"Sua bruxa! Pé-frio!", gritou Carolina Montenegro, correndo para embalar Jade. "Primeiro um acidente de carro, agora isso! O que você fez com a nossa Jade?"
O olhar de Beto Montenegro era como gelo. "Catarina, você é a Sra. Montenegro agora. Tente agir como tal."
Catarina olhou para além deles, seus olhos procurando os de Caio. Esta era sua última esperança. Ela precisava que ele acreditasse nela, só desta vez.
Ele não encontrou seus olhos. Passou por ela, ajoelhou-se e gentilmente levantou Jade em seus braços. "Vou te levar para o hospital", disse ele suavemente para Jade, e a carregou para fora da cozinha sem um único olhar para trás.
Catarina o viu partir, sentindo-o sair de seu mundo. A última brasa de esperança dentro dela se apagou, deixando apenas cinzas frias.
Mais tarde naquela noite, de volta à casa vazia, Catarina viu a queimadura vermelha e irritada em sua barriga por causa da sopa. Ela mesma limpou a ferida, a dor física um eco distante da agonia em seu coração. Lágrimas escorriam por seu rosto, silenciosas e quentes.
Ela ouviu a porta da frente se abrir. Era Jade, envolta no caro casaco de caxemira de Caio.
"Caio disse que eu poderia ficar aqui por alguns dias", disse Jade, a voz baixa e tímida. "Ele estava preocupado comigo sozinha."
Caio entrou atrás dela, protegendo-a como se Catarina fosse uma ameaça. "Jade foi gentil o suficiente para trazer comida para você", disse ele, evitando os olhos de Catarina. "Ela estava preocupada que você não tivesse comido."
Ele colocou um recipiente de sopa na frente dela.
Catarina olhou para ele, depois para ele. "Sou alérgica a feijão."
Caio pareceu surpreso. Ele abriu o recipiente. A sopa estava cheia de soja. Ele havia esquecido. De novo.
"Ah, me desculpe!", disse Jade, levando a mão à boca. "Acho que comi sua porção por engano. Aquela era para mim."
"Tudo bem", disse Caio rapidamente, já descartando as necessidades de Catarina. "Ela não vai se importar. Podemos pedir outra coisa para ela."
Catarina olhou para os dois, um par perfeitamente combinado de mentirosos. O absurdo de tudo aquilo a fez querer rir.
Ela se virou e foi para o quarto, fechando a porta.
Horas se passaram. Quando Caio finalmente entrou, não foi para se desculpar.
"Eu sei que você não gosta da Jade", disse ele, a voz dura. "Mas você precisa deixar seus sentimentos de lado. Você vai se desculpar com ela amanhã e cuidar dela até que ela melhore. Pense nisso como uma forma de compensar o que você fez."
Seu estômago se revirou. Seu baixo-ventre doía com uma dor surda e pesada. Seu marido estava trazendo outra mulher para a casa deles na noite de núpcias e ordenando que ela servisse a mulher.
Um suspiro amargo escapou de seus lábios. Ela estava farta. Não passaria o resto de seu precioso tempo nesta miséria.
"Vamos terminar, Caio."
Seu rosto escureceu. "O que você disse?"
"Ainda não somos legalmente casados. Tivemos apenas a cerimônia. Somos apenas namorados. E estou terminando com você."
"Que jogo é esse, Catarina?", ele exigiu, a voz subindo de raiva e confusão.
"Jade me contou sobre o noivado de infância de vocês."
"Aquilo foi só uma brincadeira entre nossos pais! Não significava nada! Ela é minha irmã, só isso!"
"Uma irmã?", Catarina riu, um som oco. "Você tem primas, Caio. Você é tão rígido com elas que elas nem podem te chamar pelo primeiro nome. Mas Jade pode sentar na sua mesa, te tocar, e você deixa seu próprio casamento por ela. Você a deixa ficar em nossa casa. A casa que você prometeu que seria apenas para nós dois."
Caio se encolheu. Ele se lembrou da promessa.
Catarina olhou para ele, seus olhos vazios de tudo, exceto decepção. "Eu tenho meus princípios, Caio. Eu não divido meu marido."
Ele abriu a boca para falar, mas um som suave e choroso veio da porta. Jade estava lá, lágrimas escorrendo pelo rosto.
"Vocês estão brigando por minha causa?", ela chorou. "Sinto muito. Eu vou embora. Vou embora agora mesmo."
Ela se virou e correu, seus soluços ecoando na casa silenciosa.
"Jade!", Caio chamou. Ele pegou as chaves do carro e, sem um segundo olhar para Catarina, correu atrás dela.
O som da porta da frente batendo foi o som de seu coração se partindo pela última vez.