Das Cinzas ao Seu Abraço
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Capítulo 4

"Você é patético, sabia?", Rodrigo zombou, o rosto próximo ao de Elias. "Correndo atrás de uma mulher que não suporta te ver. O Ricardo nos contou como você tentou atacá-lo."

"Você é uma vergonha", acrescentou Gustavo, empurrando Elias novamente, desta vez com mais força. "Acha que pode simplesmente forçar a entrada no nosso mundo? Você precisa aprender o seu lugar."

Eles iam fazer isso ali mesmo, no meio de uma loja de luxo lotada. Eram ricos e arrogantes o suficiente para acreditar que não haveria consequências.

Eles se aproximaram dele. Elias ergueu as mãos, tentando se defender, mas eram quatro contra um. Um soco voou, atingindo-o no queixo. Outro bateu em seu estômago, tirando-lhe o fôlego.

Ele era um mecânico, forte por anos de trabalho físico, mas não era um lutador. Sua resistência parecia apenas enfurecê-los mais. Eles o empurraram para trás, rindo enquanto ele tropeçava.

Ele bateu em uma vitrine alta. Houve um estalo doentio de vidro e metal. Uma coleção de relógios delicados, incrustados de diamantes, caiu em cascata no chão de mármore, quebrando-se com o impacto.

A loja ficou em silêncio. Todos olharam.

Rodrigo, Gustavo e seus amigos pararam, os olhos arregalados. Então, começaram a rir.

"Ah, agora você está muito ferrado", disse Rodrigo, apontando para os destroços. "Parece que você vai ter que pagar por isso, amigão."

Eles se afastaram, desaparecendo na multidão.

"Foi ele! Aquele homem acabou de destruir a vitrine!", gritou Gustavo para a gerente da loja, que estava correndo em sua direção.

Então eles se foram, deixando Elias sozinho no meio do desastre que haviam criado.

A gerente da loja, uma mulher de aparência severa com o rosto contraído, agarrou seu braço.

"Você vai pagar por isso!", ela gritou. "Até o último centavo!"

"Não fui eu", Elias tentou explicar. "Fui atacado. Eles me empurraram."

"Não me importa!", a gerente cuspiu, seu aperto se intensificando. "Eu vi você. Você é o responsável. Aquela vitrine vale mais de um milhão de reais. Você tem um milhão de reais?" Ela o olhou de cima a baixo com desprezo. "Duvido. Você provavelmente não tem um tostão no bolso. Vou chamar a polícia."

Ela começou a pegar o telefone, a outra mão ainda presa em seu braço como um torno. Ela parecia querer revistar seus bolsos ela mesma.

"Isso não será necessário."

Uma voz calma e fria cortou o caos.

A multidão se abriu. Isadora Navarro estava lá, olhando a cena com uma expressão de profundo aborrecimento. Ela estava fazendo compras em uma sala privativa nos fundos.

Ela se aproximou, seus saltos caros estalando no chão de mármore. Ela não olhou para Elias. Dirigiu-se à gerente.

"Coloque os danos na minha conta."

O queixo da gerente caiu. "Sra. Navarro, mas-"

"Eu vou cobrir", disse Isadora, sua voz não deixando espaço para discussão.

Elias congelou. Ele estava ali, machucado e humilhado, e ela tinha visto tudo. Uma parte dele, uma parte estúpida e esperançosa, pensou que ela poderia finalmente ver a verdade.

Ele abriu a boca para agradecê-la, para explicar, mas ela falou primeiro, seus olhos finalmente pousando nele. Eram frios como gelo.

"Isso não significa que eu te perdoo", disse ela. "Considere isso um pagamento para te manter quieto. Mas vem com uma condição."

Ela fez uma pausa, deixando o silêncio pairar no ar.

"Você vai até o Ricardo, de joelhos, e vai pedir desculpas por tê-lo atacado. Você vai implorar pelo perdão dele."

Elias a encarou, o sangue gelando. Pedir desculpas? Ao homem que havia orquestrado tudo isso?

"Não", disse ele, a voz baixa, mas firme. "Eu não vou."

Ele viu um lampejo de surpresa nos olhos dela. Ela estava acostumada a ser obedecida.

"Eu não o ataquei", continuou Elias, traçando uma linha na areia. "E não devo nada a você, nem a ele. Nós terminamos, Isadora. Eu vou resolver isso sozinho."

Sua expressão endureceu. Aquele lampejo de surpresa foi substituído por um olhar familiar de desprezo. Por um momento, ele pensou que ela o via, realmente via o homem diante dela, não o monstro que Ricardo pintara. Mas então o momento passou.

"Ótimo", disse ela, a voz seca. "Faça o que quiser."

Ela se virou e foi embora, deixando-o para enfrentar as consequências sozinho.

Elias resolveu a situação com a loja. Deu-lhes as informações de contato de Beatriz Lobo, sabendo que a equipe jurídica dela cuidaria de tudo. Ele saiu da loja para a tarde cinzenta. Começara a chover, uma garoa fria e miserável.

Ele ficou na calçada, sem guarda-chuva, tentando chamar um táxi. Os carros espirravam água nele ao passar.

Uma limusine preta e elegante parou ao seu lado. A mesma que o levara até ali. Mas não era seu motorista. O motorista de Isadora saiu e abriu a porta traseira para ela.

Ela entrou, acomodando-se no assento de couro macio. O carro começou a se afastar. Ela passou direto por ele, sem sequer um olhar em sua direção, uma rainha em sua carruagem deixando um plebeu para apodrecer na chuva.

Ele começou a andar, a chuva fria encharcando sua jaqueta, gelando-o até os ossos. Ele não sabia para onde estava indo. Apenas andava.

Ele estava a uma quadra de distância quando escorregou no pavimento molhado. Caiu com força, a cabeça batendo no concreto. A dor explodiu em seu crânio, e sua visão turvou. Ele ouviu o guincho de pneus e viu faróis vindo em sua direção.

O mundo ficou branco.

Ele não foi atingido. O carro parara a centímetros dele. Ele ficou ali, atordoado, a chuva lavando seu rosto.

Ele ouviu uma porta de carro abrir e fechar por perto. A limusine de Isadora. Não fora muito longe.

Ele ouviu a voz do motorista dela, abafada pela chuva. "Sra. Navarro, devemos verificar como ele está?"

Houve uma pausa. Ele a imaginou no carro quente e seco, olhando para ele, um pedaço de lixo na rua. Ele imaginou a luta em sua mente. A pessoa lógica e fria que ela era agora dizendo-lhe para seguir em frente, e algum pequeno pedaço enterrado da antiga Isa dizendo-lhe para parar.

Ele ouviu a voz dela, afiada e irritada. "Tudo bem."

Passos se aproximaram. Uma mão, forte e familiar, agarrou seu braço e o ergueu. Um guarda-chuva apareceu sobre sua cabeça.

Ele olhou para o rosto de Isadora. Ela parecia furiosa, como se ajudá-lo fosse a coisa mais inconveniente que já lhe acontecera.

"Entre no carro", ela ordenou.

"Não", disse Elias, puxando o braço. "Não quero sua ajuda."

Ele preferia ficar na chuva congelante e se afogar a aceitar mais um pingo de sua pena, mais uma gota de sua caridade.

"Não seja tolo, Elias", ela retrucou. "Você está sangrando."

Ela o alcançou novamente, mas ele recuou, saindo de debaixo do guarda-chuva e entrando no aguaceiro.

"Eu disse não."

O rosto dela se contraiu de frustração. Por um momento, ela pareceu que ia deixá-lo ali. Mas então, com um rosnado de exasperação, ela se lançou para a frente, agarrou-o pela frente de sua jaqueta molhada e o arrastou em direção à porta aberta do carro.

"Você vai entrar neste carro", disse ela, a voz baixa e ameaçadora, "quer você goste ou não."

Ela o empurrou para o banco de trás e bateu a porta atrás dele.

            
            

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