O Grupo Gordon havia sido, em tempos passados, a realização pessoal de Julia, mãe de Kiera, erguido a partir do nada.
Previamente, Julia redigira um contrato formal estabelecendo que, no dia em que sua filha se casasse, herdaria vinte por cento da companhia como presente de casamento.
Porém, a tragédia se abateu quando Kiera tinha apenas oito anos. O colapso mental de Julia resultou em sua internação em uma clínica psiquiátrica, deixando o irmão mais novo, Vance, como tutor legal de Kiera. Desde então, ele assumira o controle de tudo - do patrimônio de Julia à gestão do Grupo Gordon e até mesmo desta residência - apropriando-se de todos os bens em seu próprio nome.
Ainda assim, Vance sempre declarara que honraria a palavra da irmã no momento em que Kiera se casasse.
Agora, diante da exigência dela, a atmosfera na sala se tornou densa, carregada de tensão.
Maddie entortou os lábios em um sorriso enviesado. "Ninguém aqui conhece esse suposto marido. Que garantia temos de que esse documento não passa de uma falsificação qualquer baixada da internet?"
Kiera soltou uma risada carregada de sarcasmo. "Você imagina que todos sejam tão miseráveis quanto você? Assim como quando fracassou em metade de seus exames universitários e falsificou um histórico acadêmico para enganar seus pais? Não se preocupe, jamais me rebaixaria ao seu nível."
Ouvindo isso, o rosto de Maddie ruborizou de humilhação, seu segredo exposto diante de todos.
Antes que pudesse articular qualquer resposta, Kiera estendeu o certificado a Vance. "Se minha palavra não lhe basta para acreditar, então vá verificar pessoalmente."
Vance girou lentamente o documento entre os dedos, seu maxilar rígido como pedra. "Naturalmente, eu gostaria de acreditar em você, mas..."
Os olhos de Kiera se estreitaram, duros como lâminas. "Mas o quê?"
Nesse instante, Ivy Gordon, esposa de Vance, se adiantou, tomando a mão de Kiera com gesto apressado. "Você esteve afastada desta casa por tantos anos, Kiera, e jamais administrou uma empresa. Se transferirmos vinte por cento das ações de imediato, haverá resistência. A companhia já se encontra em terreno frágil, e os investidores vigiam cada passo com atenção. Se essa notícia vier a público..."
Uma risada cortante e carregada de ironia escapou dos lábios de Kiera enquanto ela libertava a mão do aperto. "Então é assim que preferem distorcer a verdade. Quebram promessas e chamam isso de prudência."
A voz de Ivy se suavizou, assumindo um tom açucarado, ensaiado com precisão calculada. "É claro que não. Trata-se apenas de compreender a pressão que todos nós estamos lidando..."
"E me diga, por que eu deveria me importar com as suas pressões?" Sua mão escapou por completo, e seu tom se tornou gélido, impiedoso. "Por acaso todos vocês se esqueceram de quantas vezes minha mãe se esforçou ao máximo para ajudá-los antes? E no momento em que ela adoeceu, vocês a destituíram da empresa e se apoderaram desta casa também. Permaneci em silêncio porque eram vocês que mantinham minha mãe viva com os pagamentos ao hospital."
O olhar de Kiera se fez ainda mais cortante quando acrescentou: "Agora acreditam que podem me despojar daquilo que me cabe por direito. Se essa é mesmo a sua intenção, talvez seja melhor que o público conheça toda a verdade. Deixemos que a sociedade decida quem está certo."
Suas palavras ecoaram pela sala como um açoite, deixando todos em silêncio, enquanto os sorrisos de Vance e Ivy se tornavam tensos e congelados, e a confiança que ostentavam começava a ruir.
Era de conhecimento geral no Grupo Gordon que uma nova rodada de captação de recursos estava prestes a ser lançada. Portanto, um escândalo neste momento seria devastador - um veneno capaz de afugentar investidores em massa.
Forçando um sorriso amarelo, Vance tentou se recompor. "Você interpretou tudo de forma equivocada, Kiera. Não era isso que eu pretendia dizer. Veja bem, minha filha Rachel dedicou anos de trabalho à empresa e possui apenas cinco por cento. Maddie, por sua vez, não tem absolutamente nada. E você espera receber vinte por cento de uma só vez? As pessoas jamais aceitarão tamanha desproporção."
Kiera ergueu o celular, pronta para discar o número de um jornalista a qualquer instante.
A veia latejante na têmpora de Vance denunciava sua tensão, mas ele forçou as palavras, pesadas como chumbo: "Que tal o seguinte? Entre para a empresa. Demonstre a todos do que é capaz. Se conseguir provar seu valor, transferirei as ações. Assim, ninguém terá motivo para contestar."
Kiera percebeu a manobra do tio para ganhar tempo, mas insistir demais nesse momento poderia comprometer todo o avanço que havia conquistado, então conter-se e aguardar poderia ser sua melhor estratégia para alcançar a vitória.
"Está bem", declarou ela.
Um suspiro prolongado escapou dos lábios de Vance, revelando o alívio que sentia. "Está decidido. Se apresente no escritório na próxima segunda-feira."
Depois de uma pausa, acrescentou: "Quanto ao jantar, não iremos retê-la, pois o chef não está disponível hoje."
Sem interesse em prolongar conversas triviais, Kiera simplesmente se virou e deixou a casa.
Assim que a porta se fechou atrás da prima, a expressão de Maddie se contorceu em desagrado. "Papai, por que permitiu que ela entrasse na empresa? Eu deveria estar lá, não ela!"
Batendo de leve na testa da filha, Ivy replicou: "Sua prima não faz a menor ideia do que está fazendo. Permitir que ela se envolva servirá apenas para desperdiçar o tempo dela. O que realmente importa é que você aproveite essa oportunidade para manter Brad interessado em você."
Cinco anos atrás, desde o dia em que Kiera partira para o exterior, Ivy e Vance haviam voltado suas atenções para Brad. Contar com o apoio da família mais influente de Brieledo o tornava o alvo perfeito, pois conquistá-lo significaria elevar o Grupo Gordon a um novo patamar de poder e prestígio.
Seguindo as orientações dos pais, Maddie passou a reproduzir o estilo de Kiera, copiando cada detalhe - do guarda-roupa aos modos de se portar.
O estratagema deu resultado - ela por fim conseguiu chamar a atenção de Brad.
Ao pensar nele, o rosto da jovem ruborizou e ela subiu as escadas empolgada, mal podendo esperar para ligar para Brad e revelar a novidade de que Kiera já estava casada - prova de que sua prima era imprudente e descarada até a raiz dos cabelos.
Enquanto isso, o sorriso de Ivy vacilou, a apreensão se infiltrando em sua expressão. "E se, por acaso, Kiera realmente demonstrar competência na empresa?"
Vance respondeu com uma risada carregada de escárnio: "Você parece esquecer quão debilitada ela esteve. Está fora de sua esfera. O que poderia alcançar? Garantirei que obstáculos suficientes surjam em seu caminho, de modo que ela cometa um erro antes mesmo do final da semana. E assim que isso ocorrer, nenhum membro do conselho apoiará a entrega de vinte por cento das ações."
Vinte por cento, em circunstâncias normais, assegurariam um assento no conselho e voz ativa em todas as decisões estratégicas. Mas quem, em sã consciência, confiaria tal posição a alguém como ela?
Ivy se aproximoue e repousou a mão contra o peito do marido, um sorriso malicioso se formando em seus lábios. "Uma raposa astuta, não é mesmo?"
Vance segurou a mão dela, e seus olhares se entrelaçaram antes que ambos se desfizessem em sorrisos calculados e triunfantes.