Deixei que ela me vestisse como uma boneca, me colocando em um terno sob medida que parecia uma camisa de força. Eu a segui para fora de casa como um cordeiro para o abate.
A festa foi em um luxuoso salão de festas de um hotel que ela possuía. Estava cheio da elite de São Paulo, todos bajulando Catarina, elogiando seu sucesso, sua beleza, sua devoção ao seu pobre e aleijado marido.
Os garçons e a equipe usavam uniformes brancos idênticos e máscaras prateadas que cobriam seus rostos inteiros.
"Para que ninguém ofusque os convidados de honra", explicou Catarina com um sorriso tenso.
Tive uma sensação doentia no estômago. Eu sabia o que era aquilo. Vasculhei os rostos mascarados, meus olhos procurando aquele que eu sabia que encontraria.
Um conhecido de negócios me deu um tapa no ombro. "Você é um homem de sorte, Heitor. Catarina te mima. Aquela nova mansão que ela te comprou? Ouvi dizer que custou uma fortuna."
"O amor dela por você só fica mais forte", disse outra mulher com entusiasmo. "Ela disse à minha esposa que não te trocaria por nada no mundo."
Cada palavra era uma mentira, e todos estavam engolindo tudo.
De repente, houve um estrondo. Um garçom mascarado tropeçou, fazendo uma bandeja de copos se estilhaçar no chão. O som ecoou na sala subitamente silenciosa. Todos conheciam o temperamento de Catarina. Um movimento em falso e você estava acabado.
O garçom se levantou desajeitadamente, suas mãos enluvadas atrapalhando-se com o uniforme rasgado. Vi um flash de pele pálida e trêmula. Os convidados prenderam a respiração, esperando a explosão.
A voz de Catarina era gelo. "Você. Comigo. Agora."
Ela se virou para mim, sua expressão suavizando instantaneamente. "Apenas uma pequena bagunça, meu amor. Eu resolvo."
Ela agarrou o braço do garçom e o arrastou em direção às escadas que levavam às suítes privativas.
Eu os segui. Eu tinha que ver.
Do patamar, vi-a empurrá-lo para dentro de um quarto. Mas ela não estava com raiva. Ela o estava beijando, suas mãos percorrendo o corpo dele sob o uniforme rasgado.
"Você é tão desajeitado", ela ronronou. "Mas não consigo ficar brava com você."
Era Douglas. Claro que era Douglas. Este era o seu grande plano. Trazer o marido para a nossa festa de aniversário e exibi-lo como um servo, bem debaixo do meu nariz.
Uma dor aguda atravessou meu peito, afiada e agonizante.
"Me desculpe", choramingou Douglas, sua voz abafada contra os lábios dela. "Eu só odeio ver você com ele. Isso me deixa louco."
"Deixa?" sussurrou Catarina, um sorriso cruel brincando em seus lábios. "Então talvez você precise de um tratamento especial para se acalmar."
Ela o empurrou para a cama, e eu não consegui mais assistir. Lembrei-me dela sussurrando as mesmas palavras para mim, prometendo fazer minha dor desaparecer. Era tudo parte do seu roteiro. Um roteiro que ela usava para nós dois.
Virei-me e me afastei, meu corpo entorpecido, meu coração uma pedra fria e morta.
Mais tarde, ela desceu, de mãos dadas com Douglas, que não estava mais de uniforme. Ela anunciou para a multidão que aplaudia que tinha outro presente para mim - um hotel cinco estrelas no centro de São Paulo.
Enquanto os convidados aplaudiam, Douglas estava atrás do bar, preparando uma torre de champanhe. Seus olhos encontraram os meus do outro lado da sala, cheios de um triunfo presunçoso.
Ele "acidentalmente" esbarrou na mesa. A torre de taças balançou e depois desabou.
Cacos de vidro voaram para todos os lados. Um pedaço grande e irregular voou diretamente em direção a Douglas.
Sem pensar duas vezes, Catarina se lançou. Ela não se lançou em minha direção. Ela me empurrou para o lado para protegê-lo.
Caí para trás, minha cabeça batendo no chão de mármore com um estalo doentio. Meu corpo aterrissou no mar de vidro quebrado.
A dor explodiu por todo o meu corpo. Uma picada aguda na minha testa. Dezenas de cortes menores nos meus braços e costas.
O mundo girou. Através de uma névoa embaçada, eu a vi. Ela estava abraçando Douglas, verificando se ele estava ferido, seu rosto uma máscara de puro terror. Ela nem sequer olhou para mim.
Naquele momento, eu soube. Eu tinha perdido. Ela tinha feito sua escolha. Era ele. Sempre tinha sido ele.
Deitado ali, sangrando no chão da festa dela, cercado por pessoas que pensavam que eu era o homem mais sortudo do mundo, comecei a rir. Um som quebrado e oco.
A última coisa que vi antes de desmaiar foi o rosto dela, finalmente se virando para mim, seus olhos arregalados com um lampejo de algo que parecia quase surpresa.