Uma Mentira Perfeita: Sua Esposa de Boneca
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Capítulo 3

Na noite seguinte, Caio me levou até a marina. Ele não falou durante todo o caminho. Apenas segurava o volante, o maxilar tenso. Provavelmente estava irritado por ter que lidar comigo em vez de estar com Jade.

Ele me acompanhou até a prancha de embarque de um iate enorme e reluzente. A festa já estava a todo vapor, música e risadas se espalhando pelo ar quente da noite.

"Apenas sorria, acene e fale com os repórteres", Caio instruiu, a voz baixa e urgente. "Finja ser ela por algumas horas. A segurança está por toda parte. Você vai ficar bem."

Ele não olhou para mim ao dizer isso. Virou-se e foi embora antes que eu pudesse responder, desaparecendo na escuridão. Eu estava sozinha.

Respirei fundo e subi no iate. Eu usava um vestido prateado brilhante, meu cabelo penteado exatamente como o de Jade. No momento em que apareci, os flashes das câmeras dispararam. Repórteres me cercaram.

"Jade! Aqui!"

"Jade, como você está se sentindo depois das ameaças?"

Eu colei um sorriso no rosto, aquele que Caio me ensinou a usar. Parecia uma máscara. Murmurei algumas respostas educadas e evasivas e fui em direção ao bar. Eu precisava de uma bebida.

O champanhe estava gelado e forte. Bebi rápido demais, esperando que anestesiasse o pavor que se enrolava em meu estômago. Eu me sentia exausta, meu corpo ainda doendo do estresse constante.

Um homem se aproximou de mim no bar. Ele era bonito de uma forma escorregadia e predatória.

"Você parece que precisa de um amigo", ele disse, seus olhos percorrendo meu corpo.

"Estou bem", eu disse, virando-me.

Ele se aproximou, bloqueando meu caminho. "Não seja assim, Jade. Eu sei que você está passando por um momento difícil. Deixe-me ajudá-la a relaxar."

Sua mão deslizou pela minha cintura. Eu me encolhi, tentando me afastar.

"Tire as mãos de mim", sibilei.

Ele riu, um som baixo e feio. "Se fazendo de difícil? Eu gosto disso."

Seu aperto se intensificou, e minha mente começou a girar. Era esse o plano? Que eu fosse publicamente assediada? Humilhada?

Senti uma onda de tontura. O champanhe, o estresse, era tudo demais. Minha visão turvou.

Tentei empurrá-lo, mas meus membros pareciam pesados, descoordenados. "Me solta."

Ele entendeu minha fraqueza como consentimento. "Assim que eu gosto", ele murmurou, seu hálito quente no meu pescoço. Ele começou a me arrastar para um corredor isolado na parte de trás do convés.

"Alguém me pagou muito dinheiro para garantir que você tenha uma noite memorável", ele sussurrou no meu ouvido. "Algo para realmente animar os paparazzi."

O sangue gelou em minhas veias. Isso não era apenas assédio. Era um ataque. Arranjado por Jade. E Caio me enviou direto para ele.

"Socorro!", tentei gritar, mas o som foi um suspiro estrangulado. Minha cabeça estava nebulosa. Ele tinha colocado algo na minha bebida?

Ele riu de novo. "Ninguém virá te salvar, querida. Caio garantiu isso. Ele quer você fora do caminho para sempre."

A raiva, pura e quente, cortou a névoa. Eu não ia ser uma vítima. Não de novo.

Cravei minhas unhas em sua mão, com força. Ele gritou de surpresa, seu aperto afrouxando por um segundo. Era tudo o que eu precisava.

Pisei em seu pé com meu salto alto, colocando todo o meu peso nisso. Ele uivou de dor, tropeçando para trás.

Eu não hesitei. Peguei a coisa mais próxima que encontrei - um balde de gelo pesado e decorativo - e o balancei com toda a minha força. Ele atingiu o lado da cabeça dele com um baque doentio.

Ele desabou no convés, inconsciente.

Eu me afastei cambaleando, meu coração martelando contra minhas costelas. Corri, empurrando convidados chocados, ignorando seus gritos de surpresa. Eu só tinha que sair daquele barco.

Desci voando pela prancha de embarque e pisei no chão firme da doca. Não parei de correr. Corri até meus pulmões arderem e minhas pernas cederem. Desabei em um banco perto do estacionamento, ofegante.

Meu vestido estava rasgado, meu cabelo uma bagunça. Eu tremia incontrolavelmente. Procurei meu celular e disquei 190.

Então, tudo ficou preto.

Acordei em uma cama de hospital. De novo. A primeira coisa que vi foi o rosto de Caio, pairando sobre mim.

Por um segundo louco e estúpido, pensei que ele estava lá porque estava preocupado. Pensei que talvez, apenas talvez, ele tivesse consciência.

Então ele falou.

"Que diabos você fez?", ele rosnou, a voz um sussurro furioso.

Eu o encarei, confusa. "Eu... fui atacada."

"Você deveria ter se feito de vítima, Alina!", ele sibilou, o rosto contorcido de raiva. "Você deveria ter deixado acontecer! O plano era que você fosse encontrada, arrasada e humilhada. Teria gerado simpatia pela Jade! Teria feito ela parecer forte e resiliente quando se 'recuperasse' do trauma!"

As palavras me atingiram como um golpe físico. Eu não conseguia respirar. Ele não estava com raiva por eu ter sido atacada. Ele estava com raiva por eu ter revidado.

"Você... você sabia que isso ia acontecer", sussurrei, o horror de tudo me dominando. "Você me mandou lá para ser agredida."

"Eu te mandei lá para fazer um trabalho!", ele retrucou. "E você estragou tudo! Agora o cara está no hospital com uma concussão, e a polícia está envolvida. Você fez uma bagunça de tudo!"

Tentei dizer a ele que o homem havia confessado que era uma armação, que Jade estava por trás disso. Tentei dizer a ele que eles me drogaram.

Ele me cortou. "Não se atreva a mentir para mim! A Jade nunca faria algo assim! Ela é a vítima aqui!"

Ele acreditou nela. Claro, ele acreditou nela. Ele sempre acreditaria. Ele estava confiando na versão dela dos eventos, na história que ela lhe contou. Ele me acusou de ser uma mentirosa, de usar medidas desesperadas para caluniar sua Jade perfeita.

Olhei para ele, para seu rosto bonito e furioso, e algo dentro de mim quebrou. A última e minúscula brasa de esperança que eu tinha por ele morreu. Não restava nada além de cinzas.

Virei meu rosto para a parede, meu coração um peso morto no peito. Eu me sentia entorpecida. Vazia.

"A polícia está lá fora", ele disse, a voz fria e final. "Eu disse a eles que você estava confusa e histérica. Que você atacou um homem inocente em um ataque de paranoia. Você vai retirar as queixas. Está claro?"

Eu não respondi.

"Está claro, Alina?", ele repetiu, a voz perigosamente suave.

Fechei os olhos. Eu queria que tudo acabasse. Os papéis do divórcio estavam assinados. O dinheiro deveria ser minha fuga.

Dei um único aceno robótico.

Ele saiu sem outra palavra. Fiquei ali, ouvindo o bipe rítmico do monitor cardíaco, cada som um lembrete de que eu ainda estava viva, mesmo sentindo que já havia morrido.

No dia seguinte, vi as notícias. Jade Sales estava dando uma coletiva de imprensa, parecendo pálida e corajosa. Caio estava ao seu lado, o braço protetoramente em volta dela. As manchetes elogiavam sua força diante do meu ataque "desequilibrado" a um frequentador inocente da festa.

Peguei o telefone do hospital e fiz uma ligação.

"Estou retirando as queixas", disse ao detetive.

Então desliguei, peguei a pilha de revistas da mesa de cabeceira e rasguei cada foto de Caio e Jade. Rasguei-as em pedacinhos, deixando-os flutuar até o chão como neve. Lembrei-me de suas promessas, de suas palavras sussurradas de amor neste mesmo hospital. Eram todas mentiras.

Comecei a rir, um som amargo e quebrado que ecoou na sala estéril. Eu tinha sido tão estúpida. Tão cega.

            
            

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