Senhor King
img img Senhor King img Capítulo 4 Eu tenho que trabalhar agora.
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Capítulo 6 Quem é esse tal de Senhor King img
Capítulo 7 Grosseiro. Idiota. Metido! img
Capítulo 8 Eu não vou continuar assim. img
Capítulo 9 Como foi a entrevista img
Capítulo 10 Não lembro a última vez que alguém me olhou assim. img
Capítulo 11 Não deixe que ninguém te faça pensar diferente disso. img
Capítulo 12 Eu sou a próxima img
Capítulo 13 Trouxe café img
Capítulo 14 Só pense a respeito img
Capítulo 15 Ponto de vista do Sr. King img
Capítulo 16 Ponto de vista do Sr. King (parte 2) img
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Capítulo 4 Eu tenho que trabalhar agora.

O som do despertador ecoa pelo quarto, mas eu já estou acordada.

Desde as seis da manhã, rolo na cama tentando - sem sucesso - afastar a ansiedade.

Quando finalmente o relógio marca sete e meia, suspiro fundo, como se estivesse me dando uma ordem:

Vamos lá, Claire. Levanta.

Me arrasto para fora da cama, sentindo o piso frio sob os pés descalços.

A casa está silenciosa. Só o zumbido leve da geladeira preenche o ambiente.

Vou até o banheiro e encaro meu reflexo no espelho.

Que desastre...

As olheiras estão mais fundas que o normal e meu rosto parece abatido.

Nada que um pouco de maquiagem não resolva, penso, tentando me animar.

Abro a torneira e jogo água fria no rosto. O choque gela minha pele e me desperta de vez.

Depois de uma ducha rápida, sigo para a cozinha.

Não posso arriscar café hoje - meu estômago tem sido um inimigo fiel nos últimos tempos.

O jeito é me contentar com chá.

Esquento uma fatia de pão integral e passo uma camada fina de cream cheese.

Nada muito apetitoso, mas seguro o suficiente para não me causar problemas mais tarde.

Enquanto mastigo, minha mente não para.

E se não der certo?

E se nem me chamarem para entrevista?

E se for só mais uma decepção?

Tento afastar os pensamentos e me concentro na xícara de chá morno entre as mãos. Respirar fundo ajuda, mas não elimina aquele aperto estranho no peito.

Quando termino, lavo a louça e deixo no escorredor.

- Quando voltar, eu guardo tudo - murmuro, secando as mãos.

De volta ao quarto, começo a me arrumar.

Visto a blusa preta de botões, ajeito a gola.

Pego a calça jeans escura, prendo o cinto de couro e calço minhas ankle boots pretas de salto médio - elegantes o suficiente, mas ainda confortáveis.

Paro diante do espelho e avalio o resultado.

Passo uma base leve para disfarçar as olheiras, um toque sutil de blush para não parecer tão pálida e finalizo com batom nude.

Solto os cabelos castanhos, deixando as ondas naturais caírem sobre os ombros.

Por um instante, me comparo à Amber - sempre tão segura de si, sempre tão... brilhante.

Eu não me sinto assim há muito tempo.

Mas hoje... preciso acreditar que a minha versão também é suficiente.

Endireito a postura, forço um sorriso e murmuro para o espelho:

- Você está ótima, Claire. Vai dar tudo certo!

Com a bolsa nos ombros e o currículo em mãos, chamo um Uber.

Quando o motorista chega, me acomodo no banco traseiro e solto um longo suspiro.

Enquanto o carro avança pelas ruas, tento me distrair com a paisagem.

O sol brilha forte, refletindo nas janelas espelhadas dos arranha-céus.

As calçadas estão cheias de gente apressada, equilibrando copos de café e pastas de trabalho.

Táxis amarelos cortam as avenidas caóticas, ciclistas desviam habilidosamente entre os carros.

Painéis luminosos piscam propagandas coloridas e, mesmo com as janelas fechadas, o burburinho da cidade chega até mim.

Por algum motivo, toda aquela agitação me acalma. Parece que a correria lá fora combina com o meu coração ansioso.

Encosto a cabeça no vidro e sussurro:

- É só mais um passo, Claire. Um de cada vez.

🌹

Depois de uns quarenta minutos e um pequeno engarrafamento, o carro para em frente ao edifício.

Meus olhos vão direto para a construção.

Não é um arranha-céu, mas tem imponência.

As janelas de vidro refletem a luz do dia, e a fachada moderna transmite elegância e solidez.

Suspiro e aperto a alça da bolsa.

Vai dar tudo certo! - penso, mais para me convencer do que por confiança real.

Pago a corrida e saio, ainda hesitante.

Dou alguns passos, observando o entorno: homens de terno apressados, mulheres equilibrando café e celular, mochilas correndo para o metrô.

A cidade nunca desacelera.

Volto meu olhar para o prédio e vejo a placa metálica brilhante acima da entrada:

GRUPO KING

"Projetamos ideias, construímos sonhos."

Fico encarando a frase por alguns segundos. Ela soa mais significativa do que deveria. Projetar ideias, construir sonhos... Será que o meu está prestes a se realizar aqui?

Através das portas de vidro, vejo pessoas entrando: homens de terno impecável, mulheres com vestidos sociais e saltos que ecoam no chão brilhante.

Algumas delas são mais maduras, seguras e confiantes.

Gente que parece ter anos de experiência - e currículos muito mais impressionantes que o meu.

Meu estômago revira, e não é por gastrite.

Qual é o problema, Claire? Você só vai entregar um currículo.

Mas não consigo ignorar: qualquer uma daquelas mulheres pode estar concorrendo à mesma vaga - e, se estiver, talvez já tenha vencido antes de começar.

Respiro fundo, aperto a bolsa contra o corpo.

- Ok... - murmuro, endireitando a postura.

Caminho em direção às portas giratórias com o máximo de firmeza que consigo.

Só ouço o tum... tum... tum... - não sei dizer se são minhas botas batendo no chão ou meu coração esmurrando meu peito.

- Bom dia! - digo para o segurança, um verdadeiro armário ao lado das portas.

Ele apenas acena com a cabeça.

Passo pela porta e, de repente...

- Ai! - exclamo quando sou atingida de volta.

Dou alguns passos para trás, encarando a porta do mal.

- A porta está bloqueada - diz o segurança, sem emoção.

Olho para ele, confusa. Ele ergue o dedo em direção a uma placa bem no meio:

"Por favor, deposite objetos metálicos, chaves e celulares nas urnas laterais."

Olho para o lado e vejo a urna transparente.

Ofereço um sorriso sem graça.

- Deve ser a faca que sempre carrego comigo... - ele ergue as sobrancelhas e eu quase engasgo. - Puta merda, Claire! - penso. De onde eu tirei isso?

- Desculpa! Não tenho faca nenhuma! É só nervosismo. - Já abro a bolsa para mostrar, mas ele ergue a mão, dispensando.

- Apenas deposite os objetos e passe novamente.

- Sim, claro! - digo rápido, sorrindo como se nada tivesse acontecido. - Obrigada e... bom dia de novo.

Dessa vez, não recebo aceno algum.

Deposito os objetos, passo pela porta e respiro aliviada.

Recolho minhas coisas do outro lado.

A recepção é enorme, com balcão oval em mármore, o nome e o slogan da empresa brilhando na frente.

Cinco recepcionistas atendem ao mesmo tempo.

As paredes brancas estão cobertas de fotos: canteiros de obra, inaugurações, prédios que tocam o céu, resorts luxuosos. Algumas imagens são em preto e branco; outras, recentes.

- Que empresa é essa? - murmuro. - Grupo King? Nunca ouvi falar. Parece antiga.

Pego o celular para conferir a hora: nove e meia.

Aproveito e pesquiso no Google:

"Grupo King. Empresa de engenharia e arquitetura fundada em 1940 pelos irmãos Rudolph e Wesley King. Wesley morreu em um acidente de carro aos 37 anos, deixando Rudolph sozinho à frente dos negócios. A empresa continua sendo liderada pela família King..."

Minha boca seca.

Eu sabia que era uma empresa grande, mas não tão tradicional.

Um lugar que parece feito apenas para sobrenomes importantes ou gente com décadas de experiência.

- Engenharia e arquitetura... Meu Deus, eu não entendo nada disso! - sussurro.

Envio uma mensagem rápida para Amber:

Claire: Amber, já estou aqui.

Amber: Oi! Que bom! Já entregou o currículo?

Claire: Não!

Claire: Você conhece a empresa?

Amber: Não. Por quê?

Claire: Grupo King. Antiga, de engenharia e arquitetura.

Amber: Grupo King? 😳

Meu Deus, Claire! Já ouvi falar muito, sim. Meu pai às vezes comenta, mas nunca presto atenção.

Amber: Aconteceu alguma coisa?

Claire: Eu não sei nada sobre engenharia ou arquitetura.

Amber: Hahahaha! Clarissa, isso é ridículo! 😂

Claire: Eu só tô com medo... E acredita que bati a cara na porta giratória? 🙈

Amber: Hahaha! Vai lá, amiga, o tempo tá passando. Você vai conseguir! 💪 Eu tenho que trabalhar agora.

Sinto uma pontada no peito ao ouvir a última frase.

Tomara que em breve eu também possa dizer isso.

Claire: Tchau, Amber! Bom trabalho!

Amber: Tchau, Claire! Boa sorte! 🍀

            
            

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