O som de seus saltos ecoava no mármore do lobby, como um sinal de que este novo capítulo já havia começado, mas ela ainda se sentia como uma visitante em um território estranho.
Ana respirou fundo ao chegar no saguão do prédio. As paredes de vidro refletiam a luz do sol, criando um brilho quase ofuscante, enquanto os detalhes da arquitetura, sóbrios e elegantes, a recepcionavam em um mundo que parecia perfeito demais. A recepcionista, com um penteado impecável e um traje de cortesia, a cumprimentou com um sorriso profissional.
- Bom dia, senhora Rodríguez - disse a recepcionista com um sorriso controlado. - Como posso ajudá-la?
Ana se apresentou, embora já soubesse que sua chegada era aguardada. Após verificar sua identidade, a recepcionista lhe indicou como chegar ao seu posto de trabalho. O escritório de Ana ficava em um andar superior, onde as equipes de trabalho se organizavam de acordo com as áreas de operações, estratégia e desenvolvimento. Ela se despediu educadamente e subiu para o elevador, sentindo um leve arrepio percorrer sua espinha. Apesar de tudo, Ana não conseguia evitar a sensação de estar sendo observada, como se a própria cidade estivesse de olho nela, esperando que ela provasse que tomara a decisão certa ao voltar.
O elevador subiu rapidamente, e Ana se sentiu como se estivesse ascendo para um mundo de poder, um mundo que mudara tanto nos últimos anos. Sua mente voltou para a ideia que a acompanhara desde que aceitou aquele trabalho: o que ela encontraria ali? Quem Lucas seria nesse novo ambiente? Seria a mesma pessoa que ela deixara para trás, ou ele teria se transformado em algo irreconhecível?
O elevador parou no 25º andar. As portas se abriram com um suave sussurro, e Ana saiu em direção à área de trabalho. O design dos escritórios era minimalista, com grandes janelas que permitiam que a luz natural invadisse o espaço. Tudo estava organizado com uma precisão quase militar, desde as mesas de trabalho até as modernas cadeiras ergonômicas. O ar estava impregnado de um leve aroma de madeira polida e café recém-feito, enquanto as conversas sussurradas entre os funcionários se misturavam com o som das teclas dos teclados.
Ana caminhou até sua mesa, notando os olhares curiosos de alguns colegas de trabalho. Sabia que sua chegada não passaria despercebida. Todos na empresa sabiam que a contratação de alguém de fora significava uma mudança. E seu nome, em particular, certamente gerava ainda mais interesse. Alguns a observavam disfarçadamente, outros disfarçavam um leve murmúrio ao vê-la passar. O ambiente estava impregnado de uma energia que Ana não pôde deixar de perceber. As expectativas, os medos, as dúvidas... tudo isso flutuava no ar, e ela não era alheia a isso.
A mesa que lhe foi designada era grande, elegante, com uma cadeira de encosto alto e um computador que já estava ligado, esperando para ser usado. Ana deixou sua bolsa sobre a mesa, observando os documentos que estavam sobre ela. Eram relatórios de projetos anteriores, esquemas da empresa e uma série de e-mails que a aguardavam. Sabia que precisava começar a trabalhar imediatamente, mas sua mente ainda estava presa no mesmo lugar: Lucas. Como ele seria agora? Como teria sido a vida dele durante todos esses anos? Como ele se comportaria ao vê-la novamente?
Uma chamada interrompeu seus pensamentos. O telefone da sala tocou com um tom firme, e Ana o atendeu, sentindo que não conseguia escapar do peso de seu retorno. A voz do outro lado era a de Carlos Rodríguez, o diretor com quem ela havia se reunido pela primeira vez.
- Olá, Ana - disse Carlos com tom amigável, mas com um toque de formalidade. - Como você está? Espero que seu primeiro dia esteja indo bem.
- Sim, tudo está perfeito. Estou começando a me adaptar ao ambiente - respondeu Ana, tentando soar o mais relaxada possível. Embora, por dentro, sentisse a tensão tomando conta de cada palavra que dizia.
- Fico feliz em ouvir isso. Só queria avisar que Lucas tem uma reunião às 12h. Como faz parte da sua área, será importante que você participe. Estarei na sala de reuniões para coordenar alguns pontos. Pode ser?
Ana ficou em silêncio por um momento, o nome de Lucas ressoando em sua cabeça com força. Lucas Ortega, o dono da empresa, o homem com quem ela compartilhara seus melhores e piores momentos. Naquele instante, todas as dúvidas sobre se ela estava preparada ou não para enfrentar a situação começaram a invadi-la. Estava pronta para vê-lo novamente?
- Claro, estarei lá - respondeu finalmente Ana, forçando um sorriso que ninguém poderia ver, mas que ela sentia na voz. Desligou o telefone e ficou alguns segundos olhando para a mesa, como se estivesse esperando que o telefone tocasse novamente e lhe desse alguma desculpa para não ir à reunião.
Mas não tocou. Em vez disso, Ana respirou fundo, ajeitou-se na cadeira e começou a revisar os relatórios à sua frente. Cada linha, cada número, lhe dava uma sensação de controle. Sabia que precisava se concentrar no que viera fazer. Se havia algo que aprendera durante seu tempo fora, era que trabalho árduo, disciplina e perseverança sempre geravam resultados. E embora o passado a perseguisse, seu futuro estava em suas mãos. Ela precisava ser forte, manter o foco, porque não havia mais volta.
Quando chegou a hora, Ana se levantou da mesa e começou a caminhar em direção à sala de reuniões. Seus passos ecoavam de maneira firme e decidida, mas por dentro ela sentia o corpo se tensionar a cada centímetro que se aproximava. Sabia que, em poucos momentos, estaria frente a Lucas novamente, e nada em sua vida, nem o sucesso, nem o dinheiro, poderia prepará-la para esse momento. Não havia como antecipar como seria vê-lo novamente, depois de tudo o que viveram juntos.
Finalmente, chegou à porta da sala de reuniões. Respirou fundo antes de entrar, e com a mão trêmula, tocou levemente o pomo da porta. Quando a abriu, a sala de reuniões se apresentou diante dela, com grandes janelas e uma mesa de conferências de madeira polida. Lucas Ortega estava sentado na cabeceira, rodeado por vários membros de sua equipe. Todos se calaram quando Ana entrou, e foi então que seus olhares se encontraram.
O tempo pareceu parar por um instante. Embora parecesse mais maduro, mais seguro, com a mesma presença imponente de sempre, Lucas não mudou. E embora parecesse como se ele nunca tivesse saído, Ana sabia que nada seria igual entre eles.