Capítulo 5 O conselho

POV Zane ( 17 anos)

Zane deixou Lyra aos cuidados de Mary e, ao sair do quarto, percebeu os olhos da menina seguirem cada movimento seu, tristes e confusos. Seu coração apertou. Ela acabara de perder a mãe, e ele era a única mão estendida que encontrara. Era natural que se apegasse a ele daquela forma, mas a sensação de responsabilidade pesava como uma armadura invisível sobre os ombros do Alfa.

Carson o esperava no corredor, o cheiro de gelo e preocupação mais forte do que nunca. A postura do Beta, sempre firme, estava carregada de uma hesitação incomum.

- O conselho descobriu sobre a criança - Carson anunciou, a voz baixa, ecoando no silêncio pesado da alcateia.

Um bufo de raiva escapou dos lábios de Zane. Ele sabia que o segredo não duraria. A notícia do lobo branco, do "presente da Deusa", era um rumor que se espalharia como fogo selvagem na noite. Ele só não esperava que os urubus do conselho chegassem tão rápido.

- Eles sabem que ela é o Lobo Branco? - Zane questionou, a esperança, por mais tola que fosse, mal contida em sua voz.

Carson apenas assentiu, os olhos castanhos firmes e sombrios. - Sim, Alfa.

Zane praguejou, as palavras afiadas como facas em sua garganta. Não havia mais como esconder. A promessa silenciosa que ele fez àquela menina seria testada, e ele sabia que a batalha seria árdua.

- Eles exigem sua presença imediata - Carson continuou, a formalidade do título um eco da gravidade da situação.

- Vamos - Zane respondeu, sua voz inabalável, sem ceder à raiva que borbulhava sob sua pele.

Enquanto caminhavam em direção à casa do conselho, Zane notou a presença de Tyler, parado na entrada como se estivesse esperando por eles. O Alfa parou, sentindo um arrepio de desconfiança.

- É hora de nomear sua própria equipe, Alfa - Carson disse, como se lesse seus pensamentos.

Zane olhou para o Beta mais velho, uma sobrancelha arqueada em questionamento. - Já está cansado de mim, Carson?

- Não, Alfa. Mas já é hora de o sangue jovem assumir - Carson explicou, seu tom sério. - Estarei ao lado de Tyler para orientá-lo durante a transição, mas meu tempo como Beta já passou.

- Aconteceu algo? - Zane questionou, a intriga evidente em sua voz.

- Eu cometi um erro, Alfa - Carson confessou, sua voz cheia de um arrependimento genuíno. - Pensei na criança como um instrumento de poder, como eles. Mas você estava certo. Ela não é um peão. Ver sua determinação... Me fez enxergar o erro.

Zane, embora intrigado pela mudança repentina de Carson, sentiu um alívio sutil. O Beta era um homem de honra, e ter seu apoio, mesmo que indiretamente, era um grande trunfo.

- Tyler tem os mesmos pensamentos que você - Carson continuou. - Ele será um excelente Beta.

- Você foi um ótimo Beta, Carson. Agradeço por seu serviço - Zane disse, sinceramente.

- Seu pai era um bom amigo, mas eu entendo que nosso tempo passou. O velho deve morrer para dar lugar ao novo - Carson respondeu, um sorriso triste nos lábios.

Zane assentiu, aceitando a transição. Ele se virou para Tyler, o jovem Lycan que ele via como um irmão mais novo.

- Alfa - cumprimentou Tyler, firme, os olhos brilhando entre orgulho e apreensão.

- Beta Tyler - respondeu Zane, notando a mistura de medo e determinação no olhar do jovem.

Os três entraram na casa do conselho. Zane não esperou por permissão, pois era o Alfa. A formalidade era uma convenção, mas a autoridade era um fato. Os quatro anciãos, Sanders, Myria, Carter e Susan, estavam à espera, os rostos enrugados e cheios de expectativa.

- Alfa - eles cumprimentaram, a reverência de suas vozes mascarando uma tensão que Zane sentia como um rosnado na garganta.

- Ancião Sanders, Anciã Myria, Ancião Carter, Anciã Susan - respondeu Zane, com voz firme, estudando cada reação.

- Por que me chamou aqui? - questionou Zane, direto, buscando respostas.

- Fomos informados que uma criança foi trazida à matilha - disse Sanders.

- Sim. Eu a trouxe ontem - Zane respondeu, sem rodeios.

- E quando pretendia nos informar? - indagou Carter, a voz dura, exigindo explicações.

Zane conteve um rosnado, a tensão crescendo.

- Por que deveria, Ancião Carter? - sua voz cortou o ar, firme e autoritária. Que me recordo, um Alfa não precisa dar satisfação ao conselho a menos que deseje sua orientação.

- O que o Ancião Carter está querendo dizer - Susan interveio, tentando apaziguar a situação - é que é importante que os anciãos saibam para ajudá-lo a tomar a melhor decisão para o futuro da matilha.

- E o que a criança tem a ver com o futuro da matilha? - Zane questionou, sua voz perigosamente baixa.

- Todos sabemos que o lobo branco é um presente da Deusa. Graças a essa criança, a matilha prosperará - Susan afirmou, a ganância brilhando em seus olhos.

- Nossa matilha já é próspera - Zane respondeu, categórico. - E ela não pertence a este território. Ela e a mãe sofreram um acidente e vieram parar aqui. Ela não pertence à Silver Claw.

- Mas você pode tomá-la como sua companheira - Myria se atreveu a sugerir, o veneno de sua proposta disfarçado em palavras doces.

Zane arregalou os olhos, a incredulidade estampada no rosto. - Vocês querem que eu tome uma criança como companheira? - Zane rosnou, a raiva finalmente escapando.

- Claro que não! - Myria respondeu, recuando. - Mas quando ela completar 18 anos, ela estará pronta para ser sua companheira.

- Isso soa como roubo! - a fúria em Zane era quase palpável, percorrendo o salão como corrente elétrica.

- Ela já está em nosso território. É um direito da matilha - rebateu Carter, firme.

- Não vou arrancar uma criança de sua vida. Se houver família, a devolverei. Caso contrário, terá liberdade para decidir sua vida - afirmou Zane, categórico, cada palavra carregada de convicção.

- Mas Alfa... - Susan tentou mais uma vez.

- Não vou ouvir mais nenhuma palavra. Se eu não encontrar a família dela, ela será bem-vinda a viver aqui. Caso contrário, eu a mandarei para o mundo dos humanos.

- O lugar dela é ao lado dos Lycans - Carter insistiu, a raiva em sua voz refletindo a de Zane.

- O lugar dela será onde ela quiser. Nenhum conselho ou ancião decidirá isso por ela. - Zane finalizou, sua voz ressoando com autoridade.

Zane se retirou do salão com passos firmes, sentindo a raiva protetora que queimava em suas veias. Nunca se sentira tão responsável por alguém. A ideia de que alguém pudesse ferir aquela criança o enfurecia. Ele precisava descobrir sua história, encontrar sua família, e garantir que ninguém jamais tirasse dela a liberdade que ela merecia.