Ele interveio imediatamente. "Ela foi liberada pelos médicos, mas está sofrendo de estresse emocional. É por isso que ela está aqui." Ele olhou diretamente para a câmera. "Estou avisando a todos para pararem com esses boatos infundados. Se isso continuar, minha equipe jurídica tomará medidas."
Ele sinalizou para o cinegrafista parar a transmissão. A performance havia acabado.
Jade se virou para Catarina, pegando sua mão. O toque dela parecia gelo. "Catarina, sinto muito que isso tenha acontecido. É tudo culpa minha."
Catarina puxou a mão e soltou uma risada seca e sem humor. "Não. A culpa é minha."
Ela olhou para Caio. "Eu estava errada. Errada em confiar em você. Errada em acreditar que eu poderia ser suficiente para você."
"Vou para casa", disse ela, a voz monótona.
"Eu te levo", ofereceu Caio, um lampejo de culpa em seus olhos.
Nesse momento, uma enfermeira entrou. "Senhorita Moura, está na hora do seu exame de sangue."
Jade imediatamente se encolheu contra os travesseiros. "Ah, não. Caio, você sabe que eu não posso... Tenho fobia de agulhas."
Caio hesitou, olhando entre Catarina e Jade. A escolha estava clara em seu rosto antes mesmo de ele a fazer.
Catarina não esperou por sua decisão. "Tudo bem. Eu vou sozinha."
Ela se virou e saiu do quarto. Enquanto a porta se fechava atrás dela, ela teve um último vislumbre de Caio, sentado na beirada da cama, segurando a mão de Jade, confortando-a.
Seu coração estava dormente. Ela não sabia mais se era dor ou apenas decepção. Uma resignação final e esmagadora.
Ela tinha que ir embora. Não apenas deste hospital, mas desta vida pela qual lutou tanto. Ela desapareceria. Completamente. Sem corpo, sem vestígios. Apenas sumiria.
Aquela noite foi o primeiro jantar em família desde o casamento. Deveria ser uma celebração. Para Catarina, parecia um funeral.
Ela entrou e os viu todos na sala de estar. Beto e Carolina Montenegro riam com Jade, que estava sentada entre eles no sofá. Caio estava ajoelhado no chão na frente de Jade, massageando sua panturrilha.
"Ah, você está aqui", disse Carolina quando viu Catarina. Seu sorriso desapareceu. O calor na sala caiu vários graus.
"Jade passou o dia todo no hospital para exames", explicou Caio, sem levantar o olhar. "A perna dela está dolorida." Ele olhou para Catarina. "Os mais velhos estão aqui. Não faça uma cena."
"Não vou", disse Catarina em voz baixa.
Na mesa de jantar, ela era invisível. Toda a atenção, toda a conversa, todo o afeto era direcionado a Jade. Caio descascou camarões e quebrou patas de caranguejo para Jade, colocando a carne cuidadosamente em seu prato. Era um ato de cuidado que ele costumava reservar para Catarina.
Ela se lembrou da primeira vez que veio a esta casa para jantar. Os Montenegro foram educados, mas frios, sua desaprovação uma coisa tangível no ar. Ela pensou que eles eram apenas pessoas formais e reservadas. Agora ela entendia. Eles não eram frios. Eram apenas frios com ela.
Ela comeu em silêncio, a comida sem gosto em sua boca, cada mordida uma luta. A dor em seu peito era uma pontada surda e constante.
"Caio, você se importaria de pegar um pouco de sopa para todos?", perguntou Carolina, sorrindo para o filho.
Catarina se lembrou de uma vez em que Caio cozinhou sopa de peixe só para ela, dizendo que era a receita secreta de sua família.
Jade fez um biquinho brincalhão. "Mas Caio, você prometeu que sua famosa sopa de peixe era só para mim."
"Esta é sopa de galinha, boba", disse Caio pacientemente, a voz impossivelmente gentil. "A sopa de peixe ainda é só para você."
Era isso. Essa era a verdade que ela vinha evitando. A intimidade casual e impensada, o tom gentil, as promessas exclusivas. Esse era o amor verdadeiro dele. A ternura que ele mostrava a Catarina era apenas uma imitação pálida.
"Eu pego a sopa para você, Catarina!", disse Jade, levantando-se com um sorriso brilhante e falso.
"Eu posso pegar", disse Catarina, tentando impedi-la.
"Não é problema nenhum. Conheço esta casa melhor do que ninguém", disse Jade, uma clara declaração de seu lugar aqui.
Ela foi para a cozinha. O cheiro forte de caldo de peixe flutuou para fora, revirando o estômago de Catarina.
Jade voltou, carregando uma única tigela. "Você sabia", disse ela, a voz baixa e destinada apenas a Catarina, "que Caio e eu tínhamos um noivado de infância? Nossos pais arranjaram quando éramos crianças."
As palavras atingiram o coração já machucado de Catarina.
"Promessas de homens", acrescentou Jade com um sorriso de escárnio, "não valem muito, não é?"
Uma dor aguda atravessou o peito de Catarina. O ácido subiu por sua garganta.
"Você está bem, Catarina?", perguntou Jade, sua expressão de falsa preocupação. "Você deveria pegar a sopa. Caio está esperando."
Catarina tentou recusar, empurrar a tigela, mas suas mãos tremiam. A sopa quente transbordou, derramando sobre a frente de seu vestido. Mas não foi Catarina quem gritou.