada em seus olhos.
"Tire as mãos da minha irmã", rosnei.
Ele se recuperou rapidamente, um sorriso cruel se espalhando por seu rosto.
"Vadia. Você tem muita coragem." Ele deu um passo ameaçador em minha direção. "Acha que o Heitor vai te proteger agora? Você não é nada."
Empurrei Íris para trás de mim.
"Toque nela de novo e eu te mato. Juro por Deus."
Nesse momento, Kátia apareceu, impecável em um vestido branco que provavelmente custava mais que o meu carro. Ela observou a cena com uma diversão distante e cruel.
"Ora, ora", disse ela, sua voz escorrendo desprezo. "Vejam só o que o gato trouxe. A rainha caída e sua irmãzinha patética."
Caio imediatamente começou a choramingar como uma criança.
"Kátia, essa vadia louca me bateu! Olha a minha cabeça! Você tem que fazer ela pagar."
Os olhos de Kátia varreram Íris, que tremia atrás de mim.
"Essa é a que tem problemas de ansiedade? Ela parece um ratinho assustado." Ela se virou para mim, seu sorriso se alargando. "Caio está certo. Você precisa aprender uma lição. Ajoelhe-se e peça desculpas ao meu irmão."
"Vá para o inferno", cuspi.
Peguei meu celular para ligar para o 190, mas um dos capangas de Caio o arrancou da minha mão e o atirou contra a parede, onde se estilhaçou.
Empurrei Íris em direção à saída dos fundos, mas Caio me agarrou, seus dedos cravando no meu braço. Senti uma dor aguda e nauseante quando minha antiga lesão no ombro, uma lembrança de um acidente de carro anos atrás, latejou. Gritei, dobrando-me de agonia.
"Ainda tentando ser a heroína, Letícia?", Kátia zombou. "Você é tão previsível."
Ela acenou para seus homens. Eles me agarraram, forçando-me a ficar de joelhos. O concreto áspero arranhou minha pele.
"Eu disse, peça desculpas", Kátia repetiu, sua voz agora dura como aço.
"Nunca."
Ela suspirou dramaticamente.
"Eu esperava que você dissesse isso." Ela gesticulou para Caio. "Talvez a irmã dela seja mais cooperativa."
O sorriso de Caio era predatório enquanto ele avançava sobre Íris. Vi o terror absoluto nos olhos da minha irmã e soube, com uma certeza doentia, que eu havia perdido.
Mas antes que eu pudesse proferir uma palavra, as portas do bar se abriram novamente.
Era Heitor.
Ele absorveu a cena em um instante - eu de joelhos, sangrando, Íris encurralada, Kátia com ar triunfante. Por um momento fugaz, vi um lampejo de algo em seus olhos. Preocupação? Raiva?
"Heitor", sussurrei, uma pequena e estúpida centelha de esperança se acendendo em meu peito.
Ele caminhou até mim, seu rosto uma máscara de fúria fria. Ele me ajudou a levantar, seu toque surpreendentemente gentil.
"Você está bem?"
Antes que eu pudesse responder, Kátia correu para o lado dele, seu rosto uma máscara perfeita de inocência falsificada.
"Heitor, graças a Deus você está aqui! A Letícia enlouqueceu completamente! Ela atacou o Caio sem motivo e estava nos ameaçando!"
O olhar de Heitor mudou de mim para Kátia. Sua expressão passou de preocupada para glacial em um único e brutal piscar de olhos.
Ele se virou para mim, seus olhos agora terrivelmente vazios de qualquer calor.
"Peça desculpas a eles."
As palavras foram um tapa na cara.
"O quê? Heitor, você não pode estar falando sério. Eles atacaram a Íris!"
"Não me importa o que você acha que aconteceu", ele disse, sua voz perigosamente baixa. "Você vai pedir desculpas. Agora."
Ele agarrou a parte de trás da minha cabeça e a forçou para baixo. Minha testa bateu no chão imundo com um baque nauseante. O mundo girou em uma névoa de dor e humilhação total.
"Diga", ele ordenou.
Eu não conseguia. As palavras eram uma traição a cada instinto protetor que eu possuía.
Ele forçou minha cabeça para baixo novamente, mais forte desta vez. Sangue escorreu da minha testa para o meu olho.
"Sinto muito", finalmente engasguei, as palavras com gosto de veneno e sangue.
Kátia soltou uma risadinha triunfante. Heitor me soltou e a puxou para um abraço protetor.
"Está tudo bem, meu bem. Eu estou aqui agora."
Ele a conduziu para fora do bar sem um único olhar para trás, deixando-me quebrada e sangrando no chão com minha irmã aterrorizada.