Promessa selada
img img Promessa selada img Capítulo 1 Destino selado
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Capítulo 6 Rotinas e inquietações img
Capítulo 7 Uma visita inesperada img
Capítulo 8 O vestido img
Capítulo 9 Movimento calculado img
Capítulo 10 O casamento img
Capítulo 11 O almoço img
Capítulo 12 Despedidas img
Capítulo 13 O silêncio entre eles img
Capítulo 14 O castelo de mármore img
Capítulo 15 Primeiros ajustes img
Capítulo 16 O novo lar e o velho olhar img
Capítulo 17 O jardim e o vazio img
Capítulo 18 O sabor da solidão img
Capítulo 19 O café e a surpresa img
Capítulo 20 Uma pequena trégua img
Capítulo 21 Quebrando rotinas img
Capítulo 22 O piquenique img
Capítulo 23 Segredos e sonhos img
Capítulo 24 O convite img
Capítulo 25 O pior vizinho do mundo img
Capítulo 26 Memórias img
Capítulo 27 Planos para o final de semana img
Capítulo 28 O Santuário dos Bichos img
Capítulo 29 Apenas o começo da jornada img
Capítulo 30 O jato img
Capítulo 31 O ritmo do passado img
Capítulo 32 Finalizando a noite img
Capítulo 33 A viagem está apenas começando img
Capítulo 34 A voz da compaixão img
Capítulo 35 O começo de uma nova jornada img
Capítulo 36 A rotina e a fuga img
Capítulo 37 A fortaleza em ruínas img
Capítulo 38 O desabafo img
Capítulo 39 A essência e a força img
Capítulo 40 O confronto img
Capítulo 41 Ânimos alterados img
Capítulo 42 Uma carta img
Capítulo 43 A conversa no jardim img
Capítulo 44 Planos para o futuro img
Capítulo 45 O voto de confiança img
Capítulo 46 Uma vida monocromática img
Capítulo 47 Gaiola aberta img
Capítulo 48 Um toque familiar img
Capítulo 49 O beijo img
Capítulo 50 Primeiras mudanças img
Capítulo 51 Novidades img
Capítulo 52 A rainha em seu próprio reino img
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Promessa selada

Lanuza Santos
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Capítulo 1 Destino selado

O cheiro de feno e terra molhada era a única coisa que a mantinha sã.

Isabela passou a mão pela crina sedosa de Eclipse, o puro-sangue castanho que era seu xodó, sentindo a familiar textura sob seus dedos. Fora ali, no haras de seu pai, que ela construiu sua vida - um mundo de trabalho duro, paixão incondicional e um amor simples pelos animais. Mas agora, esse mundo estava à beira do precipício. Uma dívida impagável, um trato que ela nunca imaginou fazer, um casamento arranjado.

Ela sabia que devia ir. Seu pai já havia chamado três vezes, a voz carregada de uma urgência que ela raramente ouvia. "Isabela, o Dr. Medeiros está esperando. Não podemos nos atrasar."

O Dr. Medeiros era, na verdade, o advogado do avô de Rafael. Para ela, essa formalidade só reforçava a distância. Tudo era frio e calculista, desde o acordo até o homem que o havia concebido.

Jogou o feno restante na cocheira e respirou fundo, tentando controlar a raiva que subia à garganta. Era injusto. Ela, recém-formada em Medicina Veterinária, com um futuro brilhante e um sonho de montar seu próprio santuário, sendo forçada a um acordo por causa de um erro que nem sequer foi dela.

"Isabela!" a voz de seu pai ecoou, mais perto desta vez. Ela se virou para encará-lo, o olhar firme.

"Estou indo, pai. Já entendi que meu futuro foi leiloado para o herdeiro de uma família que nem conheço."

A dor e o cansaço no rosto dele eram evidentes. "Não fale assim, filha. É um sacrifício. Para nós. Para a fazenda."

Ela assentiu, a teimosia em seu olhar. "Um sacrifício, sim. Mas só para um lado."

O escritório na Avenida Faria Lima era como um mausoléu de vidro e aço. Silencioso, frio e com um ar tão opressor que Isabela sentiu falta do cheiro de esterco e suor dos cavalos. A sala de reunião era ainda pior. Uma mesa enorme de mogno, cadeiras de couro preto e, na ponta oposta, um homem que parecia ter sido esculpido em mármore.

Rafael Albuquerque era a personificação da palavra "impecável". O terno de alfaiataria cinza escuro, a camisa de seda, os cabelos negros perfeitamente penteados e a barba cerrada que delineava um queixo quadrado e inflexível. Seus olhos castanho-escuros pareciam analisar cada centímetro dela, sem emoção alguma, como se ela fosse apenas mais uma cláusula no contrato.

Isabela, com seus jeans surrados, a camiseta branca e as botas de montaria, sentiu-se completamente deslocada. O contraste era tão gritante que era quase cômico.

O Dr. Medeiros pigarreou, quebrando o silêncio. "Isabela, este é o senhor Rafael Albuquerque. Rafael, esta é a senhorita Isabela Monteiro."

Rafael mal assentiu com a cabeça, seus olhos fixos em uma pasta à sua frente. "Podemos ir direto ao ponto?" Sua voz era grave e monótona, sem um pingo de cordialidade.

O pai de Isabela, nervoso, começou a explicar a situação, as dívidas, o legado da família. Mas Rafael o interrompeu sem cerimônia.

"Não perca nosso tempo, Dr. Pereira," ele disse, referindo-se ao advogado de Isabela. "O contrato já está redigido. A cláusula principal é simples: para assumir o controle do conglomerado, preciso de um casamento de, no mínimo, um ano."

Isabela se mexeu na cadeira, a irritação crescendo. Ele falava dela como se fosse uma peça de xadrez.

"E por que um ano?", ela questionou, sua voz firme, surpreendendo a todos.

Rafael finalmente levantou o olhar. "É o prazo estipulado no testamento de meu avô. Acredito que ele queria garantir que eu não me casasse por um motivo puramente financeiro e que a aliança fosse duradoura."

Uma aliança. Era isso. Uma aliança forjada com desespero.

Isabela o encarou, seus olhos verdes encontrando a frieza dos dele. "E o que eu ganho com isso? Uma cláusula para me livrar depois de um ano?"

Um leve sorriso, quase imperceptível, surgiu nos lábios de Rafael. "Você ganha a liquidação de todas as dívidas de sua família. E, após o período, um capital para construir o seu haras. Mas a cláusula que a liberta depende de uma cláusula de fidelidade de sua parte. Eu não quero escândalos."

A audácia dele a chocou. Ele não apenas a comprou, mas exigia que ela agisse como se fosse um produto de sua propriedade. O "gênio forte" de Isabela falou mais alto.

Ela se levantou abruptamente, as mãos na mesa, inclinando-se para frente. "Escute aqui, senhor Rafael Albuquerque. Eu não sou um item na sua lista de tarefas. E se o senhor acha que pode me controlar, está muito enganado. Eu entro nesse circo por causa do meu sonho e da minha família, mas não me venha com papo de fidelidade ou escândalos. Eu não serei sua marionete."

O silêncio na sala foi tão pesado que se podia cortar com uma faca. Os advogados e o pai de Isabela ficaram petrificados. O rosto de Rafael, pela primeira vez, parecia ter perdido a máscara de frieza, uma surpresa quase invisível em seus olhos.

Ele a olhou por longos segundos, medindo a sua teimosia, a sua força. E então, sem que ninguém esperasse, ele fez a única coisa que poderia abalar o mundo dela de verdade. Ele sorriu. Não um sorriso amigável, mas um de predador, que sabe que tem o controle da situação.

"Interessante," ele disse, a voz ainda grave, mas com uma nova camada de desafio. "O acordo é este. Tome seu tempo para pensar. Ou não. Já está selado."

            
            

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