Minhas mãos tremiam levemente, escondidas sob a pasta que eu segurava contra o peito. Eu tentei manter a compostura, mas cada passo em direção à mesa dele era uma luta interna. O coração batia rápido, tão alto que parecia preencher a sala. E mesmo assim, não consegui desviar os olhos.
Ele não parecia real. Era mais alto, mais intenso, mais... perigoso do que eu lembrava.
Sim, lembrava.
Porque Felipe Diniz não era apenas meu chefe. Ele era um fantasma do meu passado. O menino que um dia segurou minha mão no quintal da casa da minha avó, o garoto que me arrancou risadas inocentes e o primeiro a me ensinar o gosto doce da confiança.
Mas aquele menino não existia mais.
À minha frente, estava um homem - poderoso, frio, dono de cada gesto e cada palavra. O CEO que todos temiam... e que, por algum motivo, fazia meu corpo responder de forma que eu não queria admitir.
Eu havia acabado de ficar viúva. Edgar ainda estava vivo dentro de mim, em minhas lembranças e dentro do meu coração. E como eu poderia sentir algo por outro homem em tão pouco tempo? Isso é loucura. Beira a insanidade. E se tem uma coisa que nunca fui nessa vida é pervertida. Pelo contrário, sempre me considerei puritana e certinha demais quando o assunto está relacionado a homens. Edgar foi o meu primeiro namorado sério, e o único que me conheceu por inteiro. Me casei virgem, e não me arrependo disso. Mas agora diante de Felipe, me vejo diante de uma avalanche de recordações, e de uma sensação inesperada que não quero sentir. Eu não posso me interessar por outro. Principalmente, esse outro, sendo o meu amigo de infância e o meu chefe.
Deus, me ajude!
Me aproximei para organizar os arquivos, tentando manter a postura profissional. Mas quando me inclinei para alcançar uma pasta, senti o olhar dele queimando minha pele, como se pudesse despir cada camada de roupa e cada barreira que eu tentava erguer.
Meu corpo reagiu antes da minha mente. A respiração acelerou, um calor estranho subiu pelo meu pescoço, e precisei morder o lábio para não denunciar o efeito que aquele homem tinha sobre mim. Era errado. Ele era meu chefe. E, pior, ele era alguém que já havia feito parte da minha vida de uma forma que eu não queria expor agora.
Mas como resistir?
A maneira como sua voz grave pronunciava meu nome, o peso de cada palavra... eu quase podia sentir sua respiração roçando contra minha pele.
"Senhor Diniz, deseja que eu organize primeiro os relatórios?" - perguntei, tentando soar firme, mesmo que por dentro eu estivesse em pedaços.
Quando ele respondeu, sua voz foi baixa, quase um comando, quase uma promessa:
- Apenas fique onde está, Helena. Deixe que eu veja quem você realmente é.
A frase me atravessou como uma lâmina quente. Ele não queria apenas que eu fosse eficiente, organizada ou discreta. Ele queria me despir de máscaras, arrancar verdades, explorar camadas que nem eu mesma ousava tocar.
Respirei fundo, engoli em seco e continuei a mexer nos papéis, fingindo naturalidade. Mas por dentro... por dentro eu sabia que algo perigoso estava começando.
Porque, apesar de todo o medo, uma parte de mim desejava ceder. Uma parte que lembrava da doçura do passado, mas que agora se perdia no homem que ele havia se tornado - sombrio, poderoso, irresistível.
Felipe Diniz não era só meu chefe. Ele era um pecado ao qual meu corpo implorava para se render.
E eu sabia... cedo ou tarde, eu não teria forças para resistir.
Aquele instante parecia se estender ao infinito, como se o tempo tivesse sido sequestrado pelo peso da presença dele. Cada movimento meu era calculado, medido, e ainda assim insuficiente para disfarçar o turbilhão que se erguia dentro de mim. Eu podia tentar manter o rosto sereno, mas por dentro era só caos.
A lembrança do menino que um dia foi meu porto seguro se chocava violentamente com a imagem do homem que agora me fitava com tanta intensidade. Era como se duas versões dele coexistissem em minha mente - uma doce memória que aquecia, e a outra, real e palpável, que me queimava como fogo proibido.
Meu corpo parecia dividido. Parte de mim queria recuar, fugir, se esconder daquela força que me desarmava sem esforço. Mas outra parte - a mais perigosa - se inclinava para frente, atraída, como se existisse um ímã invisível entre nós. Era a fraqueza que eu jamais admitiria em voz alta, mas que gritava dentro do meu peito.
Eu podia sentir meu coração batendo em lugares estranhos: na garganta, nos punhos fechados, no fundo da minha barriga. Cada batida era uma confissão, cada respiração acelerada era uma entrega que eu não queria assumir. Fingir naturalidade diante dele era uma batalha perdida desde o primeiro segundo em que meus olhos encontraram os dele.
E o pior era a consciência do perigo. Eu sabia que ceder a qualquer fragmento dessa atração poderia me custar caro. Felipe Diniz não era um homem comum, não era alguém que passaria despercebido pela minha vida. Ele tinha poder demais, presença demais, e um domínio quase cruel sobre tudo ao redor. Entrar nesse jogo significava me perder, e talvez nunca mais voltar a ser a mesma.
Mas como resistir ao que era tão visceral?
O calor que percorria minha pele era quase sufocante, como se o simples fato de existir perto dele fosse suficiente para me despir de camadas que passei anos construindo. Eu me sentia exposta, vulnerável, e ao mesmo tempo, havia uma estranha sensação de familiaridade - como se uma parte de mim tivesse esperado, em silêncio, por aquele reencontro.
Era um paradoxo que me destruía por dentro: o medo e o desejo convivendo lado a lado, travando uma guerra em meu corpo. Cada fibra minha gritava para manter distância, mas cada pensamento me empurrava para o abismo que ele representava.
Eu não queria ser vista. Não dessa forma. Mas a intensidade do olhar dele me atravessava como se não houvesse mais máscaras, mais escudos, mais defesas. Diante de Felipe Diniz, eu era apenas eu - e isso era aterrorizante.
E, ainda assim, uma parte secreta, escondida nas sombras da minha própria alma, se deliciava com a ideia de ser desvendada por ele.
Esse era o verdadeiro pecado. Não o desejo em si, mas a vontade de me render a ele.
E no fundo, por mais que eu lutasse contra essa verdade, eu sabia: minha queda já havia começado no instante em que abri aquela porta.