O Beijo de Despedida de Cinco Milhões de Dólares
img img O Beijo de Despedida de Cinco Milhões de Dólares img Capítulo 3
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Capítulo 3

Jéssica viu Larissa primeiro. Ela rapidamente enxugou as lágrimas e ofereceu um sorriso fraco e apologético.

"Larissa, você está em casa. Me desculpe, Bernardo estava prestes a ir te buscar."

Ela se levantou, apoiando-se em Bernardo. "E obrigada. Pelo sangue. Eu não sei o que teria feito sem você."

Jéssica estendeu a mão e pegou a de Larissa, seu toque leve e suave. Mas ao fazer isso, seu polegar pressionou, com força, diretamente sobre o hematoma fresco e escuro no braço de Larissa.

A dor subiu pelo braço de Larissa, e ela instintivamente recuou.

Jéssica ofegou, tropeçando para trás como se Larissa a tivesse empurrado. "Oh!"

Bernardo a segurou instantaneamente. "Jéssica! Você está bem?"

Ele lançou a Larissa um olhar de puro gelo. "Qual é o seu problema? Ela acabou de sair do hospital!"

Larissa o encarou, a boca aberta em descrença. O mundo girou em seu eixo. Ele nem perguntou. Apenas presumiu.

Ela estava tão cansada. Cansada de lutar, cansada de explicar, cansada de ser aquela que tinha que ser forte e compreensiva.

"Me desculpe", disse ela, as palavras com gosto de cinzas. "Não foi minha intenção."

A expressão de Bernardo suavizou ligeiramente. Jéssica, sempre magnânima, sorriu. "Tudo bem. Eu sei que você também passou por muita coisa. Na verdade, eu esperava que você pudesse vir conosco amanhã. Bernardo tem uma grande audiência de patente, e ele vai precisar do nosso apoio."

Ela olhou para Bernardo, seus olhos brilhando de adoração. "Você vai ser incrível."

Larissa viu o orgulho nos olhos de Bernardo enquanto ele olhava para Jéssica. Ele amava que ela entendesse seu mundo, seu trabalho. Ele nunca a olhou daquela maneira quando ela falava de seus próprios sonhos de engenharia.

"Já está na hora de você ver o mundo em que Bernardo vive", acrescentou Jéssica, seu tom doce e meloso. "Você ficou enclausurada por muito tempo."

A implicação era clara. Este é o nosso mundo. Você é apenas uma visitante.

"Ok", disse Larissa em voz baixa. Ela já havia assinado os papéis. Ela iria embora em breve. Uma última humilhação não faria diferença.

O tribunal era intimidador, todo em madeira escura e tetos altos. Bernardo e Jéssica sentaram-se à mesa do autor, uma equipe perfeita. Eles sussurravam um para o outro, as cabeças próximas, uma imagem de intimidade e parceria.

Jéssica se virou para Larissa, que estava sentada na galeria atrás deles. "Larissa, você poderia ir buscar um café para nós? Dois puros, sem açúcar."

Não era um pedido. Era uma ordem.

Bernardo nem olhou para ela. "Agora não, Jéssica. E a Larissa não saberia onde ir." Ele disse isso com a displicência casual de alguém enxotando uma criança.

Jéssica deu a Larissa um sorriso presunçoso e triunfante por cima do ombro.

Larissa sentiu uma queimação familiar de vergonha. Ela era um inconveniente. Um pedaço de seu passado que não se encaixava em seu futuro brilhante. Ele tinha vergonha dela. Vergonha da garota que trabalhava em uma lanchonete, que o salvara quando ele não tinha nada.

Ela estava de partida. Em breve, ela seria apenas uma memória que ele poderia apagar.

A audiência começou. Jéssica foi brilhante, seus argumentos afiados e precisos. Mas então o advogado de oposição apresentou uma prova surpresa, um documento técnico que parecia minar toda a reivindicação de patente de Bernardo.

O tribunal zumbiu. Jéssica empalideceu, remexendo em suas anotações. O rosto de Bernardo era uma máscara de frustração sombria.

O coração de Larissa batia forte. Essa patente era tudo para ele. Era a base de seu novo império.

Ela olhou para o documento projetado na tela. Sua mente, aprimorada por anos de autoestudo e um dom natural para a engenharia, viu instantaneamente. Uma falha no argumento deles. Um detalhe que eles haviam perdido.

Sem pensar, ela se inclinou para frente. "O carimbo de data e hora", ela sussurrou com urgência. "O carimbo de data e hora no código-fonte do protótipo deles é pós-datado. É depois da sua data de registro. Eles falsificaram."

O advogado de oposição, que ouviu, congelou. Seu rosto ficou branco.

Jéssica encarou Larissa, seus olhos arregalados de choque e fúria. Como ousa essa cozinheira entender algo que ela, uma formada em direito pela USP, havia perdido?

Bernardo olhou de Larissa para a tela, seus próprios olhos se arregalando em compreensão. Ele se levantou abruptamente.

"Meritíssimo, solicitamos um breve recesso para examinar esta nova informação."

O juiz concedeu. Bernardo agarrou a mão de Jéssica e a puxou para fora do tribunal, sem nem olhar para Larissa.

Larissa os seguiu, um sentimento oco no estômago. Ela ouviu suas vozes do outro lado do corredor.

"Não acredito que perdi isso", dizia Jéssica, a voz tensa de frustração. "Ela me fez parecer uma idiota!"

"Não é sua culpa", a voz de Bernardo era baixa e suave. "Ela é... esperta. Ela pega as coisas no ar. Você é a verdadeira, Jéssica. Você é uma advogada brilhante. Ela é só uma cozinheira que deu sorte."

Suas palavras a atingiram como um golpe físico. Só uma cozinheira que deu sorte.

Seu coração, que ela pensava não poder se quebrar mais, se transformou em pó.

Ela o viu apertar suavemente o ombro de Jéssica, um gesto de conforto e intimidade. Da mesma forma que ele costumava tocá-la.

Ela tropeçou para trás, um soluço sufocado subindo em sua garganta. Algo em uma pequena mesa na parede chamou sua atenção. Era um modelo do primeiro dispositivo que ele projetou, uma coisinha pequena e intrincada que ele construiu em sua pequena quitinete. Ela havia comprado as peças para ele com o dinheiro da gorjeta. Ele o dera a ela, dizendo que era a pedra fundamental de seu futuro. Ele lhe dissera para sempre mantê-lo seguro.

Agora, estava ali, uma relíquia esquecida. Enquanto ela observava, um faxineiro esbarrou na mesa. O modelo deslizou e se espatifou no chão de mármore.

Era uma metáfora perfeita e brutal.

Larissa se virou e correu. Ela fugiu para o banheiro, trancando-se em uma cabine. Ela encarou seu próprio reflexo no cromo polido do dispensador de papel higiênico. Um rosto pálido e manchado de lágrimas a encarava de volta.

A porta do banheiro se abriu. Jéssica Castilho estava lá, de braços cruzados, sua expressão uma máscara de puro ódio.

"Você simplesmente não conseguia ficar de fora, não é?"

            
            

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