Denise olhou para Caio, o coração um peso morto no peito. "Você deixou ela fazer isso? Você deixou ela jogar minha vida numa caixa e substituí-la?"
"São só algumas fotos, Dê", disse Caio, a voz carregada de irritação. "E alguns papéis. Não seja tão dramática."
"Papéis?", a voz dela era perigosamente baixa. "Aqueles 'papéis' representam anos da minha vida. O trabalho que te deu a promoção. O trabalho que pagou por esta casa."
Seu rosto endureceu. "Esta é a minha casa. Eu sou o homem desta casa, e o que eu digo, é lei."
As palavras ecoaram no silêncio tenso. Era uma declaração de guerra.
Ela pensou em sua infância, jogada entre lares adotivos, nunca tendo um lugar que fosse verdadeiramente seu. Ela havia derramado todas as suas esperanças de um lar de verdade, uma família de verdade, neste casamento, nesta casa. E ele estava dizendo que ela era apenas uma convidada. Uma indesejada.
Chayene se aproximou de Denise, a voz um sussurro conspiratório. "Viu? Ele sempre vai me escolher. Ele me mima. Ele me deixa fazer o que eu quiser."
Ela deu um tapinha na barriga novamente. "Especialmente agora. Ele está tão preocupado com o bebê. O bebê dele."
Denise a ignorou. Seu foco estava inteiramente em Caio.
"Tire ela da minha casa", disse Denise.
"Eu te disse, ela não tem para onde ir", retrucou Caio. "Pare de ser tão egoísta."
"Egoísta?", a palavra saiu de seus lábios em um grito cru. "Eu desisti de tudo por você!"
"E eu estou te dizendo para ser paciente!", ele rugiu de volta. "Por que é tão difícil para você entender?"
Chayene sorriu com desdém. "Você é apenas uma técnica, Denise. Uma mecânica glorificada. Você se acha tão importante, mas sem o Caio, você não é nada. Ele é quem vai longe. Você vai ser deixada para trás, uma mulher amarga e fracassada."
Denise voltou seu olhar gelado para Chayene. "Eu sou uma arquiteta de software líder. Os sistemas que eu projetei valem milhões para esta empresa. Caio conseguiu sua promoção por causa do meu trabalho. Nunca se esqueça disso."
Chayene apenas riu. "Ele está cansado de você. Ele me disse."
Mais tarde naquela noite, Caio entrou no quarto deles. Denise estava guardando seus prêmios e fotos em uma caixa. Ele tentou suavizar o tom.
"Olha, Dê, apenas deixe isso pra lá por enquanto. Você está dificultando as coisas para mim."
Ele gesticulou para a caixa. "São apenas pedaços de papel. Realmente vale a pena brigar por isso?"
Apenas pedaços de papel. As palavras a atingiram com a força de um tapa. Ele costumava ter tanto orgulho de suas conquistas. Costumava se gabar dela para quem quisesse ouvir. Agora, para apaziguar sua nova mulher, ele desdenhava de tudo o que ela havia conquistado.
Foi a primeira vez que eles tiveram uma briga de verdade, aos gritos. Toda a raiva reprimida, a dor, a traição, jorraram dela.
"SAI DAQUI!", ela gritou, a voz rouca.
"ÓTIMO!", ele gritou de volta, o rosto vermelho de raiva. "ESTOU CANSADO DE TE MIMAR DE QUALQUER FORMA!"
Ele bateu a porta com tanta força que um porta-retrato caiu da parede. O vidro se estilhaçou. Era uma foto deles, sorrindo em uma viagem de férias. Uma vida atrás.