"Sua mãe me convocou para a casa principal", respondeu Helena, sua voz plana e sem emoção.
A expressão de Caio escureceu. Ele estava prestes a dizer algo quando a voz alegre de Brenda flutuou do topo da escada.
"Indo para a casa principal? Vai correr para fofocar para a velha, Helena?", Brenda desceu as escadas, usando deliberadamente o primeiro nome de Helena com um desprezo familiar.
Helena a ignorou e continuou em direção à porta da frente.
"Pare." A voz de Caio era uma ordem. Ele agarrou seu braço, seu aperto como ferro. "Você não vai a lugar nenhum. Brenda quer ir às compras. Você vai acompanhá-la."
Ele a olhou de cima a baixo, seus olhos cheios de desdém por seu vestido simples e gasto. "Vou te dar um dinheiro. Compre algo decente para si mesma. Você está patética."
Helena sentiu uma risada histérica borbulhar em sua garganta. Em cinco anos, ele nunca se ofereceu para comprar nada para ela. Sua súbita "generosidade" era obviamente apenas mais uma maneira de apaziguar Brenda.
"Não, obrigada", disse ela, sua voz como gelo. "Eu tenho que ir para a casa principal."
Antes que ela pudesse terminar, Caio gesticulou para seus guardas. "Coloquem-na no carro."
Eles a forçaram a entrar na parte de trás da limusine sem outra palavra.
A tarde de compras foi uma tortura. Brenda saltitava de uma boutique cara para outra, sua energia inesgotável, sua risada ecoando pelo shopping. Helena foi forçada a seguir, carregando uma montanha cada vez maior de sacolas de compras.
Suas costas pareciam estar em chamas. Sua perna latejava. Seus joelhos, machucados por ajoelhar a noite toda, cediam a cada passo. Finalmente, ela não conseguiu mais. As sacolas escorregaram de seus dedos dormentes e caíram no chão. Ela se encostou em uma parede, ofegando, fraca demais para sequer falar.
Brenda se aproximou, um sorriso presunçoso no rosto. "Cansada já? Você é tão delicada, Helena."
Helena a encarou, o rosto uma máscara em branco. Ela sabia que Brenda estava fazendo isso de propósito, saboreando cada momento de seu sofrimento. Não havia escapatória, não até que Dona Lúcia concedesse oficialmente o divórcio.
Rangendo os dentes, ela se afastou da parede e se curvou para pegar as sacolas.
Mas Brenda não tinha terminado com ela.
Quando voltaram para a mansão, Brenda apontou para a montanha de roupas novas. "Lave estas."
Caio, que estava lendo um jornal, olhou para cima. Ele nem sequer olhou para Helena. "Faça o que ela diz."
Helena ficou atordoada. "Mas... há empregadas para isso. E minha perna... minhas costas..."
Caio finalmente levantou os olhos e viu seu rosto pálido e encharcado de suor. Por um momento fugaz, um lampejo de algo - pena, talvez - cruzou suas feições.
Brenda viu também. Ela imediatamente suspirou, lágrimas brotando em seus olhos. "Oh, esqueça. Tudo bem. Eu mesma faço. Eu não gostaria de incomodar a grande Sra. Barros, é claro."
O sarcasmo era espesso. A expressão de Caio endureceu instantaneamente. Ele voltou sua fúria para Helena.
"Ela está se oferecendo para fazer isso e você fica aí parada? Qual é o problema de você lavar algumas roupas? Não é como se você fizesse qualquer outra coisa por aqui."
As palavras atingiram Helena com mais força do que qualquer golpe físico. Ela ficou em silêncio.
Ela era filha de um motorista, uma serviçal. Mesmo depois de cinco anos como a dona da casa, aos olhos dele, era tudo o que ela seria. Uma serviçal.
Sem outra palavra, ela se virou e começou a levar as roupas para a lavanderia.
Ao sair, ouviu Brenda envolver os braços no pescoço de Caio. "Oh, Caio, você é o melhor. Você sempre cuida de mim."
Sua voz, suave e indulgente, a seguiu. "Qualquer coisa por você, meu amor."
Helena olhou para a montanha de sedas e tecidos delicados empilhados na lavanderia e se sentiu a maior tola do mundo.
Já passava da meia-noite quando ela terminou. O movimento repetido de esfregar reabriu as feridas em suas costas. Sua perna estava inchada e quente ao toque. Uma infecção se instalara, e uma febre assolava seu corpo.
Ela subiu as escadas às cegas, sua visão embaçada. Chegou ao seu quarto antes de desabar no chão, inconsciente.
Quando acordou, estava em um quarto branco e estéril. Uma enfermeira ajustava um soro intravenoso conectado ao seu braço.
"Você acordou", disse a enfermeira gentilmente. "Você está com febre alta. O Sr. Barros a trouxe pessoalmente. Ele estava muito preocupado. Ele nos disse especificamente para cuidar muito bem de você."
O coração de Helena deu um solavanco estranho e doloroso. Caio? Preocupado com ela? Ela sabia que não devia acreditar nisso.
A porta de seu quarto se abriu com um estrondo.
Caio entrou furioso, seu rosto uma máscara de raiva trovejante. Ele segurava uma pistola e pressionou o cano frio diretamente contra a testa dela.