O Alfa e a Criança da Lua
img img O Alfa e a Criança da Lua img Capítulo 2 A Noite da Fuga
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Capítulo 8 A Escolha de Um Coração Pequeno img
Capítulo 9 A Proposta de Mary img
Capítulo 10 O Novo Lar img
Capítulo 11 A Primeira Noite Longe img
Capítulo 12 Primeira Manhã img
Capítulo 13 O Peso de Ser Alfa img
Capítulo 14 Primeiro dia de aula img
Capítulo 15 O Olhar de Longe img
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Capítulo 2 A Noite da Fuga

POV Lyra (4 anos)

Lyra estava sentada no sofá da sala, as perninhas balançando sem alcançar o chão, os olhos vidrados na televisão. O desenho era seu favorito, e ela gargalhou quando Bob Esponja e Patrick fugiram correndo do Senhor Siri de Queijo. A risada era cristalina, inocente, mas logo se apagou quando sua mãe entrou no cômodo.

Mamãe estava estranha. Os olhos, sempre tão doces, estavam arregalados demais, como se vissem algo que Lyra não conseguia enxergar. O sorriso nos lábios não parecia de verdade; era como um desenho malfeito. As mãos dela tremiam quando seguravam a barra do vestido.

"Lynn... mamãe está bem?", pensou Lyra, chamando pela voz que vivia em sua mente.

Lynn sempre estava lá. Diferente das amigas da escola, Millie e Amber, que iam para casa quando escurecia, Lynn morava dentro dela. Falava baixinho, dava conselhos e às vezes dizia coisas que a faziam se sentir especial.

A primeira vez que contara sobre Lynn, mamãe ficara preocupada. Levou-a até um médico que cheirava a giz e álcool. Ele lhe deu remédios amargos que doíam na barriga e deixavam sua cabeça pesada. Depois disso, Lynn pediu com firmeza:

"Não conte mais sobre mim. Eles não vão entender. Quando chegar a hora, vou te explicar. Por enquanto, basta pensar em mim, e eu estarei aqui."

E ela obedecera.

- Ela está com medo... - sussurrou Lynn agora.

Lyra escorregou do sofá, correu até a mãe e agarrou sua mão.

- Mamãe, você está com medo?

O sorriso da mãe aumentou, mas os olhos continuaram tristes. Ela se agachou, ficando na altura da filha.

- Nós vamos fazer uma viagem, meu amor.

Lyra deu um pulo de alegria. Adorava viajar!

- Pra onde, mamãe?

- Para casa.

Lyra franziu a testa.

- Mas a gente já tá em casa... não tá?

A mãe a puxou para um abraço apertado, tão forte que quase doeu. O cheiro dela era de morangos, como sempre, mas havia algo diferente misturado: cheiro de lágrimas.

- Aqui não é mais nossa casa, querida.

- Mas eu gosto daqui... e tem a Millie e a Amber... - disse, a voz baixinha.

- Eu sei, meu amor. - A mãe acariciou seus cabelos negros. - Um dia, quando você for maior, vou te explicar melhor. Agora preciso que confie em mim. Pode fazer isso?

Lyra assentiu, mesmo sem entender.

A mãe a pegou no colo, apertando forte, e a levou até o carro. Sentou-a na cadeirinha, puxou o cinto até ouvir o clique.

- Fique quietinha, tá bem? A mamãe vai pegar as malas e já volta.

Lyra balançou a cabeça em concordância. Sempre obediente.

"Algo está errado", murmurou Lynn em sua mente. "Ela tem medo. Eu sinto."

Lyra mordeu o lábio. - Será que tem a ver com o homem de ontem?

A lembrança veio como um pesadelo. Estava quase dormindo quando ouvira mamãe gritar. Levantara pé por pé até o corredor. Um homem pálido estava parado na porta. O sorriso dele era torto, assustador. O cheiro que vinha dele era horrível, tão ruim que o estômago de Lyra embrulhou. Mamãe correu, colocando o corpo na frente dela.

- Volte pra cama, princesa. Eu já subo.

"Vamos, Lyra", sussurrou Lynn dentro dela.

E ela obedeceu, mesmo assustada. Pouco depois, mamãe entrou no quarto, beijou-lhe a testa com mãos geladas e a cobriu.

"O cheiro dele... lembra o cemitério do vovô e da vovó", disse Lynn.

"É mesmo... cheiro horrível", concordou Lyra.

Agora, enquanto mamãe guardava malas no porta-malas, Lyra abraçou o bichinho de pelúcia que levava sempre. Sentia que estavam fugindo, mas não sabia de quê.

O carro seguiu pela estrada escura. As luzes passavam rápidas, o balanço embalava Lyra para o sono. Olhou para a mãe várias vezes, mas o rosto dela estava rígido, como se tivesse esquecido como sorrir.

Queria perguntar de novo para onde iam, mas a voz não saiu. Um silêncio pesado preenchia o carro, quebrado apenas pelo ronco do motor.

O sono finalmente a envolveu, mas de repente, um estrondo rasgou a noite. O silêncio foi estilhaçado. Um clarão. Um barulho ensurdecedor. O carro rodou, os vidros explodiram. O mundo se desfez em dor e fumaça.

Lyra gritou, mas o grito se perdeu.

Quando abriu os olhos, o ar estava pesado, cheio de cheiro de ferro queimado. A cabeça latejava.

- Mamãe! - tossiu.

"Solte o cinto, Lyra", orientou Lynn, firme.

Os dedinhos lutaram contra o fecho até que ele cedeu. Ela tropeçou para fora da cadeirinha, as pernas bambas, lágrimas borrando a visão.

No chão, mamãe estava caída. Os cabelos cheios de vidro, o vestido sujo de sangue.

- Acorda, mamãe! - Lyra sacudiu o braço frio. - Acorda!

Nada.

"Ela se foi, Lyra", murmurou Lynn, triste.

- Não, não! Ela só tá dormindo! Ela ainda não virou estrelinha!

"Agora ela virou."

- Cala a boca, Lynn! - gritou. - Ela já já vai acordar!

Lyra se encolheu ao lado do corpo da mãe, abraçando-a como se pudesse aquecê-la de novo. O tempo escorria devagar, cada segundo mais pesado. O sono ameaçava puxá-la, mas o medo não deixava.

Então vieram vozes. Passos. Homens grandes surgiram da escuridão, os olhos brilhando de um jeito estranho.

O coração dela disparou. Se eles machucassem a mamãe? Não podiam!

"Lyra, cuidado", alertou Lynn.

O peito da menina apertou. Algo diferente começou a crescer dentro dela, quente e feroz. Como se o corpo fosse pequeno demais para tanta energia.

O ar ficou pesado. O mundo girou.

- Não cheguem perto! - tentou gritar, mas o que foi mais rosnado.

A dor não veio como a do machucado no joelho, mas como uma brincadeira ruim que a fazia queimar por dentro. Lyra sentiu uma coceirinha subir pelas costas, mas logo o corpo virou uma fogueira.

Ela ofegou, o estômago chacoalhou como um brinquedo quebrado, e o som de seus ossos se movendo era como o barulho de galhos secos. Ela queria gritar pela mamãe, mas a Lyra que pedia socorro estava sumindo.

Havia só a dor e a pressa de uma coisa nova querendo sair de dentro dela. A mente dela escorregou como areia que cai da mãozinha. Um escuro grande engoliu tudo, e a última coisa que Lyra lembrava era de seus braços e pernas se mexendo sem ela mandar, enquanto algo tomava o lugar dela

            
            

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