A acusação era tão insana, tão completamente sem fundamento, que Denise só pôde encará-lo incrédula. "Isso é loucura. Eu nunca faria isso."
"Os médicos encontraram vestígios de uma erva rara no sistema dela. Pode causar um aborto", ele esbravejou, seu aperto se intensificando. "E como você era a única outra pessoa na casa, teve que ser você!"
Ele nem mesmo considerou a inocência dela. Não parou para pensar em como ela, uma arquiteta de software, conseguiria colocar as mãos em uma "erva rara". Ele já a havia julgado e condenado em sua mente. A palavra de Chayene era o evangelho.
Os últimos resquícios de seu amor por ele se transformaram em puro nojo.
Com uma onda de adrenalina, ela o empurrou para longe. "Ela nem está grávida do seu filho! Por que você está tão obcecado com um bebê que não é seu?"
Seu rosto escureceu. "Você se tornou um monstro, Denise. Irracional. Cruel. Eu estava errado sobre você. Tão errado."
"Você está errado sobre tudo", disse ela, a voz escorrendo desprezo.
"Você vai ao hospital comigo", disse ele, agarrando seu braço novamente. "Você vai se ajoelhar e pedir desculpas à Chayene."
Ele a arrastou para fora de casa e a forçou a entrar em seu carro. A viagem para o hospital foi silenciosa e sufocante.
Chayene estava em um quarto particular, parecendo pálida e fraca contra os travesseiros brancos. Ela tinha um soro no braço, embora a bolsa fosse apenas de soro fisiológico. No momento em que viu Denise, começou a chorar.
"Caio, por que você a trouxe aqui? Tenho medo dela."
"Peça desculpas", ordenou Caio, empurrando Denise em direção à cama.
Denise tropeçou, apoiando-se na parede. Olhou para o homem à sua frente, este estranho que foi tão rápido em acreditar no pior dela, que a humilharia publicamente por uma mentirosa.
"Não tenho nada pelo que me desculpar."
Chayene se sentou, sua voz um sussurro baixo e venenoso apenas para os ouvidos de Denise. "Viu? Ele nunca vai acreditar em você. Ele não te ama. Ele nunca amou."
As palavras deveriam quebrá-la, mas fizeram o oposto. Elas cortaram o último e final fio de apego.
"Vocês são nojentos", disse Denise, olhando de Chayene para Caio. "Ambos."
Ela se virou e saiu do quarto.
"Denise, volte aqui!", gritou Caio.
Ele começou a segui-la, mas Chayene soltou um grito de dor. "Caio, minha barriga! Está doendo!"
Ele hesitou, dividido por um único segundo. Então se virou para a cabeceira de Chayene. Ele escolheu a mentira.
Denise caminhou pelo longo e estéril corredor, seus passos firmes. Mas o fardo emocional era demais. O mundo girou, as luzes do teto se transformando em borrões. Seus joelhos cederam. Ela desabou no chão frio e implacável.
Quando acordou, estava em uma cama de hospital. Uma enfermeira estava verificando seus sinais vitais.
"Você desmaiou de exaustão e desidratação, moça. Demos-lhe alguns fluidos. Há algum familiar que possamos chamar para você?"
Denise olhou para a cadeira vazia ao lado de sua cama. Ele não viera por ela. Nem mesmo verificara como ela estava.
"Não", disse ela, a voz oca. "Eu não tenho família."
Ela passou a noite. Na noite seguinte, pegou um táxi para casa. Entrou e encontrou Caio e Chayene rindo e compartilhando uma refeição na mesa de jantar. Pareciam um casal feliz e doméstico.
Eles não ligaram. Não verificaram. Nem mesmo notaram que ela havia sumido.
Caio olhou para cima, sua expressão de irritação. "Onde você esteve? Fugindo assim sem dizer uma palavra. Você me deixou preocupado."
Preocupado. A palavra era uma piada amarga. Preocupado que ela causasse mais problemas? Preocupado que ela manchasse ainda mais sua preciosa reputação?
Ele não estava preocupado com ela.
Ela não disse uma palavra. Apenas olhou para ele, para o homem a quem dera seu coração, e não sentiu nada além de um vasto e frio vazio. Ele finalmente matara cada pedacinho de seu amor.
Ela se virou e caminhou em direção ao quarto, ignorando seus chamados.
"Denise! Não me dê as costas! Você é quem está errada aqui! Você tentou machucar minha esposa e meu filho, e nem sequer pediu desculpas!"
Ela parou na porta, de costas para ele, e disse as palavras que definiriam sua nova vida.
"Acabou, Caio."