"Eu ia voltar para te buscar", ele disse, suas palavras saindo em um fluxo apressado e defensivo. "Mas a Jade estava tendo um ataque de pânico, eu tive que levá-la para um lugar seguro primeiro."
Mentiras. Tudo mentira.
"Eu te amo, Alina", ele sussurrou, seus olhos suplicantes. "Você sabe disso, não sabe? Eu nunca quis que nada disso acontecesse."
Eu apenas o encarei, meu coração um bloco de gelo. Não senti nada. Nenhuma raiva, nenhuma tristeza. Apenas um vasto e vazio entorpecimento. Eu estava farta. Estava focada em uma única coisa: ir embora.
Enquanto me recuperava, vi as notícias. Jade, em uma entrevista televisionada, recontou chorosamente como ela havia sido o alvo da multidão, como Caio a salvara heroicamente, e como eu, em meu ciúme, havia instigado o tumulto.
A mentira era tão audaciosa que era quase brilhante.
Alguns dias depois, Caio entrou no meu quarto e viu a pequena mala que eu havia arrumado.
"Onde você vai?", ele perguntou, um lampejo de alarme em seus olhos.
"Estou indo embora, Caio. Nosso acordo acabou. Vou pegar meu dinheiro e desaparecer."
Nesse momento, o telefone dele tocou. Era Jade, claro. Ele saiu para o corredor para atender a ligação, a voz um murmúrio baixo e suave. Eu o observei pela janela da porta, de costas para mim, completamente absorto nela.
Minha prioridade. A prioridade dele. Era sempre ela.
Uma risada amarga escapou dos meus lábios. Mesmo agora, ele não conseguia ver a verdade.
Ele voltou para o quarto alguns minutos depois, o rosto uma nuvem de tempestade. Ele segurava o celular, a mão tremendo de raiva.
"O que é isso?", ele rosnou, enfiando o celular na minha cara.
Era um blog de fofocas. A manchete era explosiva: "A CIRURGIA PLÁSTICA SECRETA DE JADE SALES: FOTOS VAZADAS DE ANTES DA OPERAÇÃO MOSTRAM QUE A INFLUENCIADORA NÃO NASCEU PERFEITA."
Abaixo da manchete havia fotos. Fotos de uma jovem em uma mesa de operação, o rosto marcado para a cirurgia. Era Jade, antes de Caio a transformar. O artigo afirmava que as fotos foram vazadas por uma ex-assistente descontente.
"Você fez isso!", ele gritou, a voz ecoando no pequeno quarto. "Você vazou isso para arruiná-la!"
Eu encarei as fotos. O estilo das marcações cirúrgicas, os ângulos específicos das fotos... eram de Caio. Tinham que ter vindo de seus arquivos particulares.
"Eu não fiz isso, Caio", eu disse, a voz cansada. "Como eu conseguiria isso?"
"Você está com ciúmes!", ele esbravejou. "Você sempre teve ciúmes dela! Você odeia ser apenas uma cópia, então decidiu destruir a original!"
"Meu Deus, Caio", sussurrei, "Você está delirando."
A acusação era tão insana, tão distorcida, que algo dentro de mim finalmente estalou.
"Com ciúmes?", gritei, me levantando apesar da dor lancinante nas minhas costelas. "Você acha que estou com ciúmes? Eu odeio este rosto! Eu odeio o que você fez comigo!"
Comecei a andar pelo quarto, um animal enjaulado, os anos de dor e humilhação jorrando de mim.
"Você tirou minha vida de mim! Você me transformou em uma marionete, um escudo, um sacrifício para sua obsessão doentia! Você ficou lá parado e me viu ser espancada por uma multidão para a qual você me enviou!"
"Eu nunca quis te machucar", ele disse, a voz trêmula. Ele estava tentando se defender, racionalizar seu comportamento monstruoso. "Eu só estava tentando proteger o que era meu."
"Eu nunca fui sua!", gritei. "Eu era apenas uma substituta! Uma reposição barata para a mulher que você realmente ama!"
Ele se encolheu, mas eu não tinha terminado.
"Este casamento nunca foi real. Você nunca me amou. Você amou a ideia dela, e me usou para consegui-la."
Ele abriu a boca para falar, para oferecer outra mentira, outra promessa vazia.
"Não", avisei, minha voz caindo para um tom perigosamente baixo. "Não se atreva a dizer que me ama. Não depois de tudo o que você fez."
Ele ficou em silêncio, o rosto pálido.
A notícia da cirurgia plástica de Jade levou a mídia a um frenesi. Sua marca de "beleza natural" foi destruída. Seus patrocinadores começaram a abandoná-la. Sua imagem perfeita estava arruinada.
Naquela tarde, Jade foi levada às pressas para o hospital após uma aparente tentativa de suicídio. As notícias informaram que ela havia tomado um frasco de pílulas.
Era mais um de seus jogos. Eu sabia. Mas Caio não.
Ele estava frenético, consumido pela culpa e preocupação. Ele acreditava ser o responsável pelo colapso dela.
E ele me culpou por tudo isso.