O Jogo Mais Cruel do Negociador
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Capítulo 6

Eu o observei, este homem que um dia amei, enquanto ele se preocupava com Bárbara. Ele era um estranho. Um estranho perigoso e manipulador.

"Ela me bateu primeiro", eu disse, minha voz desprovida de emoção. Apontei um dedo trêmulo para Bárbara. "Ela roubou de mim. E insultou minha mãe morta."

Minha cabeça estava clara, mesmo com a bochecha latejando com uma dor ardente. A névoa de amor e luto finalmente se dissipou, deixando para trás uma clareza dura e afiada.

Heitor finalmente olhou para mim, seus olhos registrando brevemente o hematoma inchado em meu rosto. Um lampejo de algo - culpa? preocupação? - cruzou suas feições antes de ser substituído por aborrecimento.

"Alice, não seja ridícula", ele retrucou, sua atenção já voltando para Bárbara.

Ignorei-o e falei calmamente com o operador do 190, dando meu nome e endereço.

"Você não pode estar falando sério!", Heitor explodiu quando desliguei. "Você está chamando a polícia? Para a Bárbara? Você tem alguma ideia de como isso vai parecer? O escândalo pode arruinar a carreira dela!"

Sua preocupação era apenas com ela. A reputação dela. O futuro dela. Eu era apenas um dano colateral.

"Eu deveria ter deixado ela me bater?", perguntei, minha voz escorrendo sarcasmo. "Deveria ter agradecido por ela roubar a memória do meu pai e cuspir no túmulo da minha mãe?"

Ele não tinha resposta. Apenas me encarou, o maxilar cerrado.

Bárbara, sempre a atriz, soltou um gemido baixo. "Heitor, não me sinto bem. O bebê..."

Essa era a deixa dele. Ele a pegou nos braços, seus movimentos gentis e protetores. Ele a carregou em direção à porta, parando para me fuzilar com o olhar.

"Eu lido com você mais tarde", ele rosnou.

Eu o vi ir, embalando-a como se fosse feita de vidro. Ele me deixou de pé nos destroços de nossa vida, sangrando e sozinha, sem um segundo olhar. O desespero era um peso físico, pressionando-me, tornando difícil respirar.

A polícia chegou, seguida pelos paramédicos. Eles cuidaram do meu rosto enquanto um policial uniformizado pegava meu depoimento.

"A câmera de segurança no corredor deve ter tudo", eu disse a ele.

Ele voltou alguns minutos depois, sua expressão de desculpa. "Sinto muito, senhora. A gravação parece estar corrompida. A filmagem da última hora sumiu."

Claro que sumiu. Heitor teria pensado nisso. Ele teria apagado as provas para protegê-la.

"Falamos com o Sr. Ferraz no hospital", continuou o policial. "O depoimento dele contradiz o seu. Ele alega que você foi a agressora."

Soltei uma risada curta e amarga. "Claro que ele alegou."

"Dada a posição dele, e a falta de provas", disse o policial, claramente desconfortável, "é a sua palavra contra a dele. E a dela. Será muito difícil prestar queixa."

"Então, ele é um herói, e eu sou uma mentirosa", eu disse, as palavras com gosto de cinzas. "É isso?"

"Não estou dizendo isso, senhora. Mas o Sr. Ferraz é um agente federal altamente condecorado."

Eu sorri, uma expressão fria e sem humor. "Não se preocupe, policial. Eu não sou a esposa dele. Não somos casados. Na verdade, não temos nenhuma relação legal."

Vi o lampejo de surpresa em seus olhos.

"Ele é uma testemunha pessoal e profissionalmente comprometida", afirmei, minha voz firme. "E ele é cúmplice por adulterar provas. Quero que isso seja investigado. Completamente."

O policial prometeu que investigaria e saiu. Eu sabia que era uma promessa vazia. O poder e a influência de Heitor esmagariam qualquer investigação real.

Ele voltou mais tarde naquela noite, carregando uma sacola de comida do meu restaurante favorito. Uma patética oferta de paz.

Senti um calafrio quando ele entrou no quarto. Era como assistir a um predador tentando imitar a emoção humana.

"Você apagou a filmagem de segurança", eu disse. Não era uma pergunta.

Ele teve a decência de parecer momentaneamente culpado antes que sua máscara de autojustificação voltasse ao lugar. "Bárbara estava transtornada. Ela não quis te bater. Ela está grávida, Alice. Os hormônios dela estão uma bagunça."

Ele a estava defendendo. De novo.

"Você traiu seu juramento, Heitor", eu disse, minha voz tremendo com uma fúria fria. "Você obstruiu a justiça. Por ela."

Ele teve a audácia de parecer ofendido. "Eu estava protegendo minha família! E você não fez nada além de tentar destruí-la desde que ela voltou!"

Joguei a sacola de comida nele. Atingiu seu peito com um baque surdo, derramando molho por toda a sua camisa impecável.

"Aquela caixa", gritei, meu controle finalmente se quebrando. "Era do meu pai! Eu te disse o que significava para mim! E você deu para ela?"

"Ela gostou!", ele gritou de volta. "Eu ia te comprar outra!"

"E o colar da minha mãe? Era só mais uma bugiganga que você ia substituir?"

Ele saiu, prometendo me dar espaço, prometendo "consertar as coisas". Mentiroso.

Eu soube então que não podia confiar no sistema. O sistema foi projetado para proteger homens como ele. Se eu quisesse justiça, teria que fazer com minhas próprias mãos.

Minha cabeça latejava. O peso total de suas traições se abateu sobre mim, um fardo esmagador e sufocante. Ele não era apenas um narcisista. Ele era um monstro, capaz de uma crueldade profunda e calculada.

O telefone tocou e eu me encolhi, meu coração batendo forte. Não era Heitor. Era meu irmão, Daniel. Sua voz estava tensa com um pânico mal controlado.

"Alice", disse ele, a voz falhando. "É a antiga unidade do papai. Houve um incidente. Eles precisam de você."

            
            

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