As portas de vidro do terraço se estilhaçaram para dentro. Um grupo de homens vestidos de preto, com os rostos cobertos, invadiu a sala, com armas em punho.
No caos que se seguiu, um deles agarrou Evelyn. Ela gritou, um som agudo de terror. "Você sabe quem eu sou? Bernardo vai te matar!"
O homem torceu o braço dela para trás. Houve um estalo doentio, e Evelyn gritou de dor, seu braço pendendo em um ângulo antinatural. Eles nos amordaçaram, seus movimentos eficientes e brutais.
"Nós sabemos exatamente quem ele é", o líder zombou, sua voz abafada pela máscara. Ele era um dos primos de Bernardo, um rival que eu reconheci de uma foto de família que Bernardo tinha. Isso era uma tomada hostil, um jogo de poder. "E nós sabemos o que ele valoriza."
Ele pegou o celular de Evelyn e fez uma videochamada para Bernardo.
O rosto de Bernardo apareceu na tela, sua testa franzida de aborrecimento. "Evelyn, estou em uma reunião."
Então ele viu a cena atrás dela. Os homens mascarados, as armas. Seu rosto ficou branco.
"Bernardo, meu amor", o primo provocou, colocando uma faca na bochecha de Evelyn. "Uma pequena reunião de família. Agora, vamos falar de negócios."
Mas Bernardo não estava olhando para Evelyn. Seus olhos estavam fixos em mim, arregalados com um terror tão profundo que parecia parar seu coração.
"Não toque nela", Bernardo sussurrou, sua voz um arranhão cru e desesperado. "Não ouse tocar na Alice."
Todos na sala, inclusive eu, congelaram.
"Machuque a Evelyn, eu não me importo", Bernardo estava divagando, sua voz falhando. "Mas se você colocar mais uma mão na Alice, eu vou queimar toda a sua família até o chão. Eu te dou qualquer coisa. Dez bilhões de reais. Apenas a deixe ir."
Evelyn começou a soluçar, seu corpo tremendo de traição. O homem que a segurava riu, pressionando a faca com mais força contra sua bochecha, mas Bernardo nem sequer vacilou. Seus olhos enlouquecidos ainda estavam fixos em mim.
"Estou falando sério!", ele gritou para o telefone. "Eu assino minha participação inteira no Grupo Lacerda! Apenas não a machuque!"
O primo olhou para mim, depois de volta para o telefone, um olhar de pura confusão em seu rosto. "O que há de tão especial nesta aqui?", ele murmurou.
"Ele não me ama!", tentei dizer através da mordaça, balançando a cabeça freneticamente. "É um truque!"
O primo me ignorou. Ele me deu um tapa forte no rosto e, em seguida, rasgou a parte de cima do meu vestido.
"Vamos dar um show para ele", ele zombou, acenando para um de seus homens começar a gravar.
"NÃO!", o rugido de Bernardo foi desumano. Era o som de um animal em uma armadilha. "Por favor... estou implorando... não..." Sua voz falhou.
"Por quê?", gritei em minha mente, lágrimas de terror e confusão escorrendo pelo meu rosto. "Por que você está fazendo isso?"
De repente, as janelas do outro lado da sala se estilhaçaram. A equipe de segurança de Bernardo, a equipe real, invadiu, atirando. O sequestro inteiro foi uma armação. Um ardil brutal e elaborado para enganar seus rivais. Ele os estava manipulando o tempo todo.
No momento em que a sala estava segura, Bernardo, que devia estar do lado de fora, entrou correndo.
Ele passou por mim, sem nem me lançar um olhar. Foi direto para Evelyn.
Ele arrancou a mordaça da boca dela e a envolveu em seus braços, esmagando-a contra o peito. "Você está bem, meu amor? Está machucada?"
"Você a ama!", Evelyn soluçou, batendo no peito dele com a mão boa. "Você disse que daria tudo por ela!"
"Foi uma atuação, amor", ele murmurou, beijando seu cabelo, seu rosto, suas lágrimas. "Um truque para enganar meu primo idiota. Você sabe que eu só amo você. Eu morreria por você."
O primo capturado olhou para Bernardo, seu rosto uma máscara de descrença e fúria. "Seu desgraçado... você me enganou."
Bernardo riu, um som frio e triunfante. "Você é um tolo. Sempre foi."
Ele ergueu Evelyn em seus braços e começou a se afastar, deixando-me sangrando e exposta no chão.
Ao passar, estendi a mão e agarrei a barra de sua calça. Meu último resquício de esperança.
"Bernardo", engasguei, a mordaça agora solta em volta do meu pescoço. "Me ajude... o bebê..."
Ele parou. Olhou para mim, seu rosto indecifrável.
Nesse momento, Evelyn gemeu. "Bernardo, minha barriga dói... o bebê..."
Isso foi tudo o que foi preciso.
Ele não hesitou. Chutou a perna para trás, desalojando minha mão, e se afastou sem olhar para trás. Seu foco estava inteiramente em Evelyn.
Observei suas costas se afastarem. Uma dor aguda e lancinante atravessou meu abdômen. Foi uma cãibra tão violenta que me tirou o fôlego. Olhei para baixo.
Sangue. Tanto sangue. Estava se acumulando no chão de mármore branco debaixo de mim.
O mundo começou a escurecer nas bordas. Com o último resquício de minha força, rastejei para fora daquela casa de horrores. Deixei um rastro de sangue para trás, um testemunho da vida que estava se esvaindo de mim.
De alguma forma, cheguei à estrada, parei um carro e cheguei ao aeroporto. Comprei uma passagem só de ida para a Europa com o primeiro voo que saía.
Enquanto estava sentada no portão de embarque, esperando para embarcar no avião que me levaria para longe deste inferno, peguei meu celular.
Enviei uma última mensagem para o número que não estava mais salvo em meus contatos.
Bernardo Lacerda, espero que você apodreça no inferno.
Então quebrei meu chip ao meio e o joguei no lixo. Tinha acabado.