O Beijo de Despedida de Cinco Milhões de Dólares
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Capítulo 2

Larissa acordou com o branco estéril de um quarto de hospital. Estava vazio. O silêncio era pesado, quebrado apenas pelo bipe rítmico de uma máquina ao lado de sua cama.

Uma dor aguda subiu por sua perna quando ela tentou se mover. Ela olhou para baixo e viu o gesso branco e grosso que a envolvia da coxa ao tornozelo.

Uma enfermeira entrou, sua expressão profissionalmente alegre. "Oh, você acordou! Como está se sentindo?"

"Como se tivesse sido atropelada por um caminhão", murmurou Larissa.

"Você tem sorte. Um fêmur quebrado e uma concussão, mas você vai se recuperar", disse a enfermeira, verificando seus sinais vitais. "Seu... amigo está muito preocupado com você."

"Meu amigo?"

"Sim, o Sr. Monteiro. Ele esteve aqui a noite toda. Ele está no quarto ao lado, com a namorada dele. A coitadinha só tem alguns arranhões, mas estava com tanto medo."

A namorada dele. A palavra foi um tapa na cara.

"Ele nos disse que você era uma amiga de infância, visitando de fora da cidade", continuou a enfermeira, alheia à turbulência de Larissa. "É tão fofo como ele está cuidando de vocês duas. Ele e a Srta. Castilho formam um casal tão adorável, não acha?"

Larissa forçou um sorriso tenso. "Sim. Adorável."

A porta se abriu e Bernardo entrou. Ele parecia exausto, o cabelo bagunçado e olheiras escuras sob os olhos. Ele parou quando viu que ela estava acordada. Ele segurava o celular dela, aquele com a tela estilhaçada.

"Encontrei isso no elevador", disse ele, a voz rouca. "Eu vi seu histórico de busca."

Ele olhou para ela, sua expressão indecifrável. "Você estava procurando voos para São José dos Campos. E o escritório de admissões do ITA."

Larissa deu uma risada amarga e sem humor. "O quê, você achou que eu ia te perseguir? Não se preocupe, Bernardo. Eu sei o meu lugar."

Ele pareceu aliviado com as palavras dela, e isso doeu mais do que qualquer coisa. Confirmou que ele também a via como algo menor, algo que poderia ser facilmente deixado para trás. Ela soube então que ele não se importaria se ela fosse embora. Ele provavelmente ficaria feliz.

"Lari, me desculpe", disse ele, sentando-se na beirada da cama dela.

"Tudo bem", disse ela, virando o rosto. "Você estava preocupado com a Jéssica. Eu entendo."

"Ela é... delicada", ele tentou explicar. "Ela não está acostumada com dificuldades. Você está. Você é forte."

A força dela. A coisa que ele sempre elogiava era agora a desculpa para sua traição. Porque ela aguentava a dor, esperava-se que ela aguentasse. A injustiça disso a fez querer gritar. Mas ela estava cansada demais. Quebrada demais.

Ela apenas assentiu.

Os anos que passaram juntos, os sacrifícios que ela fez, o amor que compartilharam - tudo era sem sentido agora. No mundo dele, a força de uma mulher não era uma virtude a ser admirada, mas uma conveniência a ser explorada.

"Jéssica tem um tipo sanguíneo raro", disse ele, sua voz de repente baixa e urgente. "E ela perdeu um pouco de sangue. O hospital está com pouco estoque do tipo dela. É O-negativo."

Larissa sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ela sabia onde isso ia dar. Ela também era O-negativo.

Seu rosto deve ter ficado pálido, porque ele se apressou em falar.

"Lari, por favor", ele implorou, a voz embargada. "Ela precisa de uma transfusão. Você pode... você pode fazer isso por mim?"

Por ele. Não por uma estranha necessitada, mas por ele. Um favor. Como se ela lhe devesse alguma coisa.

A audácia era de tirar o fôlego. Ele havia escolhido Jéssica em vez dela, a deixado quebrada e sangrando em uma caixa de metal, e agora estava pedindo que ela desse seu sangue a Jéssica. Para literalmente derramar sua força vital na mulher que havia tomado seu lugar.

O quarto ficou em silêncio. Larissa podia ouvir a batida frenética de seu próprio coração.

Então, ela sorriu. Um sorriso largo, brilhante e aterrorizante.

"Claro, Bê." O antigo apelido parecia ácido em sua língua. "Qualquer coisa por você."

Bernardo pareceu surpreso com seu consentimento fácil, mas seu alívio era palpável.

Nesse momento, outra enfermeira entrou correndo no quarto. "Sr. Monteiro! A pressão da Srta. Castilho está caindo! Precisamos desse sangue agora!"

Bernardo levantou-se da cama. "Lari, por favor", disse ele novamente, os olhos arregalados de pânico.

Sem esperar por uma resposta, ele a pegou da cama, com gesso e tudo. O movimento súbito enviou uma onda de agonia por sua perna, mas ele não pareceu notar. Ele correu, carregando-a como um saco de batatas, pelo corredor até a sala de coleta.

A agulha era grossa. Doeu ao entrar. Larissa observou seu próprio sangue vermelho escuro fluir pelo tubo transparente, levando sua vida para salvar sua rival.

Lágrimas escorriam silenciosamente por seu rosto. Ela se lembrou de uma vez em que teve que doar sangue para um exame físico. Ela tinha medo de agulhas. Bernardo estava lá, segurando sua mão, soprando suavemente na picada depois, dizendo que ela era a garota mais corajosa do mundo.

Agora, ele estava parado perto da porta, os olhos fixos na bolsa de sangue, sua expressão ansiosa e impaciente. Seu olhar nunca encontrou o dela.

A enfermeira finalmente tirou a agulha e pressionou um algodão na dobra de seu braço. Bernardo correu para frente, pegando a bolsa de sangue da enfermeira e saindo apressado do quarto sem olhar para trás.

A enfermeira teve dificuldade em encontrar a veia de Larissa, e seu braço já era uma tela de hematomas azuis e roxos.

Bernardo voltou alguns minutos depois. Ele pegou o algodão da enfermeira e o pressionou no braço de Larissa.

Ele se inclinou e soprou suavemente na ferida, um fantasma de um gesto familiar. "Dói?"

A ternura em sua voz, tão deslocada, tão terrivelmente tardia, foi a gota d'água que faltava para quebrar sua compostura. Uma lágrima quente caiu de seu olho e pousou nas costas da mão dele.

Ele se encolheu, olhando para ela, confuso. "Lari?"

Ela queria gritar, bater nele, exigir como ele podia ser tão cruel e depois fingir ser tão gentil.

Mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, um médico entrou correndo. "Sr. Monteiro! A Srta. Castilho está acordada, mas está agitada. Ela caiu tentando sair da cama e está perguntando por você."

Bernardo largou o braço dela instantaneamente. O algodão caiu no chão. Ele sumiu em um piscar de olhos, deixando-a sozinha mais uma vez.

O pequeno algodão branco jazia no chão estéril, um símbolo de seu pedido de desculpas fugaz e inútil.

Larissa olhou para ele, seu coração um peso frio e morto no peito.

Ela não esperou que ele voltasse. Ela mesma se deu alta do hospital, ignorando os protestos do médico. Apoiando-se pesadamente em suas muletas, seu corpo gritando em protesto, ela foi para casa.

Quando abriu a porta da casa que ele havia comprado para eles, a casa que deveria ser o futuro deles, ela o viu.

Ele estava na sala de estar, embalando Jéssica em seus braços, sussurrando palavras de conforto enquanto ela soluçava contra seu peito.

            
            

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