O que ela encontrou dificilmente poderia ser chamado de quarto - um cubículo estreito com nada além de uma cama dobrável encostada no canto. A parede estava tomada por mofo, e o piso de concreto exibia manchas escuras e permanentes. O ar, saturado de umidade, aderiu à sua pele como um manto pegajoso, enquanto um ventilador de teto, velho e enferrujado, girava com um ruído rangente, como se desafiasse a própria gravidade a derrubá-lo.
Jasper percebeu, de imediato, a expressão de choque estampada no rosto dela, sua mandíbula se contraindo.
Walter poderia ter arrumado uma fachada para ele, mas com certeza teria como escolher algo menos deplorável do que isso. Como alguém como Kiera, criada nos padrões de conforto e sofisticação, poderia aceitar uma visão tão miserável?
Com frieza contida, Jasper declarou: "Não é aqui que costumo ficar. Vamos. Levo você a outro local."
Para Kiera, as palavras soaram como a tentativa de um homem de preservar o próprio orgulho, e uma pontada de culpa atravessou seu peito, fazendo-a achar que havia sido precipitada demais em sua reação.
Foi então que o olhar dela se suavizou, e seu tom se tornou mais gentil ao perguntar: "Por que você não arruma suas coisas e vem morar comigo?"
Ao ouvir a proposta, Jasper ficou paralisado. "Desculpe?"
Pressupondo que ele estivesse apenas constrangido demais para responder, Kiera insistiu, adotando um tom ainda mais ameno: "Nós agora somos casados, não somos? Não acha que faria sentido dividirmos o mesmo teto? E considerando que essa união foi proposta por mim, é justo que eu, ao menos, garanta que você tenha um lugar digno para dormir."
Antes que ele pudesse apresentar qualquer objeção, ela prosseguiu, decidida: "Meu apartamento tem dois quartos. Você pode ocupar o quarto extra. Teremos nossos próprios espaços. Não será diferente de morar sozinho."
Jasper analisou o rosto dela, incomodado com a confiança escancarada que reluzia em seus olhos.
Por que ela oferecia tamanha abertura com tanta facilidade?
Será que não lhe causava inquietação permitir que um homem que mal conhecia dividisse sua casa?
A verdade era que Kiera não era alguém que concedia sua confiança com facilidade. Contudo, havia algo em Jasper - talvez o simples fato de ele ter sido seu salvador - que lhe transmitia uma serenidade discreta.
"E então? Você aceita?", indagou ela, a voz carregada de expectativa.
Jasper sentiu o peito se contrair, mas contra toda lógica, ouviu a si mesmo murmurar: "Está bem."
O rosto de Kiera se iluminou com uma alegria espontânea, e ela o encorajou, animadamente, a recolher os pertences que julgasse necessários.
A realidade, no entanto, era que Jasper só havia adentrado nesse cômodo decadente poucos minutos antes da chegada dela. Não fazia ideia do que Walter havia deixado ali para sustentar a encenação, mas seguiu com a farsa, recolhendo aleatoriamente os objetos disponíveis.
Primeiro, encontrou uma escova de dentes tão desgastada que mais arranhava do que limpava. Em seguida, retirou de um canto um par de jeans praticamente em farrapos. Por fim, localizou um par de meias grosseiramente remendadas, com fios soltos à beira de se desfazerem.
A mandíbula de Jasper se tensionou discretamente, mas ainda assim, acomodou tudo dentro de uma bolsa com movimentos precisos, como se cada peça fosse de uso habitual.
Incapaz de conter o desconforto, Kiera comentou: "Deixe isso tudo aí. Posso comprar novas para você."
Sem emitir qualquer protesto, Jasper abandonou os itens - não que tivesse a intenção de utilizá-los de fato.
Às nove da noite, eles saíram do shopping cheios de sacolas e seguiram para a casa dela.
Assim que Kiera encaixou a chave na fechadura da porta, Jasper deteve-se na entrada - o pequeno apartamento estava abarrotado de móveis, quase não sobrando espaço para se movimentar.
Com um sorriso constrangido, Kiera comentou: "Fique tranquilo. Arrumarei tudo isso amanhã."
Todos os móveis ali vinham da residência que ela deveria compartilhar com Brad e, sem ter outro local para armazená-los, ela acabou abarrotando o apartamento até o limite.
"O que acha de apenas descansarmos por enquanto?", sugeriu ela, de forma apressada.
Os olhos de Jasper vasculharam o ambiente desordenado antes que ele indagasse, em tom comedido: "E onde vou dormir?"
Os olhos de Kiera se arregalaram em genuíno espanto, pois ela tinha plena convicção de que lhe havia dado instruções claras para ocupar o quarto de hóspedes. Contudo, ao abrir a porta, o horror a dominou - o ambiente estava abarrotado de móveis até o teto, impossibilitando qualquer entrada.
Ela havia se esquecido por completo disso!
Com lentidão, Jasper observou: "A sala também está lotada. Ao que tudo indica, resta-nos apenas uma alternativa viável."
Kiera perdeu o ar quando seu olhar se voltou para o próprio quarto.
Queria dizer que... teriam que compartilhar a mesma cama?