Senhor King
img img Senhor King img Capítulo 5 Sr. King
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Capítulo 6 Quem é esse tal de Senhor King img
Capítulo 7 Grosseiro. Idiota. Metido! img
Capítulo 8 Eu não vou continuar assim. img
Capítulo 9 Como foi a entrevista img
Capítulo 10 Não lembro a última vez que alguém me olhou assim. img
Capítulo 11 Não deixe que ninguém te faça pensar diferente disso. img
Capítulo 12 Eu sou a próxima img
Capítulo 13 Trouxe café img
Capítulo 14 Só pense a respeito img
Capítulo 15 Ponto de vista do Sr. King img
Capítulo 16 Ponto de vista do Sr. King (parte 2) img
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Capítulo 5 Sr. King

O mármore claro, quase branco, com veios dourados, parece brilhar sob as luzes do teto.

O balcão é enorme e imponente - quase intimidador. As recepcionistas trabalham freneticamente: uma atende ao telefone enquanto faz anotações, outra digita furiosamente no computador, e as demais se dividem entre atender visitantes, organizar documentos e receber pacotes.

Pelo que estou vendo, não é aqui que estão precisando de funcionários... - penso, aliviada.

Aproximo-me do balcão e observo por um momento, tentando decidir com qual delas devo falar. Espero que alguém olhe para mim, mas todas parecem ocupadas demais.

- Próximo! - diz uma delas, sem nem levantar os olhos.

Dou um passo à frente.

- Bom dia! Eu... vim entregar um currículo.

Agora sim, ela levanta os olhos. É uma mulher de cabelo preso em um coque impecável e maquiagem perfeita. Seu olhar avalia minha roupa rapidamente - nada muito óbvio, mas eu percebo.

- Preciso do documento de identificação pessoal. - responde, já com os dedos posicionados no teclado.

Rapidamente abro minha bolsa, retiro a identidade do pequeno bolso interno e a entrego.

Ela coloca o documento sobre o balcão e digita com rapidez, sem dizer nada. Meu olhar vagueia até um pequeno arranjo de flores. As pétalas das rosas brancas já começam a murchar.

Será que ela sempre parece tão impaciente, ou fui eu que causei essa reação? --- Penso

Depois de alguns minutos, ouço um bip e volto a encará-la. Ela retira algo da parte inferior do balcão.

- Aqui está. - estende um crachá com a palavra Visitante e um código QR abaixo.

- Ok... - respondo, pegando-o.

- Quando sair, devolva o crachá na recepção. O departamento de RH fica no sexto andar. - continua, sem emoção. - Lá em cima, avise que veio entregar um currículo. Eles vão direcioná-la à pessoa responsável.

- Mais alguma coisa? - pergunta, com o carisma de um muro.

- Não, obrigada. Tenha um bom dia! - digo, forçando simpatia antes de seguir até a portaria.

As catracas são revestidas de mármore, com colunas de cerca de um metro de altura. Em cima de cada uma, há um pequeno aparelho que reconhece o crachá.

Encosto o meu.

- Bip. - Uma luz verde acende.

- Caminho livre... - murmuro, com um meio sorriso.

Enfim, estou dentro do Grupo King.

O hall é sofisticado. O piso de porcelanato grafite é tão brilhante que consigo ver meu reflexo. As paredes misturam tons de cinza claro e bege. Vasos enormes de plantas ocupam cada canto. No centro, uma escada de mármore cinza, cercada por vidro, conduz ao segundo andar.

No topo da escada, o andar se abre em formato de "U", acolhendo os últimos - ou primeiros - degraus, como se fosse um palco elevado.

Toda a meia-lua é cercada por vidro e metal, revelando e escondendo ao mesmo tempo. Dá para observar o que acontece lá dentro, mas a estrutura abafa os sons, como se o lugar tivesse sua própria atmosfera.

Olho para baixo e vejo quatro elevadores. Caminho até eles.

- Sexto andar... - repito a informação, apertando o botão.

Quase um minuto depois, o ding suave anuncia a chegada. Respiro fundo e entro. Aperto o número seis. As portas se fecham, e percebo que estou sozinha.

Meu coração acelera, as mãos ficam úmidas.

- Eu não sou claustrofóbica! - digo alto, irritada comigo mesma. Lanço um olhar para a câmera no canto. Devem achar que sou louca.

O cheiro de limpeza invade minhas narinas. Algo frio encosta na minha pele - o crachá ainda está na mão. Penduro-o no pescoço.

Respiro fundo, tentando relaxar. O elevador para no quinto andar com outro ding. Algumas pessoas entram, conversando entre si.

Poucos me olham. Ninguém deseja bom dia.

- Bom dia! - arrisco, sem emoção.

Alguns murmuram de volta. Eles falam sobre assuntos que não entendo, mas uma palavra chama minha atenção:

- ...Sr. King...

Quero ouvir mais, mas as portas se abrem no sexto andar.

O departamento de RH está movimentado. Salas espalhadas por todos os lados e um balcão central de recepção. A decoração é semelhante à do hall, mas menos suntuosa.

Endireito a postura e caminho até a recepção. Sou recebida, dessa vez, com um sorriso cortês.

- Bom dia! Como posso ajudar? - pergunta uma mulher de cabelos loiros em corte chanel, aparentando mais de quarenta anos. No crachá, leio: Mary.

- Bom dia! Eu estou aqui pelas vagas. - entrego a pasta transparente com meu currículo.

- Como a maioria aqui hoje. - responde com leve humor. - Mais cedo estava um caos. Agora está mais tranquilo. - acena em direção às cadeiras.

A maioria das pessoas ali... mulheres.

- Todas essas estão esperando para entregar currículos? - pergunto, preocupada com o tempo. Só o café da manhã está no meu estômago.

- Ah, não! - ri. - Essas já foram chamadas para a entrevista.

Franzo a testa. Ela percebe.

- Hoje é o último dia para entrega de currículos. - explica. - Estamos nesse ritmo desde a semana passada.

Ouvir que dezenas de pessoas já estiveram aqui - antes de mim - embrulha meu estômago. Talvez todas as vagas possíveis já tenham sido preenchidas.

Suspiro, tentando afastar o desânimo.

- Aqui. - Mary desliza uma folha pelo balcão. - Preencha essa ficha. Depois, vou anexá-la ao seu currículo e entregar à responsável.

Ela aponta para uma porta de vidro fosco com a plaquinha RH.

- Pode me emprestar uma caneta? - peço.

- Claro! - me entrega uma. - Pode se sentar ali.

Aponta para uma poltrona giratória de couro preto. Caminho até lá, me sento e apoio a folha sobre a mesinha.

Casada? Filhos? Disponibilidade de tempo? Disponibilidade para viajar? Trabalha sob pressão? Temperamento? Defeitos? Qualidades? Alergias...

- Estou preenchendo uma ficha de emprego ou de site de relacionamentos? - murmuro.

Quando termino, volto até a recepção. Mary está conversando com outra funcionária.

- Disseram que o Sr. King já está soltando fumaça pelo nariz. - comenta a mulher.

- O que ele estava esperando? - retruca Mary, rindo. - Ele faz isso praticamente todo mês.

As duas percebem minha presença e se calam. A mulher se despede e sai.

- Aqui está. - entrego a ficha e o currículo. Mary os grampeia.

- O Sr. King é o dono da empresa? - pergunto, sem pensar.

Ela arqueia uma sobrancelha.

- Sim. Acho que é meio óbvio, não?

- Claro... - respondo, corando.

Ela suaviza o tom:

- Se você for selecionada para entrevista, alguém do RH vai ligar para o número que colocou na ficha. As ligações são feitas dentro do horário comercial, entre sete da manhã e cinco da tarde.

- Ok. Obrigada.

- De nada. E boa sorte! - diz com um sorriso.

Retribuo, guardando o nome no crachá.

Mary.

Pequenas gentilezas devem ser lembradas.

                         

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