- Bem-vinda, Ana - disse a recepcionista com um sorriso profissional, entregando-lhe um crachá de segurança e apontando para o elevador. - O diretor Carlos Rodríguez a espera na sala de conferências, no 15º andar.
Ana assentiu, pegou o crachá e caminhou em direção ao elevador, sem conseguir evitar que seus pensamentos voltassem ao encontro com Lucas. A imagem dele ainda estava fresca em sua mente, como se o tempo não tivesse passado. E embora soubesse que deveria se concentrar em seu trabalho, aquela sombra do passado se infiltrava em cada canto de seus pensamentos. O que teria sido dele? Como ele tinha chegado tão longe? E, acima de tudo, como seria ele agora, depois de tanto tempo, comparado à imagem que ela tinha dele antes de partir?
O elevador subiu rapidamente, e a pressão em seu peito aumentou conforme se aproximava do andar onde aconteceria seu primeiro encontro com o diretor, o homem que agora era a figura mais poderosa da empresa. Enquanto o número dos andares descia no painel, Ana se perguntou por que havia deixado Lucas em primeiro lugar. Lucas havia sido sua vida, seu apoio, sua força... mas, na época, tudo isso parecia insignificante quando ela se deparou com o abismo do futuro que acreditava ser o melhor para ela.
O som do elevador parando no 15º andar a tirou de seus pensamentos. As portas se abriram, e a recepcionista do andar a cumprimentou com um sorriso que não chegava aos olhos. Ana pôde sentir a tensão no ar. Algo se movia nesse ambiente de sucesso profissional, algo que não seria simples.
Carlos Rodríguez, o diretor com quem ela se reuniria, a recebeu em uma elegante sala de conferências. Era um homem alto, de cabelo escuro com algumas mechas grisalhas e um olhar calculador, com uma aura de autoridade que já começava a ser sentida em sua presença. Ana estendeu a mão, mas sua mente estava distante.
- Ana, é um prazer tê-la aqui - disse Carlos, fazendo um gesto para uma cadeira à sua frente. - Ouvi muito sobre seu trabalho. Seu perfil se encaixa perfeitamente com o que precisamos nesta fase da empresa.
Ana assentiu com um sorriso, tentando parecer relaxada enquanto se sentava. A conversa começou com formalidades. O diretor lhe falou sobre os projetos que tinha em andamento e as expectativas da empresa. Tudo parecia correto, mas Ana não conseguia deixar de pensar no que realmente a havia trazido até ali. O que tinha mudado na empresa durante todos esses anos? Como Lucas se envolvera tanto nesse mundo de poder e dinheiro?
De repente, Carlos mudou o tom da conversa, como se tivesse percebido a tensão em Ana.
- Antes de continuar, devo dizer que estou muito satisfeito que tenha decidido voltar a esta cidade. Na minha opinião, talentos como o seu sempre foram necessários aqui. E sei que seu trabalho fará uma grande diferença - disse Carlos, virando a conversa.
Ana franziu a testa ligeiramente. Algo naquela afirmação lhe pareceu excessivo, elogioso demais para ser apenas sobre seu trabalho. A luz da sala refletia uma clareza que fazia tudo parecer mais limpo, mais polido, mas a sensação de desconforto em seu estômago ainda estava ali. Havia algo mais por trás dessas palavras?
- Obrigada - respondeu Ana com um tom controlado. - Estou aqui para contribuir para o sucesso da empresa.
Carlos não parecia satisfeito com essa resposta tão diplomática. Em vez de continuar a falar sobre os projetos, ele decidiu mudar a direção da conversa, como se já não estivesse interessado nos detalhes do trabalho de Ana.
- Mas isso não é tudo, Ana - disse Carlos, deixando um silêncio no ar. - Sabemos que seu retorno não é apenas profissional. Há algo mais aqui, não é? Algo relacionado ao nosso CEO... Lucas Ortega.
O nome de Lucas caiu na sala como uma bomba. Ana sentiu uma pontada no coração. Ela tentara não pensar nele, mas ouvir seu nome naquele contexto foi como abrir uma ferida que nunca havia cicatrizado por completo.
- Não entendo a que se refere - respondeu Ana, forçando um sorriso. - Meu retorno é exclusivamente para ajudar a empresa a alcançar seus objetivos.
Carlos observou seus olhos com intensidade, como se estivesse lendo cada palavra que ela dizia.
- Eu sei, eu sei - respondeu ele, levantando as mãos com um sorriso irônico. - Mas todo mundo aqui conhece a sua história. A história entre você e Lucas. Não me entenda mal, Ana. O que aconteceu entre vocês foi algo pessoal, e todos respeitamos isso. Mas também sabemos que as coisas mudaram. E é isso... isso que quero que entenda. O homem com quem você vai trabalhar agora não é o mesmo de antes.
Ana não pôde evitar se sentir desconfortável. Sabia que não fazia sentido negar o óbvio. Seu passado com Lucas era conhecido por todos, e embora tivesse se passado muito tempo, a sombra daquela relação ainda estava presente.
- Lucas não me afeta - disse Ana com mais firmeza do que sentia. - O que aconteceu entre nós é história. O que importa agora é o que posso contribuir para a empresa.
Carlos assentiu lentamente, mas havia algo em seu olhar que dizia a Ana que ele não acreditava totalmente em suas palavras. De repente, a conversa tomou um rumo inesperado.
- Olha, Ana, não quero deixá-la desconfortável. Mas quero que saiba de uma coisa - disse Carlos, inclinando-se para frente, como se fosse compartilhar um segredo. - Lucas mudou. O homem que você conheceu no passado, o homem que antes era tão... acessível, não existe mais. Ele deixou tudo para trás. E isso é o que você precisa entender. O que você deixou para trás não é o que encontrará quando voltar a enfrentá-lo.
Ana engoliu em seco. As palavras de Carlos ecoavam em sua cabeça. Como ele sabia tanto sobre o relacionamento dela com Lucas? De que forma a vida de Lucas tinha mudado tanto que ela não o reconheceria mais quando o visse? Não sabia se estava preparada para essa confrontação.
- Obrigada pelo aviso - respondeu Ana com um leve sorriso, não querendo aprofundar mais no assunto.
Carlos não insistiu, mas a conversa havia deixado uma marca profunda nela. O retorno a esta cidade não significava apenas trabalho, não significava apenas uma nova oportunidade. Significava enfrentar as decisões de seu passado, aquelas que ela tentara apagar, mas que agora a seguiam de uma forma que ela nunca imaginou.
Quando a reunião terminou, Ana se levantou, agradecendo a Carlos pelo tempo, embora não pudesse deixar de pensar em suas palavras. "O homem que você conheceu no passado não existe mais". Era algo que ela não podia compreender completamente, mas sabia que teria que descobrir por si mesma.
A porta se fechou suavemente atrás dela, e Ana se viu de novo diante da realidade: sua vida profissional e sua história pessoal se cruzavam naquele exato momento. E esse cruzamento, agora mais do que nunca, parecia inevitável.
O passado de Lucas e o dela se encontrariam novamente. E, embora tentasse evitar, ela não poderia mais fugir disso.