"Me dê isso", sussurrei, minha voz tremendo com uma raiva tão profunda que parecia que ia me partir em duas.
Isabela agarrou o cachorro morto junto ao peito e tropeçou nos braços de Caio, soluçando histericamente. Ele a segurou, murmurando palavras de conforto, seus olhos em mim, frios e duros.
"O que aconteceu, Alina?", ele exigiu.
Minha cabeça zumbia. "Eu não sei."
"Sua mentirosa!", gritou Isabela. Ela jogou um pequeno frasco de pílulas na mesa. Era a minha medicação. As "vitaminas" que Caio vinha me dando. "Eu encontrei isso na tigela de água dele! Você o envenenou porque estava brava com a mordida do cachorro!"
"Eu não fiz isso!", neguei, minha voz falhando. "Eu nunca... Apenas me dê a medalha. Por favor."
Eu estendi a mão para pegá-la. A mão de Caio disparou, agarrando meu pulso. Seu aperto era como ferro.
"Peça desculpas a ela, Alina", disse ele, sua voz perigosamente baixa.
Eu o encarei, e então comecei a rir. Um som selvagem e descontrolado que fez as pessoas nas mesas ao redor olharem.
"Ela é um monstro", ouvi alguém sussurrar.
"Eu não fiz isso", eu disse, minha voz assustadoramente calma. "E não vou pedir desculpas. Agora, diga à sua esposa para me dar a medalha do meu pai."
Eu o olhei diretamente nos olhos. "Ou você também usou a memória do meu pai para brincar de buscar?"
Pela primeira vez, Caio pareceu abalado. Ele olhou para baixo e viu a medalha. Seu rosto empalideceu. "Isabela, o que é isso?"
Ela se encolheu. Com os dedos trêmulos, ela soltou a medalha da coleira. "É só um pedaço de lata", ela zombou, estendendo-a para mim. "Não sei por que você está tão nervosa por causa dessa coisa barata."
Eu estendi a mão para pegá-la. Ela abriu a mão. A medalha caiu, descrevendo um arco no ar, e pousou com um baque suave no rio que corria ao lado do terraço do restaurante.
"Ops", disse Isabela, seus olhos arregalados com falsa inocência.
O mundo ficou em silêncio. Minha mente ficou em branco. Sem pensar duas vezes, pulei a grade e mergulhei na água escura e gelada.
O frio foi um choque, roubando meu fôlego. Mergulhei de novo e de novo, meus dedos raspando no leito lamacento do rio, procurando às cegas. Eu estava prestes a desistir, meus pulmões gritando por ar, quando meus dedos tocaram em algo frio e metálico.
Vim à superfície, ofegante, a medalha apertada na minha mão. No terraço, Caio não estava olhando para mim. Ele estava segurando Isabela, apontando para o céu.
"Você viu, querida?", ele dizia, a voz suave. "Eu fiz nevar meteoros, só para você."
Os soluços de Isabela se transformaram em um suspiro de encanto.
A chuva de meteoros não era para mim. Era para ela. Seu grande gesto romântico era para sua esposa.
Eu pensei que não tinha mais coração para quebrar, mas estava errada. A dor era uma coisa física, um peso esmagador que dificultava a respiração. Arrependi-me de tê-lo amado. Arrependi-me de tê-lo conhecido. Este era o presente de aniversário dele para mim. Uma humilhação pública final.
Ele finalmente pareceu se lembrar que eu existia. Ele correu para a grade, seu rosto uma confusão de culpa. "Alina, você está bem? Deixe-me te levar para um hospital."
Eu me arrastei para a margem, tremendo, minhas roupas encharcadas e pesadas. Consegui um sorriso fraco. Minha voz era um arranhão rouco. "Diga-me, Caio. Eu, e a memória do meu pai morto, valemos menos para você do que aquele cachorro?"