Capítulo 6 Asseguro que não a deixarei insatisfeita

Kiera sempre fora exigente em relação ao local onde repousava, porque qualquer colchão de má qualidade lhe causava dores no corpo, e ela jamais admitira a ideia de se deitar diretamente no chão.

Mas, como poderia permitir que o homem que havia lhe salvado a vida fosse reduzido a tal condição em seu lugar?

"Você deveria ficar com a cama. Eu posso me ajeitar no chão", sugeriu ela, embora em seu olhar houvesse um vestígio de expectativa oculta.

Arqueando ligeiramente uma sobrancelha, Jasper comentou: "Que espécie de cavalheiro consentiria em ver uma mulher dormir no chão?"

O coração de Kiera se apertou em um sopro de esperança. Ansiosa, aguardou que ele concluísse o raciocínio.

E, de fato, ele acrescentou: "Nesse caso, a única solução razoável é que compartilhemos a cama."

Kiera ficou estática, atônita com a declaração inesperada, já que isso era precisamente o que menos desejava ouvir dele.

Um lampejo de divertimento brilhou nos olhos de Jasper, embora sua expressão permanecesse inalterada. "Irei tomar um banho primeiro e depois retornarei para você."

Essas palavras ecoaram na mente dela, fazendo o calor subir-lhe às faces. Quando encontrou forças para formular qualquer resposta, Jasper já havia desaparecido pelo corredor a caminho do banheiro.

Como a situação podia ter se transformado tão radicalmente em tão pouco tempo?

Resignada, Kiera apanhou suas roupas de dormir e se refugiu no banheiro da suíte, onde permaneceu quase uma hora fingindo estar ocupada.

Mais tarde, ela finalmente saiu e encontrou Jasper já instalado, ocupando o lado externo da cama.

Ele estava recostado na cabeceira, trajando a roupa de descanso cinza que ela havia escolhido para ele, com as pernas estendidas de forma despreocupada sobre os lençóis, a atenção inteiramente voltada para o brilho do celular.

Kiera lançou um olhar hesitante para a metade vazia da cama, como se fosse um território interdito, incapaz de se mover e chegar mais perto.

Jasper desligou o aparelho e ergueu a cabeça, fitando-a diretamente. "Me acha tão repulsivo assim?"

A pergunta a atingiu como uma lâmina. "Não! De modo algum."

Temendo ter ferido o orgulho do homem, Kiera se obrigou a ocupar o espaço ao seu lado - para, em seguida, arrepender-se quase de imediato dessa decisão, seus músculos se retesando e comprimindo-a como se estivesse aprisionada dentro da própria pele.

Memórias dolorosas do passado a faziam sentir-se desconfortável diante da presença masculina, e com Brad ela nunca havia permitido mais do que um abraço contido. Ainda assim, agora se encontrava deitada ao lado de um homem que conhecera apenas no dia anterior.

De repente, Jasper se aproximou, com a voz rouca e grave, dizendo enquanto sua respiração roçava audaciosamente contra o ouvido dela: "Curioso, não acha? Esta é a nossa noite de núpcias, e a estamos desperdiçando assim."

Kiera se arrepiou, sentindo seu coração disparar e golpear suas costelas como se quisesse escapar de seu corpo.

Conversas desse gênero podiam conduzir a imprudências, por isso seus pensamentos soaram em alerta, gritando advertências enquanto ela recuava, os olhos escancarados em sinal de receio. "D-deseperdiçando? Nós nem nos conhecemos direito. Você não é algum tipo de oportunista, é?"

Um leve traço de riso delineou os lábios de Jasper. "Você é minha esposa perante a lei. Então como isso faria de mim um aproveitador? O que implica que... a próxima etapa é evidente."

Cada sílaba arrastada escorreu em tom sugestivo contra o ouvido dela, e o pânico incendiou-lhe o peito.

Instintivamente, ela puxou a gola da roupa como se quisesse erguer uma barreira, seus olhos aflitos se movendo rápido, como os de um animal encurralado. "Eu... eu não posso. Não estou preparada."

Uma centelha de divertimento atravessou a expressão de Jasper, que percebeu que Kiera possuía alguma bravura, mas não o suficiente para igualar sua firmeza.

Por fim, ele se afastou, lhe devolvendo o espaço que tanto necessitava, e explicou calmamente: "O que eu estava dizendo é que, como nosso casamento não se baseia no amor, precisamos estabelecer um acordo, para que não haja complicações no futuro quando chegarmos ao fim."

Era isso?

Uma onda de alívio percorreu Kiera, suavizando sua respiração e dissipando parte da tensão que a dominava, pois jamais havia cogitado tal possibilidade até esse instante.

Abraçando um travesseiro contra o peito, ela inspirou profundamente antes de murmurar: "Que tipo de condições você está propondo?"

Jasper respondeu sem hesitação: "Este casamento existe apenas no papel, portanto não estou exigindo muito. Mas a primeira condição é inegociável - você deve manter-se distante do seu ex. Não aceitarei uma esposa que me traia."

"De jeito nenhum. Terminei de vez com meu ex", afirmou Kiera.

Jasper fez um breve aceno de cabeça antes de acrescentar: "E outra coisa - jamais forçarei nada de você. Porém, se algum dia chegar o momento em que deseje algo físico... asseguro que não a deixarei insatisfeita."

As faces de Kiera arderam em um rubor intenso.

Qual era o problema dele?

Por que precisava ser tão direto e despudorado?

"Existe mais alguma condição?", ela questionou.

"Sim. A última é a mais relevante." O semblante de Jasper enrijeceu, seus olhos se tornaram sérios. "Por quanto tempo devemos manter este casamento?"

De acordo com o plano de Kiera, assim que conseguisse garantir as ações prometidas, escolheria o momento apropriado para encerrar essa união.

No entanto, seu tio já tinha rompido a promessa.

Em tom brando, ela admitiu: "Não sei ao certo o momento exato. Mas não será indefinido. Diga-me... existe algo urgente aguardando sua atenção?"

Jasper possuía responsabilidades pendentes, mas paciência não lhe faltava.

"Vou agir o mais rápido possível da minha parte. Não vou te fazer esperar por mim", afirmou Kiera, quase como um juramento.

O desespero contido em seus olhos revelava a importância vital que esse matrimônio tinha para ela.

Sem necessidade de palavras explícitas, Jasper se sentiu impelido a dividir parte desse peso que recaía sobre os ombros dela.

"Não precisa ter pressa. Utilize o tempo que considerar necessário", respondeu ele em voz calma.

Tendo essa garantia, o semblante de Kiera se iluminou com um alívio imediato. "Eu realmente sou grata por isso!"

O sorriso dela, especialmente o brilho radiante em seus olhos, surpreendeu Jasper.

Ele manteve o olhar por um instante além do necessário antes de se afastar e deixar a cama. Por fim, ele puxou um cobertor e o estendeu cuidadosamente sobre o chão.

Atenciosa como sempre, Kiera lhe entregou um travesseiro.

Ao perceber o fulgor sincero que acompanhava o sorriso dela, Jasper soltou uma breve risada resignada.

As luzes se apagaram e o silêncio se instalou suavemente entre ambos.

Kiera imaginava que a presença de Jasper tão próxima a deixaria inquieta, porém, o sono a venceu com uma facilidade inesperada.

No dia seguinte.

Ao abrir os olhos, Kiera viu que o espaço onde Jasper havia repousado já estava vazio - ele certamente saíra cedo para cumprir suas obrigações de trabalho.

Em vez de se preocupar com ele, ela ligou mais uma vez para a equipe de mudança, instruindo-os a levar os móveis para um bazar de revenda. Embora duvidasse que os compradores daquele local possuíssem condições de pagar por peças de tão alto valor, não havia outra alternativa viável diante de si.

Quando os carregadores concluíram o serviço, metade do mercado parecia submersa sob a montanha de pertences de Kiera, e não tardou para que um curioso se aproximasse.

"Moça, quanto está pedindo por este sofá? Não parece em tão mau estado."

"Cento e cinquenta mil", respondeu Kiera sem titubear.

O homem arregalou os olhos, escandalizado, como se ela tivesse proferido um disparate. "Está falando sério? Isso é um verdadeiro assalto."

Ele então murmurou algo para o amigo e se retirou.

A boca de Kiera se entreabriu.

Assalto? Ela havia desembolsado quatrocentos mil quando o comprara novo. Solicitar cento e cinquenta mil era praticamente uma oferta generosa.

O restante da manhã transcorreu no mesmo padrão desanimador - risadas irônicas, comentários ofensivos e nenhuma venda concluída.

Ao soar do meio-dia, ela cedeu ao cansaço com um suspiro derrotado. Talvez fosse necessário chamar os transportadores novamente e devolver tudo para o apartamento.

Foi então que uma voz grave e inconfundível rompeu o ambiente.

"Kiera Gordon. Você se tornou notavelmente difícil de localizar."

Brad surgiu diante dela, a expressão carregada de sombras, enquanto Maddie o acompanhava com um sorriso triunfante nos lábios.

Com fingida surpresa, Maddie lançou um olhar calculado sobre a montanha de móveis, sua voz impregnada de doçura artificial, embora cada palavra carregasse veneno. "Brad me contou que você havia esvaziado a casa dele, e eu pensei que ele estivesse exagerando. Mas ao que parece, ele tinha razão. Kiera, não foi uma atitude precipitada da sua parte? Afinal, lá, deveria ser sua futura residência."

Com um simples encolher de ombros, Kiera replicou com indiferença: "Por que eu me apegaria ao passado? Agora estou casada. Os pertences do meu ex não passam de um incômodo para mim."

O rosto de Brad se contraiu em uma expressão ainda mais carregada de fúria. "Você de fato fingiu estar com algum sujeito qualquer apenas para se vingar de mim? Isso é patético!"

Kiera o encarou com surpresa genuína. "Parece que Maddie não lhe contou toda a verdade - eu realmente me casei."