Um impulso sombrio tomou conta de mim. O anel tinha um botão pequeno, quase invisível, na lateral. Um botão de pânico, ela provavelmente disse a ele. Hesitei por apenas um segundo antes de pressioná-lo. Era um receptor, não um rastreador. Foi projetado para deixá-la escutar.
O anel ganhou vida, não com um alarme, mas com uma voz. A voz de Douglas, choramingando e patética.
"...chorando rios, Cat. Pensei que você ia passar o dia todo comigo."
A voz de Catarina era um murmúrio baixo, doce e enjoativo. "Eu sei, meu amor. Me desculpe. Tive que dar o presente do Heitor. Você sabe como ele é frágil. Tenho que manter as aparências."
"Mas você prometeu", fungou Douglas. "Você disse que estaria aqui."
"E eu estarei", ela sussurrou. "Estou a caminho agora mesmo. Vou cuidar de você, eu prometo."
"Sério? Você está voltando?" Sua voz estava cheia de uma esperança patética e infantil.
"Eu nunca mentiria para você, Douglas."
Ouvi o zumbido das hélices do helicóptero através do pequeno alto-falante do anel. O mesmo som que eu acabara de ouvir enquanto ele a levava para longe de mim. Ela costumava me levar para passeios naquele helicóptero quando eu estava me recuperando, dizendo que estávamos voando acima de todos os nossos problemas.
Agora eu sabia a verdade. O problema não estava abaixo de nós. Estava sentado bem ao meu lado, segurando minha mão e mentindo na minha cara. O maior problema da minha vida era a mulher que eu pensava ser minha salvadora.
O som do helicóptero desapareceu e depois voltou. Estava pousando. Mas não aqui.
Caminhei até a beira da propriedade e olhei por cima do penhasco. Lá, no terreno adjacente, havia outra casa. Uma mansão de vidro e pedra quase idêntica. O helicóptero estava em seu heliponto.
O anel na minha mão estalou novamente.
"Oh, Douglas, você gostou?" A voz de Catarina estava brilhante com uma falsa excitação. "Eu a construí só para você. Um ninho de amor, só para nós."
"É... é linda, Cat", ele gaguejou. "Igual à dele."
"Melhor que a dele", ela corrigiu suavemente. "Agora, vou ficar com você o dia todo. Podemos fazer o que você quiser."
Meu celular vibrou. Uma mensagem dela.
"Sinto muito, meu amor. Um cliente está tendo um colapso. Tenho que ficar e ajudá-lo com este novo projeto. Chegarei tarde em casa. Não me espere. Bjs."
Olhei para a tela, minha mão segurando o celular com tanta força que o plástico rangeu. Lágrimas embaçaram minha visão. Ela podia comprar duas mansões idênticas para dois homens. Ela podia sussurrar as mesmas promessas nos ouvidos de dois homens. Mas ela só podia pertencer a um deles. E não era eu.
Eu me senti como a outra. A amante secreta e vergonhosa, escondida enquanto ela vivia sua vida real com seu marido real.
Eu só queria que esse pesadelo acabasse.
Não fiquei na mansão. Voltei para a casa - a que eu costumava chamar de lar - e me tranquei no meu estúdio. Não dormi. Eu desenhei. Derramei toda a dor, a traição e a fúria na página. Eu tinha que ganhar aquele prêmio de Londres. Era minha única saída. Meu único caminho para uma vida além dela.
Uma nova ideia surgiu em minha mente, nascida da agonia crua. Um design que era ao mesmo tempo belo e quebrado, elegante e marcado por cicatrizes. Era o melhor trabalho que eu já tinha feito.
Depois de horas de esboços frenéticos, finalmente terminei o rascunho inicial. Minha mão tremia de exaustão. Ao pousar o lápis, meus dedos roçaram o anel que eu havia deixado na mesa.
Ele ligou novamente. Douglas estava falando.
"...estou tão cansado de me esconder, Cat. Quero estar com você em público. Quero que todos saibam que sou seu marido."
Houve um longo silêncio. Meu braço tremeu, a antiga lesão latejando com uma dor fantasma. Ela não faria isso. Ela não podia. Ela havia construído toda essa mentira elaborada para proteger sua imagem, para me manter como seu troféu perfeito e quebrado. Ela nunca arriscaria se expor. Ela nunca deixaria um Zé Ninguém como Douglas Silva ficar ao seu lado à luz do dia.
Então, a voz de Catarina veio, suave e resoluta.
"Ok."
Apenas essa palavra. Ok.
Isso me atingiu com mais força do que o martelo jamais fez.