"Ele é meu agora", sibilou Jéssica, o rosto a centímetros do de Larissa. "Ele pertence ao meu mundo, com pessoas como eu. Não com você."
Larissa tentou se afastar, dizer algo, mas Jéssica era mais forte, alimentada por uma raiva viciosa e ciumenta.
Jéssica a empurrou contra a parede de azulejos. "Você acha que aquele truquezinho no tribunal o impressionou? Ele tem pena de você. Você é o projeto de caridade dele."
Com um movimento súbito e violento, Jéssica quebrou um dispensador de sabão de vidro no balcão. Cacos voaram por toda parte. Ela pegou um pedaço grande e irregular.
"Eu deveria ter feito isso há muito tempo."
Ela avançou. Larissa gritou quando o vidro afiado cortou profundamente seu antebraço. O sangue brotou instantaneamente, escuro e vermelho, pingando no chão branco imaculado.
Jéssica riu, um som horrível e desequilibrado. "Olhe para você. Patética."
Então, sua expressão mudou. Uma ideia astuta e cruel iluminou seus olhos. Ela pegou o pedaço de vidro e deliberadamente fez um corte longo e superficial em sua própria palma.
"Socorro! Alguém me ajude!", ela gritou, a voz cheia de terror fabricado. "Ela está louca! Ela me atacou!"
A porta se abriu com um estrondo. Bernardo estava lá, o rosto uma nuvem de tempestade. Ele viu Jéssica no chão, segurando a mão sangrando, lágrimas escorrendo pelo rosto. Ele viu Larissa de pé sobre ela, um caco de vidro no chão próximo, seu próprio braço sangrando profusamente.
Ele não hesitou. Correu para Jéssica, ajoelhando-se ao lado dela, embalando-a como se fosse feita de vidro.
"Jéssica, meu Deus, o que aconteceu?"
"Eu não sei", soluçou Jéssica, apontando um dedo trêmulo para Larissa. "Ela só... ela simplesmente surtou. Ela disse que eu estava tentando roubar você dela."
A cabeça de Bernardo se virou. Seus olhos, quando encontraram os de Larissa, estavam cheios de uma decepção fria e cortante que era pior do que qualquer raiva.
"Eu sabia", disse ele, a voz baixa e venenosa. "Eu sabia que você não conseguiria lidar com isso. Você é como todo mundo daquele mundo. Você vê uma coisa boa e tem que destruí-la."
Ele nem olhou para o corte no braço dela, muito mais profundo e sério que o arranhão de Jéssica. Ele só viu seu novo e delicado prêmio, aparentemente ameaçado por seu brinquedo velho e quebrado.
"Saia", ele rosnou. "Não quero ver você."
Ele pegou Jéssica nos braços e a carregou para fora do banheiro, deixando Larissa de pé em uma poça de seu próprio sangue.
Larissa olhou para o braço, depois para o corte superficial na mão de Jéssica que Bernardo agora cuidava com tanto esmero. Uma risada amarga e quebrada escapou de seus lábios. O som era cru, doloroso. Lágrimas se misturaram com o sangue que escorria por seu braço.
Ele costumava fazer isso por ela. Quando ela se cortava em um prato quebrado na lanchonete, ele limpava a ferida com tanta delicadeza, a testa franzida de preocupação. Ele beijava para sarar, sussurrando que nunca deixaria nada machucá-la novamente.
Aquele homem se foi. Substituído por este estranho que a olhava com desprezo.
Um momento depois, a assistente de Bernardo apareceu, o rosto uma máscara de neutralidade profissional. "O Sr. Monteiro providenciou um carro para levá-la ao hospital."
Larissa assentiu entorpecida. Ela deixou a assistente guiá-la para fora, a mente uma névoa de dor e incredulidade.
No carro, um sedã preto e elegante que cheirava a couro e ao perfume caro de Jéssica, o motorista, um homem que ela nunca tinha visto antes, olhou para ela no espelho retrovisor.
"Senhora, por favor, tome cuidado para não sujar os assentos de sangue. A Dona Jéssica é muito exigente com este carro."
A vergonha a inundou, quente e sufocante. Ela puxou o braço sangrando para perto, encolhendo as pernas, tentando se fazer menor, ocupar menos espaço, desaparecer.
Ela ficou em uma maca na emergência por horas. Um médico finalmente suturou seu braço, seus movimentos rápidos e impessoais.
Mais tarde, ela estava em um quarto particular, olhando para o teto. Pensou no nojo de Bernardo, em sua crença instantânea nas mentiras de Jéssica. Pensou no aviso do motorista. Ela era uma mancha. Uma bagunça suja e inconveniente em seu mundo perfeito e limpo.
Ela enterrou o rosto no travesseiro, abafando os soluços que sacudiam seu corpo.
A porta rangeu ao se abrir.
Bernardo estava lá, segurando um buquê de flores e uma sacola de comida de seu restaurante favorito.
Por um momento vertiginoso, seu coração saltou com uma esperança estúpida e traiçoeira.
"Eu trouxe o jantar para você", disse ele, a voz suave. Ele evitou olhar para seus pontos. "Eu sei que este é o seu favorito."
Larissa não disse nada.
"Escuta, sobre o que aconteceu no tribunal...", ela começou, precisando fazê-lo entender, apenas uma vez. "Eu não estava tentando humilhar a Jéssica. Eu só vi-"
"Eu sei", ele a interrompeu.
Ele se aproximou. "E eu sei que você não atacou a Jéssica."
Larissa congelou.
"Eu sei", ele repetiu, a voz quase um sussurro. Ele estendeu a mão e pegou a dela com delicadeza. "Eu sei que foi ela."