Sua Esposa Secreta, Sua Vergonha Pública
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Capítulo 4

Fiquei congelada atrás da planta, meu corpo rígido. Cada palavra era um novo corte, arrancando os últimos resquícios do meu coração tolo. Coloquei o vestido que estava segurando em uma cadeira próxima e me virei para sair, meus movimentos duros e robóticos. Eu tinha que sair dali.

Encontrei um corredor vazio e me encostei na parede, deslizando até o chão. Os soluços que eu vinha segurando finalmente se libertaram, sacudindo meu corpo em grandes ondas silenciosas. Ele havia pegado toda a nossa vida, nosso amor, e o transformado em um erro sórdido e sem sentido para apaziguar sua verdadeira amante.

Tudo o que eu queria era pegar a caixinha de música do meu pai e deixar esta cidade, este país, para sempre.

Enxuguei minhas lágrimas, levantei-me e me forcei a voltar para o salão de festas do hotel, onde a gala estava sendo realizada. Eu tinha que encontrá-lo. Tinha que pegar o que era meu.

Eu tinha acabado de entrar no salão de baile cintilante quando uma mão se esticou e me deu um tapa forte no rosto. A força do golpe fez minha cabeça virar para trás.

"Sua vadia!", Evelyn gritou, seu rosto uma máscara de fúria. "Você ousa mostrar seu rosto aqui? Acha que pode roubar meu homem e sair impune?"

A multidão ao nosso redor ficou em silêncio, seus olhos se voltando para o drama que se desenrolava.

"Evelyn, você está enganada", eu disse, minha bochecha ardendo. "Não estou tentando roubar ninguém."

"Mentirosa!", ela gritou, sua voz ecoando na vasta sala. "Eu sei que você tem se encontrado com ele em segredo! Você é uma prostituta nojenta e interesseira!" Ela avançou em mim novamente, mas suas amigas a seguraram.

"Eu vou te matar!", ela cuspiu, seus olhos selvagens. "Vou mandar te jogarem no rio!"

Um pavor frio me invadiu. Essa mulher estava descontrolada. Virei-me para sair, para escapar dessa humilhação pública, mas uma parede de homens - seus amigos, sua segurança - bloqueou meu caminho.

"O que você quer de mim?", perguntei, minha voz tremendo.

Evelyn deu um passo à frente, um sorriso presunçoso e cruel no rosto. "Eu quero que você se ajoelhe", disse ela, sua voz caindo para um sussurro teatral. "E quero que você lamba a sola do meu sapato. Na frente de todo mundo."

A multidão ofegou. A humilhação era tão profunda, tão absolutamente degradante, que senti uma onda de náusea.

"Não", eu disse, minha voz firme. "Eu não vou."

"Você vai."

Uma nova voz cortou a tensão. Bernardo. Ele estava parado bem atrás de Evelyn, seu braço possessivamente em volta da cintura dela. Seus olhos estavam frios, e havia um olhar de indulgência entediada em seu rosto enquanto me observava. Ele estava gostando disso.

"Segurem-na", ele ordenou a seus seguranças.

Eles agarraram meus braços, forçando-me a ficar de joelhos. Eu lutei, meu coração batendo com terror e raiva. "Eu não fiz nada de errado! Me soltem!"

TAPA.

Evelyn me bateu de novo, mais forte desta vez. "Peça desculpas!", ela exigiu.

"Não", eu engasguei, sentindo o gosto de sangue na boca. Meu orgulho era a única coisa que me restava.

TAPA.

De novo. Minha cabeça girou.

"Já chega, amor", disse Bernardo, não para mim, mas para Evelyn. Ele gentilmente pegou a mão dela. "Você vai machucar sua mão."

Minha cabeça se ergueu. Seria este um momento de misericórdia?

Evelyn fez beicinho. "Você está com pena dela, Bernardo?"

Ele riu, um som que me gelou até os ossos. Ele beijou os nós dos dedos dela. "Claro que não, meu amor. O rosto dela não vale tanto quanto suas mãos perfeitas." Ele olhou para seus guardas. "Vocês sabem o que fazer."

Um dos guardas puxou o punho para trás e me deu um soco forte no estômago. O ar saiu dos meus pulmões em um gemido de dor. Dobrei-me, cuspindo um bocado de sangue no chão de mármore impecável.

Mas eu ainda não pedi desculpas. Através da névoa de dor, eu o encarei.

Ele suspirou, um som de tédio teatral. Então, ele enfiou a mão no bolso e tirou a pequena caixinha de música de madeira. A caixinha de música do meu pai.

"Ainda teimosa?", ele perguntou, balançando-a na frente do meu rosto. "Peça desculpas, Alice. Ou diga adeus a isso."

"Devolva para mim", sussurrei, minha voz rouca de desespero. "Por favor."

Ele apenas sorriu.

Minha mente voltou ao dia em que a vendi. Bento estava doente, com uma febre alta que não cedia. Não podíamos pagar um médico. Então peguei a caixinha de música, meu bem mais precioso, e a vendi por uma ninharia para pagar seu remédio. Chorei por uma semana.

E todo esse tempo, ele a tinha. Ele deve ter voltado e a comprado. Não como um gesto gentil, mas como uma ferramenta. Uma arma para ser usada contra mim. A crueldade daquilo era sem fundo.

Toda a luta saiu de mim. Desabei no chão, uma marionete com as cordas cortadas.

"Me desculpe", sussurrei, as palavras rasgando minha garganta. "Me desculpe por ter te salvado. Me desculpe por ter me apaixonado por você. Foi tudo um erro meu."

Um lampejo de algo - desconforto? culpa? - cruzou o rosto de Bernardo. Ele começou a dizer algo, mas Evelyn arrancou a caixinha de música de sua mão.

"Desculpas não são o suficiente!", ela gritou, seus olhos brilhando com um prazer maníaco. Ela correu para a beira do salão, onde havia um grande arranjo decorativo de cactos. "É isso que acontece com as coisas que pertencem a vadias!"

Ela jogou a caixinha de música com toda a sua força. Ela descreveu um arco no ar e pousou no meio do labirinto espinhoso de plantas.

"Não!", gritei, levantando-me com dificuldade. Corri e enfiei minhas mãos nos cactos, sem nem sentir os espinhos rasgando minha pele. Tudo o que importava era recuperá-la.

"Cinco mil reais para quem a encontrar e a esmagar para mim!", Evelyn gritou para a multidão.

As pessoas avançaram. Alguém me empurrou por trás. Caí de cara nos cactos, espinhos cravando no meu rosto, nos meus braços, no meu peito.

Meus dedos se fecharam na madeira lisa da caixa no exato momento em que alguém me chutou nas costelas. Enrolei meu corpo em volta dela, tentando protegê-la, mas mãos me agarravam, puxavam meu cabelo, rasgavam minhas roupas.

Alguém arrancou a caixa do meu alcance.

E então, com um estalo doentio, eles a esmagaram no chão.

O som ecoou no silêncio repentino.

Eu olhei para a madeira lascada e as peças de metal quebradas.

A última peça do meu pai se foi.

E com ela, a última peça do meu coração.

Eu queria nunca tê-lo conhecido. Queria tê-lo deixado morrer na beira daquela estrada.

            
            

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