Eu sei que o que estou prestes a fazer é um sacrifício imenso, mas as circunstâncias não me dão escolha. A voz de Ezra, minha irmã, ainda ecoava em meus pensamentos, com a ameaça cruel e fria de que Isabela sofrerá caso eu não cumpra as suas exigências. O peso dessas palavras era insuportável.
- Chega! - Grito, sem suportar mais tudo isso. Respirando profundamente seco as lágrimas, tento recompor-me e, com o coração pesado, saio do banheiro.
A cerimônia está prestes a começar.
A grande sala estava adornada com flores mortas e velas, criando um ambiente que contrastava fortemente com o meu tumulto interno. Não havia altar, a mesa de marmore por si só exalava elegância, não para um casamento. Adentro o cômodo com a cabeça pesada, vestida com um vestido pouco justo branco, tecido grosso, algum tipo cetim, que agora parece um manto de sacrifício, ando lentamente em direção a mesa.
Quando finalmente chego ao lugar, após revistar os presentes sem conhecer ninguém, exceto a infeliz da Ivone e o meu pai, me pergunto como ele pode colaborar com tudo isso.
Meus olhos vagam pelo chão, até erguer e encontraram um homem alto, loiro, forte. O homem que eu estou prestes a me casar esta de costas conversando com outro homem, até que ele se vira para mim, engulo em seco com o que vejo, ele é horrivel, tem uma aparência dura e desagradável, seus olhos azuis, cabelos loiro com alguns fios grisalhos, mas isso não é tudo. Seu rosto é marcado por uma cicatriz que pega do queixo a testa, linha horizontal, grossa, e certamente a coisa mais horrível que já vi, a cicatriz parece fresca, recente, a carne avermelhada que não se fechara, embora esteja cicatrizada, além de rugas prematuras e uma expressão que parece permanentemente severa, pouco o que salva é a barba, grossa, certamente áspera.
Ele é horrível, a coisa mais feia que já vi. Apesar do medo, apenas engulo em seco, após parar diante a revelação, tentando ignorar o desconforto que sinto, meu corpo treme.
O homem de pé a me olhar, parece perceber a minha apreensão, pois ele mantém seus olhos firmes em mim, não parecendo fazer nenhuma tentativa de amenizar o meu desconforto. Seu olhar frio, calculista não ajuda a aliviar a tensão que pairava no ar.
O celebrante começa a cerimônia, e as palavras de rito são proferidas com a formalidade que a ocasião exige, no mínimo silêncio, tento pensar em como Ezra pode elaborar um acordo com este homem horrivel, mil ideias passam a minha mente.
Eu mal escuto o que está sendo dito. A minha mente está focada em Isabela, imaginando onde a minha filha pode estar e como ela está sendo tratada. O tempo parece se arrastar, e cada minuto que passa parece um eterno tormento.
Finalmente, chega o momento das trocas de alianças. Ele pega a aliança de casamento, um anel elegante e de aparência extravagante, tenta colocá-la no meu dedo. No entanto, a aliança esta folgada. Faço um esforço para acomodá-la, mas, ao terminar, o anel escorrega do meu dedo e caindo no chão com um som metálico.
Os poucos presentes observam, e o meu olhar se desvia para o chão, onde a aliança repousa. Ivone, se inclina rapidamente e apanha o anel. Com um gesto rápido e eficiente, ela entrega a aliança ao celebrante, que a passa para o noivo.
Mason Dasílis, quem é ele? Com um sorriso frio, coloca a aliança no meu dedo, outra vez, e o gesto formaliza a união. O sentimento de derrota e desespero toma conta de mim. Cada movimento parece ser um lembrete doloroso desta situação entregue a um homem que não conheço, com a esperança de que isso fosse a chave para a segurança de a minha filha.
A cerimônia chega ao fim, sendo conduzida para fora, agora oficialmente casada com Mason. O meu olhar cruza com o olhar de Ivone e o meu pai, que sorri letárgico, o que me parece estranho, mas o olhar dela é de pura satisfação cruel.
Eu não consigo evitar em me sentir como um peão em um jogo onde todas as regras estavam contra mim, outra vez, e desta vez, a minha filha está em jogo.
Com a cerimônia concluída, chego a um canto separado da recepção, o tal Mason cercado por homens, usando um terno preto, sai em seguida, após falar algo com o meu pai.
Sinto um nó na garganta, a minha é mente preenchida com pensamentos angustiantes sobre sua filha. Ando na direção de Ivone, arrastando-lhe pelo braço, enquanto alguns saúdam o seu marido, meu pai. - Pronto, já fiz o que queriam, onde esta a minha filha? - Peço, segurando as lágrimas para não cair.
Mas Ivone, olhando em volta, apenas sorri. - Ainda não, e se falar mais sobre isso aqui, não a verá tão cedo. - Sussurra me olhando, o sorriso em seus lábios, contam uma vitória, o anel novamente cai, ela pega e em seguida sai me dando as costas, olho para Fátima, que lamenta, me olhando.
Eu achava que estava livre! Acreditei que ter ido embora, tinha me salvado, mas três curtos e maravilhosos anos se passaram, e aqui estou eu, outra vez!
Cada momento parece um passo em direção a uma nova e dolorosa realidade. Agora estou substuindo a minha irmã, para um casamento com um homem que não conheço, com a única esperança de que, ao cumprir esse sacrifício, conseguirei salvar a minha filha e garantir que ela estivesse a salvo, após a cerimonia, entro no carro ignorando os flashs e fotos. - Filha....você é um gênio...eu te amo tanto minha princesa!
Meu pai está a todo sorrisos, e por tudo que diz, parece não saber, o meu desejo é de gritar.
Mas sei que isso seria o fim para nós, Fátima não sei como veio, e onde está ficando, sigo em silêncio, enquanto o meu pai diz sorridente que alguém o cumprimentou, Ivone comemora por isso.
Respiro fundo, olhando para fora do carro, a nossa vida era tão diferente anos antes desta mulher entrar nela. - Tudo graças a você, minha princesa! - Ele diz virando-se e pegando em minha bochecha, como fazia quando criança.
- Deixe ela! Ainda está abalada com tudo, não é querida? - Ivone intervém, arrancando a sua mão do meu rosto, afirmo com a cabeça, é verdade estou em completo choque, que tipo de mulher a minha irmã se tornou, uma sequestradora de crianças indefesas e inocentes?
- Oh, meu amor, confesso que pensei que você ia desistir, mas você bravamente se casou, Ezra!- Ele solta e rapidamente agarra o volante em festa!- Se casou e logo nós voltaremos a ser ricos, milionários. - Meu pai diz satisfeito, é o que me faz concluir, ele realmente não sabe o que estão fazendo, e se soubesse?
- Vamos deixe-a, deixe-a Walter, não está vendo que a nossa menina está preocupada com a noite de núpcias? - O que Ivone diz me causa frio na espinha, imagino qualquer possibilidade, como me deitarei com aquele homem horrível? Submersa em pensamentos chegamos a mansão Muller, o lugar que nunca desejei retornar, a casa tornou-se sombria, como um mausoléu abandonado, embora viva pessoas nela.
Sou desperta do carro, por Ivone, meu pai segue na frente. - Ezra está te esperando no seu quarto. - Sussurra quase inaudível, meus batimentos aceleram ao saber.
Segui até o quarto, onde Ezra esta, ao abrir a porta, a encontro deitada na cama, Isabela sentada no chão, corro em direção a minha filha, ainda com a farda da escola, os cabelos negros, trançados nas pontas bagunçados, o rosto sujo, a abraço fortemente, as lágrimas caem sem parar.
A atmosfera estava carregada de tensão, eu podia sentir o peso das palavras não ditas que pairavam entre elas, os olhos de Ezra em nós, como se estivesse divertindo-se com o que via.
- Oh meu amor, como você está? - perguntei, agarrada a Isabela, contra a sua vontade, ela me afasta, a minha voz tremendo de emoção, Bella não respondia, apenas brincando com um alguns lego. - O que você fez com ela? - Pergunto mais que perturbada.
Ezra olha para mim com um sorriso frio, um brilho de prazer perverso nos olhos.
- Oh, Eva - disse Ezra, com uma calma perturbadora. - Você ainda não entendeu? O casamento foi apenas uma parte do plano. A verdade é que eu tenho algo maior em mente.
Senti um frio correr pela espinha, escondendo Isabela atrás de mim.
- O que você está falando? - Eu gritei, transbordando a angústia evidente em cada palavra.
Ezra fez uma pausa, observando a minha reação com um prazer cruel.
- O casamento é apenas uma formalidade - continuou Ezra. - É uma forma de assegurar que você não tenha como escapar. Enquanto isso, estamos garantindo que sua filha esteja bem protegida.
Eu não consegui conter uma exclamação de pânico.
- Protegida? Do que você está falando? Eu só quero a minha filha de volta, Ezra!
Ezra balança a cabeça, o sorriso nunca abandonando seus lábios.
- Isabela está bem - garantiu Ezra, com um tom que tentava parecer tranquilizador, mas que me soava ameaçador. - No entanto, você precisará cumprir certas condições para mantê-la a salvo.
Eu tenho planos para garantir que tudo corra conforme o planejado.
Eu me senti atônita. A noção de que minha filha estava em perigo, mesmo que não fosse diretamente em risco, era demais para suportar. A ideia de ter que negociar com os caprichos de Ezra me deixa desesperada.
- O que mais você quer? Eu já fui ao cartório, já me casei com aquele homem horrivel, o que mais você quer para nos deixar em paz? - perguntei, a voz cheia de resignação.
Ezra me olha com uma expressão de satisfação calculada.
- Você já fez a parte mais difícil, casando-se com Mason - disse Ezra. - Agora, é apenas uma questão de cumprir com as obrigações que vierem a seguir. Garantindo que você mantenha sua parte do acordo, e sua filha será devolvida quando eu achar que a situação estiver segura para todos.
- Não! - Gritei.
Mas ela sorria, se alimentando do meu desespero, respiro fundo, tentando controlar a onda de desespero que quase me faz desabar. Cada momento parece uma tortura interminável, eu não sabia quanto mais poderia suportar.
-Saiba, Eva, qualquer desvio do plano pode ter consequências graves. Se prepare para ir para a mansão Dasílis e nada de abrir a boca, ou a sua filha já era!
- Ezra...- Eu já chorava.
Ezra virou-se e começou a se afastar, deixando-me sozinha com Isabela em pura de agonia. O peso da situação era esmagador, e o que restava era a necessidade desesperada de garantir a segurança de Isabela, mesmo que isso significasse enfrentar os monstros que controlam a minha vida agora.
Com o coração pesado e a mente tumultuada, agarro a minha filha outra vez, enquanto ela tenta se soltar. Dou-lhe um banho, e ao perguntar sobre comida ela não responde.
Isso me parecia que ela estava alimentada, mas não tanto, Fátima chegou em seguida, ficando conosco, até que Ezra entregou-me uma mala com algumas roupas e utilidades.
O casamento é apenas o começo, eu preciso encontrar uma maneira de salvar a minha filha antes que fosse tarde demais, sai da casa dos Muller em direção a residência Dasílis na tarde, deixando Isabela com Ezra, mas Fátima me prometeu cuidar dela como pudesse, as lágrimas submergirem os meus olhos, sem haver outra maneira de demonstrar a minha dor.