Depois, uma foto de uma tigela de sopa fumegante.
Outra mensagem.
[Ele ficou comigo a noite toda. Segurou minha mão até eu dormir.]
Seguida por um vídeo de Heitor dormindo em uma cadeira ao lado da cama dela, a mão dele segurando a dela.
[Ele vai me levar para um encontro hoje à noite para compensar o que você fez.]
[Ele me carregou para casa porque meus pés doíam.]
E então, a que finalmente rompeu minha dormência. Uma foto. Aline, com o rosto inclinado para cima, pressionando seus lábios contra os de Heitor. Os olhos dele estavam fechados.
Um vídeo se seguiu. A mão dela deslizando por baixo da camisa dele.
Meu coração, que eu pensei ter se transformado em pedra, sentiu uma pressão aguda e esmagadora. Eu não conseguia respirar.
Eu não respondi. Apenas apaguei as mensagens, uma por uma.
No dia em que recebi alta, cuidei da papelada sozinha. Peguei um táxi de volta para a casa que um dia chamamos de lar.
Quando cheguei lá, Aline estava na porta. Heitor estava ao lado dela, parecendo estressado. Ela tinha uma mala.
"Ela não tem para onde ir", disse Heitor antes que eu pudesse falar. "O proprietário a despejou."
Aline estava tentando forçar a entrada. "Esta é a casa do Heitor, o que significa que é minha casa! Você não pode me impedir!"
Heitor a segurava, sua voz firme pela primeira vez. "Aline, não. Esta é a minha casa e da Aurora. Você não pode ficar aqui."
Ela começou a gritar, um som selvagem e encurralado. "Se você não me deixar entrar, eu vou correr para o meio do trânsito agora mesmo! Eu vou fazer isso!"
Ele parecia impotente, preso.
Então ele me viu parada no portão. Seus olhos se arregalaram de surpresa.
"Rory! Você está em casa."
Ele correu até mim, sua voz um murmúrio baixo e apologético. "Ela só vai ficar por alguns dias. Só até eu encontrar um lugar novo para ela. Eu prometo."
Eu olhei por cima dele para Aline, que agora me encarava com triunfo.
Eu baixei os olhos. Minha voz estava calma, desprovida de qualquer emoção.
"Ok."
Heitor pareceu chocado. "Você... você não se importa?"
Eu balancei a cabeça, um sorriso amargo tocando meus lábios. "O que há para se importar?"
Eu não era mais a dona desta casa. Eu era apenas uma hóspede temporária, prestes a ser despejada.
Aline passou por Heitor e entrou na casa como se fosse a dona.
"Nossa, este lugar é tão brega", ela declarou, torcendo o nariz. "Tudo precisa ser mudado."
Ela começou a dar ordens às empregadas. "Este sofá é horrível, livre-se dele. E essas cortinas! Joguem fora!"
Então seus olhos pousaram no grande retrato de casamento pendurado na sala de estar. Era uma foto de Heitor e eu em nosso dia mais feliz.
"E aquilo", ela disse, apontando um dedo afiado, "é o mais feio de tudo. Tirem e queimem."
As empregadas olharam incertas para Heitor.
Ele hesitou por um momento, depois deu um leve aceno de cabeça derrotado. "Façam o que ela diz."
Eu esperava por isso. Eu esperava sua rendição.
Senti um fantasma de riso em meu peito. Virei-me sem uma palavra e fui para o meu quarto fazer as malas.
Se eles me queriam fora, eu facilitaria para eles. Eu me apagaria desta casa.
Peguei uma mala e comecei a enchê-la com minhas coisas. Roupas, livros, meu antigo material de arte. Coisas que eu amava.
Quando saí do meu quarto, arrastando a mala, a sala de estar era uma zona de desastre.
Nossa foto de casamento estava espatifada no chão, o vidro quebrado, meu rosto sorridente rasgado. Meus livros foram arrancados das prateleiras e jogados em uma pilha. O lindo vaso que eu comprei em nossa lua de mel estava em pedaços.
O lar que eu construí com tanto cuidado, mantido com tanto amor, estava destruído.
Fiquei ali por um momento, apenas olhando para os destroços.
Aline estava no meio de tudo, um sorriso presunçoso e vitorioso no rosto.
"Tudo isso", ela disse, gesticulando pela sala, "e você... vocês todos estão no passado agora."
Eu a ignorei. Cansei dos jogos dela.
Mas ela parou na minha frente, bloqueando meu caminho. "Onde você pensa que vai?"
Seus olhos caíram na mala semiaberta. Ela viu o conjunto empoeirado de tintas a óleo que eu havia embalado. Sua expressão se contorceu.
"Ainda fingindo ser uma artista? Está tentando mostrar o quão talentosa você é? O quanto ele costumava te amar?"
Eu apenas olhei para ela, meu silêncio uma parede que ela não conseguia quebrar. "Deixe-me passar, Aline."
Tentei contorná-la.
Seu rosto se contorceu de raiva. "Sua vadia!"
Ela pegou um pesado vaso de porcelana de uma mesa lateral e o balançou na minha cabeça. Eu tropecei para trás, desviando do golpe. O vaso se estilhaçou contra a parede atrás de mim.
Enquanto eu cambaleava, desequilibrada, ela avançou.
Ela colocou as duas mãos no meu peito e empurrou. Com força.
Eu estava no topo da grande escadaria.
"Vá para o inferno, Aurora!", ela gritou, sua voz pingando veneno.
Senti um momento de ausência de peso. Depois, um impacto agudo e violento enquanto meu corpo rolava escada abaixo.
A dor explodiu através de mim. Aterrissei em um monte no final, minha cabeça batendo no chão de mármore com um estalo doentio.
Sangue. Eu podia sentir o sangue quente emaranhando meu cabelo, formando uma poça sob mim.
Meu corpo convulsionou, uma série de tremores violentos.
Minha visão ficou turva.
A última coisa que vi antes de desmaiar foi Heitor, correndo pela porta da frente, seu rosto um retrato perfeito de horror.