Desde o instante em que confirmara com o oficial que Jasper jamais fora casado, Kiera tomara sua decisão. Contudo, agora, diante da presença física dele, toda a firmeza que sustentava sua resolução parecia desintegrar-se.
O silêncio que se instalou entre eles tornou-se sufocante, espremendo o peito dela até que a dor da insegurança se tornasse quase insuportável, levando-a a questionar se suas palavras não haviam sido uma insensatez.
Atordoada, ela tentou recuar com alguma justificativa, tropeçando nas próprias palavras: "Perdão... Será que te assustei? Não deveria ter falado..."
"Me dê um motivo", ele a interrompeu, com firmeza.
Seus cílios estremeceram em perplexidade. "Como?"
O olhar dele estava fixo nela, duro e inabalável. "Diga-me por que deseja se casar comigo."
A garganta de Kiera se contraiu, mas ainda assim, ela conseguiu responder com clareza: "A verdade é que... eu preciso me casar. E acredito que você seja um homem íntegro, digno de respeito."
"Íntegro? É assim que você me enxerga?", comentou Jasper, sua voz carregada de ironia, seguida de uma risada baixa, carregada de provocação.
O rosto de Kiera se contorceu em confusão.
O que havia de inadequado nessa afirmação?
Ele havia literalmente salvado sua vida - como poderia considerá-lo menos do que isso?
Então a voz de Jasper se tornou firme. "Aceito."
Kiera ficou imóvel, completamente paralisada pela incredulidade.
"Aceito me casar com você." O olhar dele permaneceu firme, sem qualquer hesitação. "Mas e o noivo que a acompanhava mais cedo?"
Esse homem havia realmente concordado? O semblante de Kiera se iluminou por completo, e os olhos cintilaram com intensidade, como se refletissem as estrelas
"Você não precisa se preocupar com isso. Nunca formalizamos nada legalmente. Na verdade, encerrei esse relacionamento antes mesmo de vir até aqui. Você será o único homem com quem me casarei", confirmou ela.
Remexendo rapidamente dentro da bolsa, Kiera retirou um cartão bancário e, com firmeza, pressionou-o contra a palma da mão do homem. "Leve. Agora é seu. A senha é 000000. Pode usar o dinheiro como desejar."
Jasper ficou paralisado por um breve instante, completamente surpreso com a atitude repentina.
Ele ia recusar, mas o cartão já havia sido colocado em seu bolso antes que pudesse reagir.
Usando um tom tranquilo, Kiera comentou: "Você tem se esforçado além da conta. Com esse valor, poderá evitar jornadas exaustivas. Tire um tempo para si, repense sua rotina e procure algo menos desgastante."
Ao observar a própria vestimenta suja de graxa, Jasper compreendeu que ela o havia confundido com um mero mecânico comum.
A verdade era que ninguém jamais suspeitara de sua verdadeira identidade, tampouco a polícia, que não conseguira descobrir quem ele realmente era.
Ainda assim, ao perceber o brilho esperançoso que dançava no olhar de Kiera, ele apenas arqueou uma das sobrancelhas e assentiu brevemente com a cabeça. "Está certo. Agradeço pela consideração."
"Claro." Os lábios de Kiera se arquearam em um sorriso pequeno. "Preciso ir agora. Estarei no cartório amanhã, às treze horas, para oficializarmos nossa união."
Com essas palavras, ela se afastou com passos firmes e decididos, a expressão serena, o espírito elevado como se os dramas da noite anterior tivessem desaparecido por completo.
Pouco tempo depois, Walter Reed, amigo de Jasper, surgiu, vendo-a ao longe enquanto ela se afastava. "Jasper, você conhece essa mulher?"
"É a minha futura esposa", declarou Jasper com naturalidade.
Arregalando os olhos, Walter exclamou: "Espere - você está falando sério?"
"Nos casaremos amanhã", afirmou Jasper.
"Isso só pode ser brincadeira!", bradou Walter com incredulidade.
Jasper, no entanto, mantinha o tom sereno e inalterado: "A partir de agora, serei apenas mais um funcionário neste local. Caso alguém venha a questionar sobre mim, peço que não revele nenhuma informação."
Ainda atônito com a súbita decisão do amigo, Walter apenas assentiu com um movimento lento da cabeça. "C-claro, sem problemas."
Com isso, Jasper partiu em silenciosa satisfação, enquanto Walter ficou parado, incapaz de assimilar o que acabara de ouvir.
Na manhã seguinte, Kiera se encontrava diante do que, em tempos passados, representara o lar de seus sonhos - uma residência adquirida por Brad e meticulosamente decorada por ela própria. Cada eletrodoméstico, cada detalhe da casa lhe havia consumido quase todas as economias.
Postando-se ereta no batente da porta, a voz dela soou firme e determinada à equipe de mudança: "Levem tudo."
Os carregadores entraram e começaram a remover os lustres, além de levar a enorme televisão.
O olhar de Kiera recaiu sobre um retrato ampliado de si mesma ao lado de Brad, pendurado em local de destaque acima do sofá.
Sem pestanejar, ela empunhou um taco de beisebol e o ergueu com força deliberada.
O som do vidro estilhaçando ecoou com estrondo pelos cômodos, enquanto a moldura se partia ao meio.
Brad surgiu apressado da cozinha, o rosto lívido de espanto. "Pare com isso imediatamente!"
Ele empurrou os carregadores para o lado, arrancou o bastão das mãos dela com brutalidade e bradou, sua fúria parecendo estremecer as paredes: "Que diabos você pensa que está fazendo?"