Alguns minutos depois, dois de seus assistentes entraram, carregando maletas grandes e pesadas. Eles as abriram no chão.
Estavam cheias de dinheiro. Pilhas e pilhas de notas de cem reais.
"Um milhão de reais", disse Bernardo, a voz monótona. "Assine os papéis, e é seu. Um pequeno preço pelo inconveniente."
Larissa encarou a montanha de dinheiro. Ele estava tentando comprar seu silêncio, colocar um preço em sua dor.
Mais maletas chegaram. Mais dinheiro. Logo, o chão estava coberto.
"Cinco milhões", disse ele. "E a cobertura. Aquela que você sempre gostou, com vista para o parque."
Ela se lembrava daquela cobertura. Eles haviam passado por ela uma vez, quando não tinham nada. "Um dia", ele havia prometido, "eu vou comprar isso para você."
"E um carro", ele continuou, sua voz monótona. "O conversível vermelho que você apontou naquela revista."
Ela se lembrava disso também. Uma fantasia boba. Ela havia rido e dito que preferia uma bicicleta.
"E um emprego", ele terminou. "Um cargo de engenheira sênior na minha empresa. Seu próprio laboratório. O que você quiser."
Ele estava oferecendo a ela tudo o que ela sempre sonhou. Tudo, exceto a única coisa que ela realmente queria. Ele. O verdadeiro ele. Aquele que ela havia perdido.
Ela olhou para o dinheiro, para as promessas pairando no ar. Ela pensou em sua pequena quitinete, no gosto de macarrão instantâneo barato, no calor da mão dele na dela.
Uma lágrima escorreu por sua bochecha.
"Ok", ela sussurrou. "Eu assino."
Ela pegou a caneta. "Mas esta é a última vez", disse ela, olhando-o nos olhos. "Esta é a última coisa que eu farei por você."
Bernardo olhou para ela, um lampejo de confusão em seus olhos. Ele não entendeu suas lágrimas. Ele pensou que estava dando a ela tudo. No mundo dele, este era um final feliz.
Mas ela sabia. Este era o fim da história deles. O garoto que ela amava estava verdadeiramente morto, substituído por este homem frio e poderoso que pensava que o amor podia ser comprado e vendido. Ele era um fardo que ela não precisava mais carregar.
No dia seguinte, Dantas de Almeida a visitou. Ele lhe trouxe um passaporte, um visto e uma passagem só de ida para Londres.
"Confio que você partirá em breve", disse ele, seu tom não deixando espaço para discussão. "Minha filha ficou muito abalada com todo esse drama."
"Eu assinei os papéis", disse Larissa em voz baixa. "Estou partindo esta noite."
"Bom", ele fungou, virando-se para sair. "É para o melhor."
Depois que ele saiu, Larissa se permitiu chorar. Suas lágrimas caíram na passagem de avião, borrando a tinta antes de evaporarem, sem deixar vestígios. Assim como ela. Ela partiria, e logo, seria como se nunca tivesse existido.
Naquela noite, começou a chover. Uma chuva fria e miserável. Bernardo deveria buscá-la. Ela esperou. E esperou.
Seu telefone vibrou. uma mensagem de um número desconhecido. Era uma foto. Jéssica, sorrindo, no banco do passageiro do carro de Bernardo. A legenda dizia: "Desculpe, Larissa! O tempo está horrível, e eu estava com tanto medo. Bernardo insistiu em me levar para casa primeiro. Ele te busca mais tarde!"
Larissa encarou a foto, o sorriso triunfante de Jéssica. Ela nem se deu ao trabalho de responder.
Ela saiu para a chuva. Caminhou por horas, a água fria encharcando-a até os ossos, até que suas lágrimas secaram e seu coração era um bloco de gelo.
Por que ela estava triste? Isso não era uma surpresa. Ele havia feito sua escolha, repetidamente. Sua preferência era clara.
Ela finalmente voltou para casa. Pela janela da sala, ela os viu. Bernardo estava sentado no sofá, secando gentilmente o cabelo de Jéssica com uma toalha. O gesto era tão terno, tão íntimo, que roubou o fôlego de seus pulmões.
Ela passou por eles, um fantasma pingando.
"Lari!", Bernardo chamou, surpreso. "Você está encharcada! Eu estava prestes a ir te buscar."
Ela não parou. "Tudo bem", disse ela, a voz desprovida de emoção. "Estou acostumada com a chuva."
Ele começou a explicar, a dar desculpas sobre Jéssica estar com medo, sobre o trânsito, mas ela não se importou em ouvir.
Ela foi para o quarto e fez as malas. Não levou nada que ele lhe dera. Apenas as roupas velhas e gastas com as quais chegara. Ela limpou seu histórico de navegação, apagou suas fotos, apagou todos os vestígios digitais de si mesma da vida dele.
Ela encontrou o modelo quebrado de sua primeira invenção no lixo. A pedra fundamental de seu futuro. Ela o segurou por um momento, depois o deixou cair de volta no lixo.
Ela apagou sua impressão digital do sistema de segurança.
Então, com uma mala pequena e surrada na mão, ela saiu pela porta e nunca mais olhou para trás.
De agora em diante, ela viveria para si mesma.