Pelo que estou vendo, não é aqui que estão precisando de funcionários... - penso, aliviada.
Aproximo-me do balcão e observo por um momento, tentando decidir com qual delas devo falar. Espero que alguém olhe para mim, mas todas parecem ocupadas demais.
- Próximo! - diz uma delas, sem nem levantar os olhos.
Dou um passo à frente.
- Bom dia! Eu... vim entregar um currículo.
Agora sim, ela levanta os olhos. É uma mulher de cabelo preso em um coque impecável e maquiagem perfeita. Seu olhar avalia minha roupa rapidamente - nada muito óbvio, mas eu percebo.
- Preciso do documento de identificação pessoal. - responde, já com os dedos posicionados no teclado.
Rapidamente abro minha bolsa, retiro a identidade do pequeno bolso interno e a entrego.
Ela coloca o documento sobre o balcão e digita com rapidez, sem dizer nada. Meu olhar vagueia até um pequeno arranjo de flores. As pétalas das rosas brancas já começam a murchar.
Será que ela sempre parece tão impaciente, ou fui eu que causei essa reação? --- Penso
Depois de alguns minutos, ouço um bip e volto a encará-la. Ela retira algo da parte inferior do balcão.
- Aqui está. - estende um crachá com a palavra Visitante e um código QR abaixo.
- Ok... - respondo, pegando-o.
- Quando sair, devolva o crachá na recepção. O departamento de RH fica no sexto andar. - continua, sem emoção. - Lá em cima, avise que veio entregar um currículo. Eles vão direcioná-la à pessoa responsável.
- Mais alguma coisa? - pergunta, com o carisma de um muro.
- Não, obrigada. Tenha um bom dia! - digo, forçando simpatia antes de seguir até a portaria.
As catracas são revestidas de mármore, com colunas de cerca de um metro de altura. Em cima de cada uma, há um pequeno aparelho que reconhece o crachá.
Encosto o meu.
- Bip. - Uma luz verde acende.
- Caminho livre... - murmuro, com um meio sorriso.
Enfim, estou dentro do Grupo King.
O hall é sofisticado. O piso de porcelanato grafite é tão brilhante que consigo ver meu reflexo. As paredes misturam tons de cinza claro e bege. Vasos enormes de plantas ocupam cada canto. No centro, uma escada de mármore cinza, cercada por vidro, conduz ao segundo andar.
No topo da escada, o andar se abre em formato de "U", acolhendo os últimos - ou primeiros - degraus, como se fosse um palco elevado.
Toda a meia-lua é cercada por vidro e metal, revelando e escondendo ao mesmo tempo. Dá para observar o que acontece lá dentro, mas a estrutura abafa os sons, como se o lugar tivesse sua própria atmosfera.
Olho para baixo e vejo quatro elevadores. Caminho até eles.
- Sexto andar... - repito a informação, apertando o botão.
Quase um minuto depois, o ding suave anuncia a chegada. Respiro fundo e entro. Aperto o número seis. As portas se fecham, e percebo que estou sozinha.
Meu coração acelera, as mãos ficam úmidas.
- Eu não sou claustrofóbica! - digo alto, irritada comigo mesma. Lanço um olhar para a câmera no canto. Devem achar que sou louca.
O cheiro de limpeza invade minhas narinas. Algo frio encosta na minha pele - o crachá ainda está na mão. Penduro-o no pescoço.
Respiro fundo, tentando relaxar. O elevador para no quinto andar com outro ding. Algumas pessoas entram, conversando entre si.
Poucos me olham. Ninguém deseja bom dia.
- Bom dia! - arrisco, sem emoção.
Alguns murmuram de volta. Eles falam sobre assuntos que não entendo, mas uma palavra chama minha atenção:
- ...Sr. King...
Quero ouvir mais, mas as portas se abrem no sexto andar.
O departamento de RH está movimentado. Salas espalhadas por todos os lados e um balcão central de recepção. A decoração é semelhante à do hall, mas menos suntuosa.
Endireito a postura e caminho até a recepção. Sou recebida, dessa vez, com um sorriso cortês.
- Bom dia! Como posso ajudar? - pergunta uma mulher de cabelos loiros em corte chanel, aparentando mais de quarenta anos. No crachá, leio: Mary.
- Bom dia! Eu estou aqui pelas vagas. - entrego a pasta transparente com meu currículo.
- Como a maioria aqui hoje. - responde com leve humor. - Mais cedo estava um caos. Agora está mais tranquilo. - acena em direção às cadeiras.
A maioria das pessoas ali... mulheres.
- Todas essas estão esperando para entregar currículos? - pergunto, preocupada com o tempo. Só o café da manhã está no meu estômago.
- Ah, não! - ri. - Essas já foram chamadas para a entrevista.
Franzo a testa. Ela percebe.
- Hoje é o último dia para entrega de currículos. - explica. - Estamos nesse ritmo desde a semana passada.
Ouvir que dezenas de pessoas já estiveram aqui - antes de mim - embrulha meu estômago. Talvez todas as vagas possíveis já tenham sido preenchidas.
Suspiro, tentando afastar o desânimo.
- Aqui. - Mary desliza uma folha pelo balcão. - Preencha essa ficha. Depois, vou anexá-la ao seu currículo e entregar à responsável.
Ela aponta para uma porta de vidro fosco com a plaquinha RH.
- Pode me emprestar uma caneta? - peço.
- Claro! - me entrega uma. - Pode se sentar ali.
Aponta para uma poltrona giratória de couro preto. Caminho até lá, me sento e apoio a folha sobre a mesinha.
Casada? Filhos? Disponibilidade de tempo? Disponibilidade para viajar? Trabalha sob pressão? Temperamento? Defeitos? Qualidades? Alergias...
- Estou preenchendo uma ficha de emprego ou de site de relacionamentos? - murmuro.
Quando termino, volto até a recepção. Mary está conversando com outra funcionária.
- Disseram que o Sr. King já está soltando fumaça pelo nariz. - comenta a mulher.
- O que ele estava esperando? - retruca Mary, rindo. - Ele faz isso praticamente todo mês.
As duas percebem minha presença e se calam. A mulher se despede e sai.
- Aqui está. - entrego a ficha e o currículo. Mary os grampeia.
- O Sr. King é o dono da empresa? - pergunto, sem pensar.
Ela arqueia uma sobrancelha.
- Sim. Acho que é meio óbvio, não?
- Claro... - respondo, corando.
Ela suaviza o tom:
- Se você for selecionada para entrevista, alguém do RH vai ligar para o número que colocou na ficha. As ligações são feitas dentro do horário comercial, entre sete da manhã e cinco da tarde.
- Ok. Obrigada.
- De nada. E boa sorte! - diz com um sorriso.
Retribuo, guardando o nome no crachá.
Mary.
Pequenas gentilezas devem ser lembradas.